domingo, 22 de abril de 2018

“O Burrinho Pedrês” – conto de “Sagarana” – de João Guimarães Rosa – Raimundo é da opinião de que o desentendimento entre Silvino e Badú não dará em nada; a namorada, motivo da discórdia, “serve”; o major não se conformou com o mau negócio feito por Silvino em seu afã de retornar para a sua terra; voltando a falar do zebu Calundú em terras de Neco Borges

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_3.html antes de ler esta postagem:

Raimundo não concordou com a ideia de que a “história de Silvino e Badú” pudesse “arruinar” (dar em desgraça)...
Disse que era natural que houvesse raiva entre os dois, mas aquilo acabaria esfriando naturalmente. O moço lembrou que fazia apenas dois meses que Badú tinha chegado à Tampa e aconteceu de tomar a namorada de Silvino...
Silvino passou a pirraçar, e é por isso que as coisas não estavam bem... Para Raimundo, o companheiro devia desprezar, “fazer cara para o outro lado”... Mas ele entendia também que os dois tinham suas razões ao mesmo tempo em que estavam errados... O caso era difícil e ele mesmo não queria dar palpites.
O patrão quis saber se a moça era bonita... Raimundo respondeu que, apesar de ser “meio caolha”, “serve”. Disse também que Badú já tinha até marcado casamento e era por isso que não queria saber de confusão com Silvino.
A respeito do moço traído, Raimundo disse que ele também já estava mais sossegado e até andava falando que pretendia retornar à sua terra, Curamataí, onde tinha outra noiva que o aguardava.
Essa decisão parecia séria, pois o moço tinha vendido as suas quatro vacas. Major Saulo se surpreendeu e manifestou que o momento não era propício, pois o pasto estava bem melhor... Além disso, ele sabia que uma das vacas do rapaz estava para dar cria.
Raimundo explicou que essa foi vendida a um preço melhor (quatrocentos) e que as outras saíram a trezentos e a trezentos e cinquenta. Neste ponto, o Major Saulo mostrou-se contrariado porque o vaqueiro vendeu seus animais por tão pouco que o correto seria oferecê-los a ele em primeiro lugar. Principalmente porque permitia que os homens utilizassem seus pastos sem cobrar um centavo... Ele lembrou que só quando os vaqueiros já possuíam mais de doze cabeças é que “cobrava à meia”.
O patrão ficou mesmo indignado. Lembrou que Silvino podia manter suas vacas e levá-las à sua terra, onde certamente conseguiria um negócio melhor.
Raimundo quis contemporizar... Disse que o rapaz tinha pressa de resolver sua condição e ficou acanhado de tratar com o patrão a respeito. O major respondeu que podia ter sido isso, mas não tinha dúvida de que o negócio saíra mal feito.
(...)
Será que Raimundo podia dizer algo mais a respeito do que Silvino lhe dissera? O patrão quis saber, mas o moço respondeu que o outro nada mais lhe dissera... Falou que ele até andava meio quieto e gostando de saber das conversas que os outros tinham com Badú.
O Major Saulo comentou que era muito bom se distrair-se numa boa prosa enquanto tocavam a boiada. Depois perguntou ao Raimundo o que ele esteve contando aos homens e, entre eles, ao Badú...
Raimundo disse que falara de assuntos bobos... A respeito do Calundú...
No mesmo instante o major emendou que aquele zebu era terrível, que matou o filho do fazendeiro Neco Borges. Raimundo confirmou e fez um comentário sobre o finado Vadico, “menino bom, aquele!”

(...)

O major sabia que Raimundo havia trabalhado nas terras do Borges e quis saber se ele gostava do rapaz... A respeito de Vadico, Raimundo tinha a dizer que o moço era muito bom, um “coração de anjo”... Gostava de todo mundo e todos gostavam dele... E era bom também para as criações, pois não aceitava que ninguém judiasse dos bichos.
No mais, Raimundo garantiu que o Vadico queria se tornar boiadeiro como todos de seu convívio. Inclusive houve certo dia em que, aborrecido, lhe confidenciara que não queria ir para o colégio... Queria mesmo era a vida da fazenda, nem que um dia fosse pisado pelas vacas...
Sua morte foi uma das maiores tragédias que Raimundo conhecia.
Mas a esse respeito saberemos na próxima postagem.
Leia: O Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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