No processo de transformação da realidade de instituições como o Colônia, Ronaldo Simões Coelho, o psiquiatra que acompanhou Foucault em sua visita a Minas Gerais em 1973, foi um batalhador.
Mesmo antes da passagem de Foucault pelo estado, Simões já era conhecido pela ousadia de ter apresentado um projeto de extinção do hospital de Barbacena e a sua transformação em “campus avançado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)”... Depois da visita do filósofo francês, suas convicções tornaram-se ainda mais sólidas.
(...)
Durante o III Congresso Mineiro de Psiquiatria,
realizado no final da década de 1970, Simões fez denúncias veementes contra a
situação em Barbacena.Suas palavras expressavam a verdade (que no Colônia
havia um psiquiatra para cada 400
pacientes; que os alimentos eram servidos em cochos e os internos só conseguiam
se alimentar se avançavam como animais sobre a ração; que uma vez internada, a
pessoa deixava de ser gente; que andavam nus e se alimentavam de excrementos;
que não era permitido protestar contra aquele estado de coisas) e, por causa
delas, Simões perdeu o posto de chefe do Serviço Psiquiátrico da Fundação
Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig)...
Apesar da perseguição que sofreu, aos poucos, outras vozes se juntaram
às dele... Francisco Paes Barreto foi um dos que conheceram o Colônia e que
clamou por mudanças.
(...)
Em 1965, Barreto estava no último ano de Medicina na
universidade, quando foi convidado por Jorge Paprocki (conceituado psiquiatra que
conduzia pesquisas sobre antipsicóticos no país) para a realização de alguns
testes...
Acontece que uma droga injetável de ação prolongada (Anatensol Depot)
estava em processo final de elaboração pelo laboratório Bristol-Myers Squibb e
precisava ser avaliado.
O Colônia se constituía em ambiente privilegiado para esse tipo de
ensaio... Logo no primeiro dia, Barreto perguntou se ali eram criados porcos...
A repugnância tomou conta do jovem, que contava vinte e dois anos. Ele não
podia conceber a ideia de que aquele hospital pudesse se destinar à degradação
humana... O rapaz chegou a chorar de indignação.
No ano seguinte, já formado, Barreto não se aquietou e fez denúncias
contra o que havia visto... Em 1972 ele escreveu Críticas do hospital psiquiátrico, um artigo em que aponta denúncias
contra os hospitais de seu estado. O documento foi apresentado no Congresso
Brasileiro de Psiquiatria. Em 1979 o Conselho Regional de Medicina determinou
uma sindicância contra Barreto por considerar que seu artigo feria a ética
médica.
Mais sobre as pressões sofridas por Barreto na próxima
postagem.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_4887.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto