sexta-feira, 25 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – o tempo de internação na Febem; uma vida de superação; encontro com a música; ingresso no Corpo de Bombeiros e na banda militar; reencontro improvável?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_5307.html antes de ler esta postagem:

A Febem era um ambiente complicado... Ela acolhia órfãos e menores abandonados por suas famílias desde o começo de suas vidas... Não podemos dizer que esse contingente oferecesse resistências à disciplina imposta pela instituição. Mas entre os internos havia também delinquentes com um histórico de ações muito violentas.
Assim, não é de se estranhar que adolescentes como o João Bosco em 1979 se sentissem receosos ao ingressarem na unidade de Antônio Carlos. Ele nunca se esqueceu das palavras do diretor de sua época, Benjamin Fullin, que fazia questão de deixar claro que seu trabalho consistia na formação de homens de bem, e não de bandidos... Isso dependia em grande parte do próprio interno... Era uma opção que cada um devia fazer.
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Felizmente, o rapaz soube avaliar as oportunidades oferecidas (havia cursos de mecânica e outros para formar eletricistas, garçons e chefes de cozinha) e aproveitou a oportunidade que surgiu na banda da instituição, comandada pelo maestro Nadir. Logo de início, porém, João ficou decepcionado ao ser escalado para tocar tuba... Ele lembra que na primeira visita que pôde fazer à irmã Dita, pretendia desabafar a respeito desse seu descontentamento.
Aconteceu que ao chegar ao internato onde viveu até os treze anos, deparou-se com José Lauro (panificador que colaborava com a instituição de Pinheiro Grosso) que também estava de visita à irmã Dita. O homem antecipou-se fazendo elogios à Febem de Antônio Carlos, sobretudo à sua reconhecida banda... Disse isso ressaltando que ele próprio gostaria de ser um instrumentista e que a tuba era o seu instrumento preferido, pois ela desempenha “papel fundamental no suporte harmônico”.   É claro que essas palavras deixaram o rapaz desconcertado... O encontro serviu para confirmar que ele estava no caminho certo.
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Também na Febem havia funcionários inescrupulosos que viviam a atormentar os rapazes com aliciamentos sexuais... O próprio João Bosco revela que teve de rechaçar um tipo que trabalhava no almoxarifado, que investiu contra ele em certa ocasião.
Mas isso também foi superado e João Bosco cumpriu seu tempo de Febem com dignidade. Às vésperas de completar os dezoito anos, e de deixar a instituição de Antônio Carlos, prestou concurso para a Polícia Militar do estado. Embora tenha sido aprovado, não pôde ingressar porque não tinha a idade mínima exigida por estatuto. A Febem permitiu que ele permanecesse até os 20 anos, quando ele e outros egressos da unidade foram aprovados em novo concurso.
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Junto com os colegas aprovados, partiu para o quartel do 2º Batalhão de Bombeiros, na cidade de Contagem... O começo não foi dos mais fáceis para eles. Foi o diretor João R. C. Matta que os apoiou até que recebessem o primeiro salário... Dois anos se passaram e, já formados no 2º Batalhão, resolveram se candidatar ao 1º Batalhão de Bombeiros da capital, onde pretendiam substituir os antigos músicos da banda da corporação.Durante os sete anos seguintes, João Bosco morou no quartel e se alojou no depósito onde os instrumentos musicais eram acondicionados. Outros três colegas dividiam a instalação com ele... Aos finais de semana, enquanto eles se dirigiam às suas cidades de origem para visitar parentes, João permanecia em meio aos livros.
Em frente ao quartel morava o escritor Roberto Drummond... Um dia os dois se encontraram numa banca de jornal... João saiu da conversa com o intelectual levando a indicação da leitura de um livro de Albert Camus, O Primeiro Homem... Essa referência talvez revele a influência que o levou a se matricular no curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (2005).
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Os anos passaram... João Bosco permaneceu nos bombeiros, se tornou subtenente e chefe da banda. Casou-se, separou-se, e casou-se novamente aos quarenta e cinco anos... Nessa mesma época (2011) tornou-se pai e, sem que soubesse, os músicos da banda, apoiados pelo comandante Edson Alves Franco, planejaram encontrar dona Geralda.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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