segunda-feira, 28 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – mais sobre Ronaldo Simões e sua luta pela desospitalização; Francisco Barreto, seu acesso ao colônia; “Críticas do hospital psiquiátrico” e perseguições

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/talvez-seja-interessante-retomar.html antes de ler esta postagem:

No processo de transformação da realidade de instituições como o Colônia, Ronaldo Simões Coelho, o psiquiatra que acompanhou Foucault em sua visita a Minas Gerais em 1973, foi um batalhador.
Mesmo antes da passagem de Foucault pelo estado, Simões já era conhecido pela ousadia de ter apresentado um projeto de extinção do hospital de Barbacena e a sua transformação em “campus avançado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)”... Depois da visita do filósofo francês, suas convicções tornaram-se ainda mais sólidas.
(...)
Durante o III Congresso Mineiro de Psiquiatria, realizado no final da década de 1970, Simões fez denúncias veementes contra a situação em Barbacena.Suas palavras expressavam a verdade (que no Colônia havia um  psiquiatra para cada 400 pacientes; que os alimentos eram servidos em cochos e os internos só conseguiam se alimentar se avançavam como animais sobre a ração; que uma vez internada, a pessoa deixava de ser gente; que andavam nus e se alimentavam de excrementos; que não era permitido protestar contra aquele estado de coisas) e, por causa delas, Simões perdeu o posto de chefe do Serviço Psiquiátrico da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig)...
Apesar da perseguição que sofreu, aos poucos, outras vozes se juntaram às dele... Francisco Paes Barreto foi um dos que conheceram o Colônia e que clamou por mudanças.
(...)
Em 1965, Barreto estava no último ano de Medicina na universidade, quando foi convidado por Jorge Paprocki (conceituado psiquiatra que conduzia pesquisas sobre antipsicóticos no país) para a realização de alguns testes...
Acontece que uma droga injetável de ação prolongada (Anatensol Depot) estava em processo final de elaboração pelo laboratório Bristol-Myers Squibb e precisava ser avaliado.
O Colônia se constituía em ambiente privilegiado para esse tipo de ensaio... Logo no primeiro dia, Barreto perguntou se ali eram criados porcos... A repugnância tomou conta do jovem, que contava vinte e dois anos. Ele não podia conceber a ideia de que aquele hospital pudesse se destinar à degradação humana... O rapaz chegou a chorar de indignação.
No ano seguinte, já formado, Barreto não se aquietou e fez denúncias contra o que havia visto... Em 1972 ele escreveu Críticas do hospital psiquiátrico, um artigo em que aponta denúncias contra os hospitais de seu estado. O documento foi apresentado no Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Em 1979 o Conselho Regional de Medicina determinou uma sindicância contra Barreto por considerar que seu artigo feria a ética médica.
Mais sobre as pressões sofridas por Barreto na próxima postagem.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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