Depois de uma hora de fuga, o guia parse conduziu Phileas Fogg e seus companheiros por paragens mais tranquilas.
Ficara para trás a agitação proporcionada pela ideia maluca de Passepartout.
No momento ele podia rir de tudo o que se passara. A jovem encantadora que salvara do sacrifício brâmane permanecia inconsciente.
(...)
De tal modo Kiuni prosseguiu
com suas passadas largas e seguras que logo alcançaram vasta planície. Pararam
por volta das sete horas... O guia resolveu servir água com um pouco de
conhaque à Aouda.
Ela não esboçou nenhuma reação
e isso deu a entender que ainda estava mergulhada no entorpecimento a que foi
submetida pelos vapores do cânhamo durante o ritual “sutty”.
O general Cromarty sabia que não deviam se preocupar
em relação ao estado físico da moça. Mas o experiente militar entendia que, se
ela permanecesse em território indiano, fatalmente voltaria a ser capturada
pelos que viram frustrado o sacrifício em honra à deusa Kali.
Ele falou a este respeito com Phileas Fogg. Argumentou que por mais que
a polícia inglesa se esforçasse, os algozes de Aouda não descansariam até obter
êxito em sua caçada. Havia muitos exemplos que ele poderia citar! Em síntese, a
única esperança de vida para a jovem seria retirar-se o quanto antes da Índia.
Fogg ouviu com atenção e garantiu que levaria aquelas
palavras em consideração. Certamente, qualquer que fosse a decisão a tomar em
relação à jovem, voltaria a falar com o militar.
(...)
Eram umas dez horas quando o guia parse disse que haviam chegado à estação
de Allahabad.
Daquele ponto até Calcutá voltariam a viajar de trem. As composições
percorriam a distância em menos de vinte e quatro horas.
Fogg mostrou-se satisfeito. Sobretudo porque chegaria a tempo de comprar
os bilhetes para a embarcação para Hong Kong (ela partiria apenas no dia
seguinte, 25 de outubro).
Providenciaram um quarto na própria estação para que Aouda pudesse
continuar o seu restabelecimento. Passepartout recebeu do patrão a missão de ir
às compras para atender as necessidades de toilette da jovem. O francês foi autorizado
a comprar vestidos, peles e tudo o que encontrasse e considerasse útil a ela.
(...)
Não é por acaso que Allahabad
tem esse nome que significa “cidade de Deus”.
Por se tratar de ambiente
sagrado, é local de peregrinação e veneração. Sabe-se que os peregrinos sempre
foram atraídos pelas águas do Ganges e do Jumna.
De acordo com as
lendas do Ramayana, o rio Ganges nasce no céu e só desce à terra graças à
intervenção divina de Brahma.
(...)
É verdade que Passepartout poderia aprender um pouco a respeito de tudo
isso em conversa com algum comerciante. Mas ao contemplar o antigo forte que
era utilizado como presídio, notou que não havia indústrias ou centros
comerciais na cidade que já fora conhecida por destacado dinamismo econômico.
A verdade é que ele só
conseguiu alguns artigos (“vestido de tecido escocês, casaco e uma pele de
lontra”) depois de muita negociar com um judeu que estava disposto a sugar ao
máximo o freguês. Passepartout teve de desembolsar setenta e cinco libras pelas
compras.
(...)
Quando retornou à estação, Passepartout viu que a
jovem Aouda retornava a si. Seus belos olhos recuperaram aos poucos toda a sua “doçura
indiana”.
É o próprio Verne quem insiste que ela “era encantadora em toda acepção
europeia da palavra”.
Até quem nunca leu “A Volta
ao Mundo em Oitenta Dias” já desconfia que ela se tornará personagem importante
da aventura.
Por enquanto ficamos por aqui. Na próxima
postagem conheceremos um pouco mais a respeito dos predicados da misteriosa jovem.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_8.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto