A tempestade se aproximava...
Nadine fez questão de mostrar que estava irritada. Estava claro que o casal não se entendia e que os pontos de vista de um e os da outra pareciam não ter vínculo algum. Mas ficou evidente que a discussão a respeito do livro que Lambert lia era apenas um pretexto para extravasarem o sentimento de insegurança que amargavam.
(...)
Entediada, Nadine pediu a
chave da máquina garantindo que poderia passear sozinha de moto pela floresta.
Lambert respondeu que não permitiria porque, além de ela não saber pilotar, a
região poderia ficar muito perigosa por causa da chuva que cairia.
A briga começou... Nadine gritou que estava claro que
ele não se importava com a sua segurança e que, mais que isso, egoísta como era,
não queria “dividir a motocicleta”... Exigiu a chave, mas Lambert nada disse. A
moça jogou o cesto para Anne ao mesmo tempo em que sentenciava que o ambiente
estava muito desagradável por ali e, assim sendo, o melhor que tinha a fazer
era passar o dia em Paris...
Ficou claro que o desfecho era pesado demais para Lambert. Ele sabia que
a namorada se encontraria com amigos que ele não aprovava... Tinha certeza de
que ela se ofereceria a eles.
(...)
A moça se retirou... Então Lambert principiou um
desabafo com Anne... Ele procurou se justificar ao dizer que Nadine podia levar
mais em consideração os seus sentimentos... Anne o consolou dando a entender
que sua filha era a culpada, já que “por um nada” se irritava.

Lambert falou com convicção que amava Nadine... Anne argumentou que
talvez ela não estivesse tão segura a este respeito... Talvez se sentisse comparada
à Rosa... O moço rebateu aquela hipótese declarando que o seu sentimento por
Nadine era muito maior do que havia cultivado por Rosa.
Anne o fez refletir sobre a necessidade de Nadine ouvir dele aquelas
afirmações... Lambert disse que aquelas coisas eram indizíveis e que o mais
natural seria Nadine perceber, até porque ela sabia que o último ano de sua
existência havia sido de total devoção a ela... Anne quis que ele entendesse
que, para a sua filha, aquilo podia não passar de mera camaradagem.
(...)
Por incrível que pareça, Lambert argumentou que a namorada sempre
demonstrava insatisfação durante as noites em que nada de “mais quente” se
passava entre eles... Recordando-se da conversa com Nadine, Anne perguntou ao
moço se era assim mesmo, se era Nadine quem se oferecia e exigia os “contatos
mais quentes”.
Lambert confirmou o assédio de Nadine... A
contradição entre o que cada um dizia era evidente... Anne tentou esclarecer
que Nadine era mal resolvida em relação à sua feminilidade (falou sobre “sensação
de mutilação”) e sugeriu que Lambert se esforçasse por se tornar mais paciente.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto