No derradeiro instante o Major Saulo espantou-se ao notar um exemplar que considerou belo demais para seguir a viagem, “boi esguio” de uma pelagem magnífica... Preto-azulado... Não é que estava seguindo com os demais para o corte? Como deixaram passar! Era preciso saber se era capão (castrado e destinado ao corte).
O patrão viu que se tratava de um roncolho, já que as passadas do animal permitiam notar que só possuía um testículo. Nem isso diminuiu sua admiração, o bicho era mesmo bonito, “um bicho de Deus”.
Um dos vaqueiros sentenciou que só de longe o boi era bonito... De perto não chamava a atenção e sua cor era “mais trivial”. O major insistiu que o boi devia permanecer na Tampa, e brincou que não o queria “para ser Francolim”, que não saia de perto... Disse isso, soltou sua característica risada e decidiu que era momento de partir.
(...)
À
distância, o Major Saulo gritou ao Sebastião para que iniciasse a saída...
Depois voltou-se para o compadre Manico para animá-lo a tocar o burrico.
Sebastião entrou no
curral, apressou o grupo e gritou que os cavaleiros deviam “fazer parede”... Alheio
às ordens, Sete-de-Ouros começou com suas passadas preguiçosas, como se
estivesse a carregar grandes pesos.
Zé
grande soprou o berrante e logo os demais se posicionaram em duas alas,,, Assim
formaram as paredes que permitiria que o gado passasse pela “xiringa”. Sinoca
adiantou-se para abrir a porteira. Leofredo posicionou-se para fazer a
contagem.
Ele reclamou que os
companheiros deviam estreitar mais a passagem para facilitar seu trabalho...
Logo o rebanho se movimentou tal como as águas violentas da represa que
estourou...
Os primeiros animais
retiram-se de modo estabanado e indeciso e alguns deram saltos como se fossem
antílopes em fuga... A quantidade era mesmo estupenda e para animá-los a prosseguir
os vaqueiros ditavam o aboio: “Hê boi! Hê boi! Hê boi-hê boi-he boi!”
Passaram uns cem e o major não se distraía de modo algum... De repente
percebeu um bezerro magro e deu ordem para retirá-lo, pois “não pesava nada”...
Logo surgiu um “mestiço da Uberaba” irrequieto e pronto para confusões... Os
vaqueiros conheciam bem aquele tipo de chifres tortos e orelhas grandes... Por
isso Tote acomodou seu cavalo de modo a intimidar o bronco.
(...)
O fluxo prosseguiu...
Os bois formavam uma massa em movimento... Pisoteavam
e levantavam a lama que sujava suas ancas... Não demorou e a passagem e o ritmo
dos animais se tornaram mais seguros. Os vaqueiros prosseguiram com os seus
aboios ao mesmo tempo em que folgavam mais as paredes.
Quatrocentos e
sessenta foi a quantidade anunciada ao Major Saulo.
O homem aprovou e deu ordem para que Leofredo e Badú, que eram os mais
avançados nos flancos, tocassem em frente. Atrás de Leofredo seguiam Tote,
Sinoca e Benevides. Com Badú iam Juca Bananeira, Silvino e Raymundão.
Adiantados
mesmo seguiam Zé Grande a tocar o berrante, e Sebastião a saltar os aboios da
garganta... “Eêêê, bo-oi!”
(...)
O patrão partiu
proferindo elogios à boiada...
João
Manico não se cansava de desabafar impropérios contra o “burrico miserável”...
Sete-de-Ouros nem
percebia que o vaqueiro tentava cravar-lhe as esporas... Seguiu abanando a
cabeça e com as orelhas amolecidas... Como montaria não era “nada macio”.
(...)
O toque do berrante
levou os vaqueiros às cantigas...
O autor evidencia
algumas estrofes... Segue a primeira delas:
“O
Curvelo vale um conto,
Cordisburgo
um conto e cem.
Mas
as Lages não têm preço,
Porque
lá mora o meu bem. .. “
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_13.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto