terça-feira, 8 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – o hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Oliveira; tratamentos desumanos às crianças; tortura e outras violentações; transferência ao Colônia, “solução final”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_3.html antes de ler esta postagem:

O hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Oliveira, cidade do oeste do estado de Minas Gerais (para onde Sueli Rezende, a mãe de Débora, foi enviada quando tinha 8 anos – ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/03/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_27.html) foi criado em 1924... No início atendia indigentes diversos. Em 1946 a instituição tornou-se mais específica ao passar a atender crianças que eram desprezadas por suas famílias por apresentarem deficiências físicas ou mentais.
Podemos dizer que o hospital de Oliveira era um ambiente tão degradante quanto o Colônia... Assim, não seria errado comparar as duas instituições e concluir que o “Oliveira” se tratava da “versão infantil” do hospital de Barbacena.
O depoimento de Ronaldo Simões Coelho confirma isso... Em 1971 ele esteve no “Oliveira” e sua primeira impressão foi das mais terríveis. Ao entrar no hospital infantil deparou-se com um menino de menos de dez anos “crucificado” no chão. A criança estava deitada com os braços abertos e presos por uma amarração... O menino sofria sob um sol escaldante. O recém-chegado quis saber o motivo de tamanha crueldade e uma freira que cuidava do ambiente respondeu que o castigo servia para evitar que o garoto perseguisse outras crianças para “arrancar-lhes os olhos”...
Simões Coelho perguntou quantas crianças haviam sido feridas pelo que estava sendo punido e a resposta da religiosa mostrou o quanto o castigo era absurdo... Ela disse que até aquele momento nenhuma criança perdera os olhos por causa do agressor.
(...)
O “Oliveira” possuía capacidade para atender 300 crianças, mas tinha virado um verdadeiro depósito de meninos e meninas desvalidos... O local foi palco de inúmeras atrocidades.
Elza Maria do Carmo, por exemplo, tinha sido internada devido aos ataques epilépticos que sofria... Em 1956, quando contava apenas nove anos de idade, sofreu estrupo nas dependências do hospital... Evidentemente isso se tornou um trauma para o resto de sua vida.
Ela se recorda que foi impedida por uma interna mais velha de entrar na ala feminina... Desamparada, acabou sendo atacada por um tipo de peso avantajado que já contava certa idade. O canalha, que se encontrava embriagado, arrastou a menina até um matagal e a violentou.
A infância de Elza não foi época de brincar e aprender... Talvez por isso até hoje ela carregue uma boneca nos braços.
O “Oliveira” era conduzido por madres, mas naquela fatídica noite nenhuma delas apareceu para prestar socorro.
(...)
Como Holocausto Brasileiro bem destaca, não foram as violências sofridas pelas crianças que motivaram o fechamento do “Oliveira”... Um acidente com o diretor (uma telha caiu em sua cabeça) fez as autoridades decretarem que a instituição não oferecia segurança.
O fechamento do hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Oliveira deu-se em 1976. Na ocasião havia 33 crianças internas... Todas foram transferidas para o Colônia. Sabemos que a mudança não significou melhorias no tratamento... É certo que criaram uma ala infantil, mas tornou-se comum ver as crianças em contato com os internos adultos no pátio.
Havia berços que eram os ambientes permanentes de crianças aleijadas ou com paralisia cerebral... Nem mesmo para tomar sol elas eram retiradas. Em dias muito quentes os berços eram levados para o pátio, mas elas permaneciam “enjauladas” neles.
O depoimento do jornalista Hiram Firmino, que foi “o segundo do país a entrar no Colônia” merece destaque. Ele quis saber de uma secretária o que acontecia àquelas crianças que chegassem à idade adulta... “A resposta foi dura como um golpe de navalha: _Ué? Eles morrem.”
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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