quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - kachigumi x makegumi

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/01/coracoes-sujos-de-fernando-morais_18.html antes de ler esta postagem:

Não se falou em “rendição” ou “derrota” no documento... Mas o mundo inteiro tinha conhecimento dos resultados... O Japão foi derrotado e estava ocupado militarmente...
No Brasil, porém, isso não era evidente para todos da colônia nipônica. Ela estava claramente dividida... Parcela significativa era da mesma opinião de Junji Kikawa e, para ela, o Japão era o vencedor, já que "em 2600 anos nunca perdera nenhuma guerra"; "se a derrota tivesse ocorrido, os 100 milhões de japoneses teriam se suicidado"... Os que assim pensavam eram os “vitoristas”, que se autodenominavam kachigumi. A minoria da colônia japonesa reconhecia a derrota de seu país nos conflitos... Esses eram os “derrotistas” ou “esclarecidos”, conhecidos como makegumi. Corações Sujos destaca que enquanto os kachigumi eram trabalhadores mais simples, que alimentavam o desejo de retornar à pátria, os makegumi tinham condição cultural e econômica mais elevada, falavam português, eram integrados à sociedade e haviam se estabelecido no Brasil sem interesses de retornar para o Japão.
As autoridades policiais logo levantaram informações sobre o quão mais problemático era a situação de divisão entre os japoneses... O delegado Antônio Dourado, da cidade de Pompéia (também nas proximidades de Marília) apreendeu documentos comprometedores com o nacionalista kachigumi Massayuki Kawasaki... Não é que o grupo de Kawasaki possuía cópias de “Rescritos Imperiais” destinados à colônia japonesa? Os papéis possuíam selo e assinatura imperiais... Idênticos aos originais! Um deles datava de 3 de agosto e o outro de 17 de agosto de 1945 (os documentos faziam referência ao vigésimo ano da Era Showa). Enquanto que a primeira mensagem era de incentivos para que os sofrimentos provocados pela guerra fossem suportados, que uns ajudassem aos outros e que o espírito do Yamatodamashii fosse conservado; o segundo, com data posterior ao final da guerra, revelava um texto em que o imperador estimulava suas tropas de “terra e mar” a atingirem os objetivos (?)
A polícia descobriu que falsários kachigumi elaboraram as peças que forjaram a assinatura e o selo imperial... Elaboraram milhares de cópias, que haviam sido distribuídas em meio à colônia nipônica. As fraudes não paravam por aí, já que até notícias e fotografias falsas circulavam entre os japoneses no Brasil...
Um dos folhetos distribuídos à comunidade noticiava a chegada de uma triunfante esquadra ao porto de Santos para o dia 11 de setembro de 1945 com a missão de repatriar os japoneses que viviam por aqui. De diversas partes do interior paulista afluíram japoneses impulsionados por essa falsa notícia. Milhares seguiram para Santos... Em vão, aguardaram a chegada dos navios... Depois anunciaram que a esquadra aportaria no Rio de Janeiro no dia 24...
Esses episódios colocaram os japoneses em situação vexatória... Alguns makegumi sentiam-se envergonhados com tudo aquilo e concordaram que era necessário colocar um fim naqueles excessos. Então recorreram às autoridades policiais e iniciaram uma campanha de esclarecimentos aos iludidos kachigumi.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/01/coracoes-sujos-de-fernando-morais_21.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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