Apenas depois de muitos anos é que o doutor Luiz ficou sabendo da real condição dos internos do Colônia ao tempo de sua infância... Como as atrocidades cometidas contra eles não eram do conhecimento dos vizinhos do hospital psiquiátrico, justifica-se que suas lembranças sejam tão diferentes daqueles que vivenciaram os pavilhões e seus dramas...
Não é por acaso que o capítulo do livro que trata de sua história seja intitulado O único homem que amou o Colônia.
(...)
Também Alba Watson Renault
teve sua infância marcada pelo Colônia. Ela não vivia no terreno que pertencia
ao hospital, como era o caso de Luiz Felipe Carneiro, mas sua casa situava-se à
Rua Henrique Diniz, bem à frente da ala feminina do hospital.
Alba é neta de Zenon Renault, que foi farmacêutico da
instituição. Ela explica que era muito comum homens e mulheres do lugar serem
vistos nas ruas, sempre trabalhando “em funções pesadas e sem remuneração”.
Há reproduções fotográficas no livro que mostram uma carroceria de
caminhão repleta de pacientes prontos para serem encaminhados para os árduos
expedientes.
Alba esclarece ainda que era muito comum vê-los sempre
de cabeça raspada, descalços e em silêncio... Saíam para capinar as ruas de
Barbacena.
Eles também eram vistos em cortejos fúnebres rumo ao Cemitério da Paz,
que pertencia ao hospital... Normalmente os defuntos eram levados numa carroça
(de tração animal) marcada por cruzes pintadas em vermelho nas laterais (há
reprodução fotográfica no livro).
Os sepultamentos eram diários, ocorriam mais de uma vez ao dia, e muitas
vezes eram os próprios pacientes que levavam os caixões, que deviam retornar
vazios para que outros mortos pudessem ser recolhidos.
Na casa da avó materna, situada à Rua Professor Pires de Moraes, Alba
podia se esconder e, através de uma janela, observar como os internos procediam
no cemitério: abriam as covas rasas, depositavam os seus mortos e cobriam-nos
com terra.
A menina de então notava os lamentos e o modo como retornavam
cabisbaixos e, muitas vezes, cantando com suas vozes entristecidas.
(...)
Uma visita ao Cemitério da
Paz, que está desativado desde os anos 1980, pode revelar o desprezo em relação
à memória daqueles que, enquanto viveram, foram tratados como “resíduos da
sociedade”. O local onde cerca de 60 mil mortos do hospital Colônia estão sepultados
encontra-se no mais completo abandono, e ao longo dos anos tem sido frequentado
por usuários de drogas e por tipos que buscam o ambiente retirado para se
satisfazerem sexualmente... Os túmulos são constantemente atacados por vândalos
e vê-se que ossadas despontam do terreno saturado.
Segundo o psiquiatra
Jairo Toledo, que dirigiu o “Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena” até o
início do ano passado, o cemitério foi construído exclusivamente para enterrar
os pacientes do Colônia. A conclusão que se tira daí é que os doidos (assim
como os negros) não podiam ser misturados à “gente normal”, e tinham
sepultamentos à parte, resultado da “discriminação imposta àquela população”.
Holocausto Brasileiro registra que desde
2007 há um projeto da prefeitura em parceria com o Iepha (Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico) que visa transformar o abandonado cemitério
em Memorial em respeito às vítimas do Colônia. A ideia vencedora do concurso
que foi promovido pode mudar completamente a área degradada. O Memorial de Rosas, de acordo com Arbex,
unirá os dois símbolos de Barbacena (as flores e a loucura)... Mas ele ainda
não saiu do papel...
O projeto prevê a conservação dos túmulos... Além
disso, uma passarela permitirá que os visitantes contemplem o ambiente que já
foi “símbolo do que se passou nos porões da loucura”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_8.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto