O Comandante era guerrilheiro veterano... Combatera nas tropas de Henda* durante os anos 1960, época em que era chamado de Esfinge. Tempos depois foi promovido a “Chefe de Seção” e passou a ser chamado de Sem Medo após um episódio em que resistiu ao avanço de tropas inimigas sobre um posto avançado... Sozinho, conseguiu barrar os militares despejando sobre eles uma saraivada de balas ao mesmo tempo em que vociferava gracejos e impropérios... Graças ao seu ato, os guerrilheiros conseguiram abandonar a Base sem nenhuma perda.
*Hoji-ya-Henda, codinome de um dos principais guerrilheiros do MPLA; morto aos 27 anos durante a tentativa de assalto ao quartel de Karipande em 14 de abril de 1968; em sua homenagem, o 14 de abril tornou-se data nacional em que se celebra o “Dia da Juventude Angolana".
(...)
Teoria acreditava que todos os guerrilheiros tivessem seus “segredos
indizíveis”. E eram esses segredos que os levavam a combater. Evidentemente
quando eram perguntados a respeito de suas motivações falavam sobre razões
afinadas com o movimento de libertação.
Algumas
perguntas pesavam sobre aqueles homens:
* Sem Medo fora
universitário e fazia o curso de Economia; em 1964 largou tudo e ingressou na
guerrilha. Por quê?
* O
Comissário deixou sua terra natal, Caxito, onde vivia o pai já bem velho,
empobrecido e expropriado pelos bandidos interessados pelos cafezais. Depois de
pensar um pouco, Teoria imaginou que a motivação do Comissário Político para se
tornar guerrilheiro era um pouco mais evidente do que a dos demais.
* O Chefe de
Operações deixou para trás a vida em Dembos... Por quê? Ninguém sabia!
* De onde vinha o
guerrilheiro chamado Milagre? Por que abandonara a família?
* Muatiânvua fora
marinheiro... Todos o tinham como “desenraizado”... Por que trocara os barcos
pelas longas caminhadas e confrontos com as tropas portuguesas pela floresta?
(...)
Teoria pensou também
no próprio passado.
Abandonou esposa e carreira que podia ter sido promissora... Por quê?
Quando lhe perguntavam, normalmente respondia que era por causa de sua
consciência política e por reconhecer as necessidades do povo.
Mas o professor sabia que aquelas eram “palavras fáceis” de significado
vago e que “nada diziam”. Voltando a refletir sobre os camaradas, perguntou a
si mesmo como a consciência agia em cada um deles.
(...)
Novamente vemos Teoria assumir a narrativa...
Ele nos revela mais a
respeito de seu drama pessoal.
(...)
Também ele viera de uma área produtora de café, o Amboim, onde a mata
era ponteada pelos cafezais e pelo vermelho de seus frutos. Lá conhecera Manuela
da Gabela (cidade sede do município de Amboim). Com ela começou a compartilhar
a vida.
No
passado era Manuela, o cafezal e a mata do Amboim (na província do Kwanza-Sul)
com suas serpentes... No Mayombe eram a guerrilha e sua luta contra a exploração
dos ricos cafeicultores imperialistas.
Manuela era a paixão
deixada para trás. Talvez ela não fosse suficientemente forte para mantê-lo no
Amboim. A doce mulher juntara-se a outro amante.
A
guerrilha foi a escolha de Teoria. A luta acrescentara-lhe o Mayombe e a
companhia dos “exilados em armas”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/05/mayombe-de-pepetela-ainda-narrativa-de.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto