domingo, 27 de maio de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – intervenção do Comando na discussão dos guerrilheiros; Sem Medo reforça a advertência sobre a punição por ataques aos trabalhadores; Muatiânvua era mesmo dado a comentários irresponsáveis?; Ekuikui, o caçador; reflexões de Lutamos sobre suas origens e a ausência do povo na guerra

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/05/mayombe-de-pepetela-mais-sobre-o.html antes de ler esta postagem:

O guerrilheiro Milagre observava Lutamos.
Ele queria ver como o rapaz reagiria às palavras de Muatiânvua. Embora Lutamos se sentisse ofendido, nada respondeu.
Milagre dirigiu-se ao Comissário e quis saber qual era a sua opinião.
(...)
O Comissário respondeu que não havia tempo para mais conversas e que deviam prosseguir. Garantiu que no momento propício voltariam a falar a respeito daquele assunto. Alertou que ninguém estava autorizado a atacar os trabalhadores, ou “qualquer homem do povo”.
O comandante Sem Medo interveio dizendo que Muatiânvua estava brincando ao dizer aquelas coisas ao Lutamos. Falou que o camarada era “lumpem”* e que “os lupens gostam sempre de brincar com coisas sérias”.

                  * Neste ponto é preciso levar em consideração que o Comandante fez a referência com base no conceito marxista em relação àqueles que, além de sofrerem com as péssimas condições de vida e trabalho, não têm consciência a respeito da necessidade de organização de classe e de unidade na luta contra a exploração.

Enquanto Sem Medo falou, Muatiânvua sorriu e acendeu um cigarro. Depois olhou para o Lutamos e deu uma piscadela... Seria uma provocação ou o Comandante tinha mesmo razão?
(...)
Sem Medo anunciou a todos que as advertências do Comissário Político haviam sido bem sérias. Ele mesmo repetiu que qualquer um dos camaradas que ousasse “fazer tribalismo” contra os cabindas seria fuzilado.
Depois dessas palavras restou o silêncio do Mayombe.
(...)
O grupamento seguiu pelo caminho planejado. Para encurtá-lo. Atravessou o rio algumas vezes.
Na retomada da jornada Teoria sofreu muito. Depois o aquecimento do corpo ajudou-o a suportar as dores no joelho.
Os guerrilheiros caminhavam em fila indiana, mas mantinham certa distância uns dos outros. O texto destaca que aos poucos venceram as lianas e também uma vasta área tomada por “folhas largas de xikuanga” habitada por elefantes. O cheiro desses animais tomava a atmosfera.
Ekuikui, que era guerrilheiro oriundo da província do Bié e conhecido entre os demais por sua fama de caçador, lamentou por não poder caçar os elefantes naquele mesmo instante. Ele bem sabia que um animal daqueles renderia comida por muito tempo.
Houve mesmo uma ocasião em que o grupamento topou com uma manada. E Ekuikui levantou sua arma por instinto. Mas no mesmo instante o Chefe de Operações o alertou que ninguém devia efetuar qualquer disparo.
Os animais seguiram com tranquilidade pelo caminho sem se importarem com os “homens de verde”.
O Comissário teve o cuidado de comentar com o rapaz sobre o objetivo que tinham ali: procurar os tugas. Salientou que qualquer tiro que dessem podia alertá-los. Humildemente, Ekuikui respondeu que compreendia perfeitamente a situação.
(...)
Lutamos caminhava adiantado e refletia sobre a discussão que tiveram (a respeito do que fariam com os trabalhadores da exploração de madeira). Ele sabia que logo os encontrariam, e lembrou que o Comandante havia dito que Muatiânvua falava “por brincadeira”. Mas será que Verdade (ao propor o fuzilamento) estava brincando?
Lutamos desconfiava que não.
Logo chegaram ao ponto utilizado pelos tugas para retirar a madeira... Lutamos tornou-se ainda mais triste ao concluir que o povo não colaborava e, pelo visto, os guerrilheiros estavam certos ao recorrerem aos fuzilamentos.
O rapaz pensava na própria família e em todos os sofrimentos que os tugas lhes infligiram. Seu pai, mãe e irmãos acabaram fuzilados...
(...)
Mas o povo não apoiava o movimento de libertação! Será que não via os inúmeros motivos?
O povo não apoiava! E em sua opinião isso acontecia porque a guerra havia chegado a Cabinda na época em que ele mesmo era ainda uma criança. Mas ninguém nunca comunicara ao povo quais eram os motivos da guerra.
Como a guerra iria crescer assim?
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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