A troca de insultos e injúrias entre o rei e a rainha prosseguiu.
O dia tornou-se chuvoso como consequência da irritação de Zeus com o desentendimento do casal que parecia não ter fim...
Ela gritou “Que Atena o deixe ignorante, sem conhecimentos!”; ele devolveu “Que Zéfiro a sopre daqui para outro mundo!”...
(...)
E foi nesse momento que o próprio Zéfiro apareceu para
ambos. Chegou como se fosse mensageiro comum, e começou a se comunicar através
de suas rimas... Disse que deviam parar com as ofensas, pois até Zeus se
manifestava lançando forte intempérie sobre a região. Depois esclareceu que
tinha um compromisso ali, já que havia chegado para levar suas filhas ao
castelo de Psique.
Essas palavras serviram como que um freio às trocas de agressões, pois o
rei e a rainha quiseram saber se o outro podia revelar-lhes algo sobre a
caçula. A divindade respondeu afirmativamente e entregou uma carta da própria
Psique ao pai.
Sabemos que isso só era possível graças ao domínio que
ela tinha do alfabeto fenício.
(...)
Em síntese a mensagem esclarecia que as notícias não haviam sido
enviadas antes porque Zéfiro andava muito ocupado; revelava que o início do
casamento havia sido de muitas dificuldades, mas com o passar do tempo a
situação mudou e ela se sentia muito feliz; definia o marido como bom e
generoso; a montanha mágica e o palácio
“perdido no tempo” eram perfeitos.
A carta também fazia referências positivas aos empregados egípcios. Mas
o trecho mais importante era um em que Psique anunciava que seu marido autorizava
a visita de Téssora e Magnetes...
(...)
Sem dúvida as notícias eram bem positivas, mas o rei não pôde deixar de
protestar sobre a filha não se referir nem a ele e nem à rainha, que também
desejavam visitá-la. Então Zéfiro esclareceu que ele não teria condições de
carregar tantos de uma só vez... A rainha notou o modo como o mensageiro
explicava a própria função, então lhe perguntou sobre sua identidade, já que
falava como se fosse dotado de asas.
Zéfiro respondeu que não tinha asas, mas podia viajar rapidamente pelos continentes.
Imediatamente o rei se ajoelhou por ter reconhecido o deus do Vento. A
divindade esclareceu que “sim”, estava ali “em ar e osso”, mas fez questão de dizer
que a reverência era desnecessária e que as duas filhas deviam ser chamadas
imediatamente para serem conduzidas ao Egito Antigo.
(...)
Mais uma vez Zéfiro se viu
embaraçado por se referir ao tempo passado em que Psique se encontrava (2.500
antes de Cristo)... Rei e rainha perguntaram quem era Cristo... Ele nada
respondeu e, em vez disso, advertiu-se por não controlar a língua, pois
certamente Zeus poderia castigá-lo transformando-o “num corvo que fala
poesia”... Ou então não lhe forneceria mais “ingressos para assistir aos jogos
do Maracanã”.
É claro que também
essa última frase deixou o rei e a rainha espantados. Zéfiro se saiu com mais
uma de suas piadinhas, dessa vez fazendo insinuações sobre os jogos de futebol
naquele estádio; fez comparação entre esses jogos e os do Coliseu; fez graça
com o tradicional time do Flamengo que, em sua opinião, apesar de realizar
jogos interessantes, seria formado por “pernas de pau” (o autor brinca ao
afirmar que Zéfiro vestia uma “camisa do Vasco da Gama - que é outro
tradicional clube de futebol do Rio de Janeiro - por baixo da bata de deus
grego”).
O rei voltou à carga... Perguntou se não seria possível levar a rainha
para visitar Psique... Zéfiro esclareceu (mais uma vez com rimas e de modo espirituoso)
que as duas irmãs eram bem leves, mas a rainha tinha um peso avantajado. Disse
que certa vez, quando carregava uma rainha pesada como ela, deixou-a cair sobre
a esfinge (que acabou quebrando o nariz)... Emendou que ela ficou muito
irritada e quase o mordeu. Por causa disso, sempre que se aproxima dela, ela o
desafia com charadas.
O rei ficou curioso e quis
saber mais... Então Zéfiro destacou uma das perguntas que a Esfinge lhe sugeriu:
“Qual a semelhança entre a
nuvem e Afrodite?” Ele disse que resolveu facilmente aquele desafio ao responder
que “quando elas somem o dia fica lindo”.
O encontro tornou-se agradável, rei e rainha
estavam se divertindo muito... Mas Zéfiro explicou que devia levar as princesas
imediatamente.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/01/eros-e-psique-partir-de-texto-de-joao_14.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Um abraço,
Prof.Gilberto