Os três europeus foram extremamente cuidadosos com Aouda e ofereceram-lhe gotas de licor para que se reanimasse.
O general Cromarty explicou-lhe tudo o que havia ocorrido. Destacou a generosidade e coragem de Phileas Fogg e o ousado plano de Passepartout.
Fogg nada disse. O francês encabulou-se e por diversas vezes manifestou que “aquilo não foi nada”.
A jovem Auda não sabia como agradecer. Chorou muito e seu belo olhar demonstrava toda a sua gratidão. Evidentemente suas lágrimas também eram motivadas pela incerteza de seu destino.
Ela sabia que não teria chance de escapar de seus algozes. Fogg parecia adivinhar suas preocupações e ofereceu-lhe a possibilidade de fuga até Hong Kong.
O homem falou com uma frieza espantosa e terminou sua proposta dizendo que ela poderia permanecer na possessão que os ingleses haviam obtido da China até que toda aquela história fosse esquecida.
A jovem entendeu que a oferta era das mais convenientes. Sobretudo porque em Hong Kong vivia um de seus parentes, rico e importante comerciante. Certamente ele a ajudaria a superar o trauma e a retornar para a Índia quando fosse possível.
(...)
O trem chegou à estação de Benares ao meio-dia.
As lendas contadas pelos religiosos brâmanes diziam que essa cidade fora
erguida onde antes havia Casi, um ambiente “suspenso no espaço entre o zênite e
o nadir” do mesmo modo que a tumba de Maomé.
Mas os tempos eram bem outros. Os ingleses mostravam que Benares
pertencia ao solo onde pessoas comuns viviam. Não eram poucos os que a
consideravam a “Atenas da Índia”.
Passepartout quis conferir o aspecto geral da cidade. Circulou por
algumas ruas e não notou nada de muito extraordinário, além de casas de tijolos
expostos e cabanas de taipa.
(...)
Benares era o ponto final
da viagem do general Cromarty. Mais alguns quilômetros ao norte da estação
localizava-se o acampamento de suas tropas.
O militar despediu-se do
excêntrico inglês dizendo que esperava que ele voltasse a realizar a mesma
viagem de modo proveitoso, sem pressa, para que pudesse apreciar as paisagens,
as cidades e a cultura desenvolvida pelas gentes locais.
Fogg despediu-se com
um leve aperto de mão. A jovem Aouda retribuiu o afeto demonstrado pelo
general. Passepartout emocionou-se ao também ser cumprimentado e manifestou que
seria uma grande honra poder servi-lo no futuro.
(...)
O trem partiu no horário previsto. A ferrovia o encaminhava pelo vale do
Ganges. Em muitos dos campos via-se rebanhos de gado, de cultivo da cevada,
milho e trigo. A paisagem também era composta por montanhas e florestas
fechadas. De quando em quando crocodilos podiam ser avistados em aguaceiros das
proximidades de rios.
Outros animais como
elefantes e gado zebu também apareciam para saciar sua sede. Apesar do frio,
muitos indianos chegavam às margens do Ganges para as abluções rituais.
Verne destaca que aqueles
homens e mulheres eram fervorosos brâmanes que além de não assimilarem o
budismo colocavam-se como inimigos ferrenhos dessa orientação religiosa. Para
eles, “Vishnu é a divindade solar, Shiva é a personificação divina das forças
naturais, e Brahma é o senhor supremo dos sacerdotes e legisladores”.
Não há como não destacar que, para o autor, o
modo de ser daquelas pessoas contrastava com as novidades do tempo que se vivia.
Mergulhadas em suas convicções religiosas, se espantavam como as gaivotas e as
tartarugas logo que notavam que no mesmo rio sagrado potentes embarcações movidas
a vapor surgiam com seus apitos e espessa fumaça.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_9.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto