sexta-feira, 14 de abril de 2017

“A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne – da “Coleção eu Leio” – a respeito da imensa Saddle-Peak; considerações etnocêntricas sobre os papuas; Fix numa cabine do Rangoon; reflexões sobre a misteriosa e atraente acompanhante; planos para capturar Fogg em Hong Kong

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_14.html antes de ler esta postagem:

A vista que fizara para trás era das mais belas.
A baía de Bengala é constituída por muitas ilhas e sem dúvida a grande Andaman é a mais importante de todas elas. Nela está localizada a imensa Saddle-Peak, montanha de setecentos e trinta metros que é avistada desde muito longe pelos que navegam por aquelas águas.
O Rangoon deslizou junto à costa onde viviam os “selvagens papuas”. A respeito desse povo, Verne registra que, apesar de não serem antropófagos, pertenciam ao “último degrau da escala humana”. Temos aí outra de suas manifestações etnocêntricas.
A embarcação passou pela paisagem marcada por florestas de palmeiras diversas e bambuzais situados à frente das grandes montanhas. Também na costa podiam ser avistados os ninhos de salanganas, muito apreciados e aproveitados no preparo de finos pratos.
Logo o Rangoon chegou ao estreito de Malaca, que dá acesso aos mares chineses.
(...)
É bom que se saiba que também o policial Fix havia embarcado no Rangoon. Fez isso sem ser notado por aqueles que perseguia. Antes de deixar Calcutá explicou que no caso de receberem um mandado de prisão deviam encaminhá-lo para Hong Kong.
No começo da viagem evitava ser visto por Passepartout, pois não saberia como explicar o motivo de estar entre os passageiros.
O inspetor tinha muito mais com o que se preocupar e por isso não circulava entre os passageiros. Ele sabia que o navio faria escala em Cingapura e que a parada seria breve. Seus pensamentos se concentravam na possibilidade de prisão em Hong Kong. Prenderia Fogg naquela que parecia ser a “última terra inglesa” de seu provável itinerário de fuga, ou não teria como agir na China, Japão ou América, locais onde o tipo podia se refugiar com mais segurança.
Em Hong Kong, caso o mandado chegasse às suas mãos, Fix teria condições de entregar Fogg às autoridades. Nas demais localidades o processo seria mais demorado, pois exigiria a extradição. O procedimento se arrastaria e possibilitaria ao astuto ladrão nova fuga.
(...)
Em sua cabine, Fix pensava a esse respeito. Não podia falhar mais uma vez!
Se não obtivesse o mandado de prisão teria de fazer de tudo para que o fugitivo se complicasse em qualquer nova tentativa de embarque. O inspetor começou a sentir que era a própria reputação que estava em jogo.
Aos poucos o plano de revelar tudo a Passepartout foi tomando forma. Em seus pensamentos, Fix entendia que o rapaz era muito simples e certamente não fazia a menor ideia do tipo de trama o patrão estava envolvido. O francês não tinha o perfil de cumplice, então, depois dos devidos esclarecimentos, se decidiria a colaborar com a polícia.
Mas um plano dessa envergadura só podia ser colocado em prática em último caso. É que se Passepartout resolvesse revelar a Fogg a sua condição de perseguido tudo estaria perdido. Essa constatação fez com que o policial voltasse à estaca zero.
(...)
De repente começou a pensar a respeito da jovem que acompanhava Phileas Fogg na viagem. Afinal, quem era? Por que se juntara a ele?
Podia concluir apenas que algo entre Bombaim e Calcutá havia ocorrido e os dois se tornaram próximos.
Ele se lembrava perfeitamente da presença da jovem no tribunal. Reconhecia que ela era bonita e muito atraente. Bem podia ser que ela fosse “a chave” que explicava a viagem de Fogg pela Índia. Teria sido raptada? A jovem era realmente sedutora e Fix não estranharia se o seu suspeito se envolvesse também num rapto criminoso.
O policial pensou sobre isso e concluiu que poderia tirar proveito de mais essa circunstância. Para Fix, casada ou não, a presença da jovem só podia ser explicada a partir de um ato criminoso do ladrão do Bank of England.
(...)
O policial planejou telegrafar desde Cingapura para as autoridades ingleses em Hong Kong. Faria breve relato da situação e apresentaria a descrição do suspeito que viajava no Rangoon. Essa ideia tinha o mérito de antecipar a ação policial antes de nova tentativa de fuga.
Enquanto o navio não alcançava Cingapura, Fix devia se aproximar de Passepartout. Isso mesmo. Depois de matutar mais um pouco, o inspetor levou em consideração fazer umas perguntas ao criado de Fogg.
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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