Verne apresenta-nos as considerações que o “rei-poeta” Uçaf Uddaul tecia a respeito de sua amada rainha Ahmehnagara.
(...)
Em síntese, Ahmehnagara (cujos encantos deviam ser também os de Aouda)
tinha “cabelos reluzentes e partidos ao meio; suas faces eram harmoniosas,
delicadas e alvas; as sobrancelhas de ébano têm a forma e o poder do arco de
Kama, deus do amor; seus grandes olhos negros, destacados pelos longos cílios
sedosos, eram límpidos e navegam como nos lagos sagrados do Himalaia, os
reflexos mais puros da luz celeste; seus dentes, de formidável brancura,
resplandeciam entre os lábios sorridentes da mesma forma que gotas de orvalho
se destacam no seio entreaberto de uma flor de romã”.
Todo o mais era perfeito em
Ahmehnagara. Orelhas pequenas e de curvas simétricas, mãos rosadas e pés
pequenos “arqueados e tenros como os brotos do lótus”. A delgada e fina cintura
podia ser abraçada por uma mão e conferiam à musa curvas fenomenais bem moldadas
por todo o corpo...
Tal perfeição era digna de comparação às esculturas
produzidas pelas “mãos divinas de Vicvacarma, o eterno estatuário”.
(...)
Alguns ficariam intrigados a respeito dos citados Uçaf, Ahmehnagara e
Vicvacarma... Teriam de fato existido ou se tratavam de criação do autor? O
certo é que, com a referida passagem, Verne nos dá uma ideia do encantamento da
mulher indiana ao mesmo tempo em que destaca que Aouda reunia todas as
qualidades que deixariam qualquer europeu deslumbrado.
Assim como o guia contratado por Phileas Fogg para
conduzi-los pelas florestas, Aouda era parse.
O autor não esconde que, em relação aos demais indianos, a gente parse
era “superior”. E mais! A jovem “falava inglês com grande pureza”, além de ser
dotada de exemplar educação.
(...)
Fogg pagou ao parse o que lhe devia pelo serviço contratado. O rapaz se
comportara exemplarmente e arriscara a própria vida ao engajar-se no plano de
libertação de Aouda. Não seria exagero dizer que os irados indianos que haviam
sido tapeados por ocasião do rapto saíssem à sua captura.
Sabendo que o guia parse merecia muito mais, Passepartout estranhou o
fato de o patrão não lhe pagar além do que fora combinado.
Para a surpresa de todos, Phileas Fogg manifestou todo o seu
reconhecimento ao guia. Agradeceu pela sua dedicação e ofereceu-lhe o elefante
Kiuni.
Os olhos do rapaz brilharam
e no mesmo instante ele manifestou que o oferecido se tratava de verdadeira
fortuna. O inglês respondeu que ainda assim permaneceria em débito em relação
aos serviços que lhe prestara.
O parse parecia encabulado.
Então Passepartout se intrometeu e o incentivou a aceitar o “bravo e corajoso
animal”. Na sequência o francês aproximou-se do elefante e deu-lhe uns pedaços
de açúcar.
O bicho ficou
satisfeito, agarrou Passepartout com sua tromba e o levantou. Foi um encanto
só. Ele fez uma carícia em Kiuni, que o colocou novamente em solo firme.
O parse apertou a mão dos europeus e assim agradeceu o presente que
acabara de receber.
(...)
Logo os aventureiros se
instalaram no trem que os levaria para Benares.
A composição percorreu os cerca de cento e trinta
quilômetros em duas horas.
Fogg conseguiu um confortável vagão. Cromarty e Passepartout
permaneceram em sua companhia.
À jovem Aouda reservaram a melhor
ocupação do mesmo vagão.
Aos poucos ela se
restabeleceu completamente.
Quando deu por si estranhou o fato de estar trajando
roupas europeias, a salvo num trem de alta velocidade e na companhia de três
desconhecidos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_12.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto