sábado, 26 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – Foucault no Brasil; visita a Minas Gerais; Ronaldo Simões e sua luta pela desospitalização; trip pelas cidades históricas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_6117.html antes de ler esta postagem:

O filósofo e professor Michel Foucault esteve no Brasil em algumas oportunidades. Vinha para ministrar cursos e palestras. Há muitos relatos sobre suas estadias em nosso país, alguns deles bem polêmicos, e sobre a repercussão das palavras do autor de História da Loucura nos meios acadêmicos (notadamente na USP) desde a década de 1960.
Em 1975, por ocasião da morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências de quartel do exército, Foucault interrompeu o curso que ministrava em protesto aos atos de tortura e assassinatos cometidos pela ditadura militar.
(...)
Em 1973, Foucault esteve no Rio de Janeiro, onde falou a universitários entre 21 e 25 de maio... Depois dirigiu-se a Minas Gerais para visitar hospitais psiquiátricos e realizar conferências. A visita que fez a Belo Horizonte possibilitou-lhe contatos com jovens estudantes e médicos psiquiatras indignados com as formas de tratamento que se dispensavam aos internados em hospitais de todo o estado.
Ronaldo Simões Coelho, psiquiatra natural da histórica cidade de São João del-Rei, foi um dos que se aproximaram do filósofo. Desde a época de estudante, Ronaldo já se mostrava contrário às formas desumanas de tratamento verificadas nas instituições psiquiátricas de Minas Gerais...

                                                                                  Holocausto Brasileiro registra um episódio de “sequestro” de oitenta e quatro pacientes que foram transferidos do Hospital Raul Soares ao Colônia à revelia de médicos e familiares. Esse acontecimento fez de Ronaldo Simões um ativo defensor da desospitalização para melhorar o atendimento e evitar a segregação.

Ronaldo era Supervisor de Psiquiatria do Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social)...
No ano anterior ao da visita de Foucault a Minas Gerais, ele pôde testemunhar várias violações aos direitos básicos às pessoas em tratamento psiquiátrico, desde o descaso de funcionários até a falta de estrutura física mínima nos hospitais. Numa inspeção que realizou ao Hospital Galba Veloso, o médico fez questão de demonstrar toda a sua indignação em relação ao que viu e ouviu. A sua coerência o fez respeitado nos meios acadêmicos e médicos, e também pela imprensa. Não foi por acaso que Simões se tornou guia de Foucault em sua visita a Minas Gerais e participou de todas as suas palestras.
Arbex registra ainda as participações de Helley Bessa e Emilio Grinbaum (Bessa era um dos grandes “defensores da humanização na psiquiatria brasileira”; Grinbaum, “o pioneiro da Medicina Psicossomática”) na palestra ministrada por Foucault na Casa de Saúde Santa Clara.
(...)
Foucault era um tipo muito acessível... A Simões declarou sua satisfação em visitar o Brasil, onde havia estudantes sérios e muito interessados pelo saber e por mudanças no tratamento psiquiátrico. O psiquiatra brasileiro convidou o intelectual francês para uma viagem de cinco dias pelas históricas cidades do sul de Minas Gerais (Congonhas, Tiradentes, São João del-Rei, Mariana e Ouro Preto).
Daniel Defert, que já era companheiro de Foucault há mais de 10 anos, e Célio Garcia  (professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais) também participaram da trip.
Ronaldo Simões lembra que seguiram numa rural (veículo espaçoso e muito utilizado por sitiantes nas décadas de 1960 e 1970) cedido Pela Secretaria da Saúde de Minas Gerais, e que Foucault não deixava de apreciar a cachaça mineira acondicionada por Célio Garcia num odre... O filósofo mostrou-se curioso por tudo o que viu, não deixava de perguntar o significado das representações mineiras nos monumentos, arquitetura, afrescos e esculturas, e não perdia a oportunidade de falar sobre os significados que se atribuíam na Europa para representações similares.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas