quarta-feira, 9 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – lobotomia; o relato de Maria Auxiliadora; remanescentes do “Oliveira” e do Colônia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_8.html antes de ler esta postagem:

Os mesmos tratamentos dispensados aos internos adultos do Colônia eram utilizados com as crianças. Isso incluía “correntes, eletrochoques, camisa de força, prisão e abandono”.
Maria Auxiliadora S. de Lima ingressou no Colônia em abril de 1978. A jovem de então contava 20 anos de idade e estava empolgada também por ter sido aprovada em primeiro lugar no concurso público... Ela relata que não demorou a se deparar com a primeira morte de um paciente infantil... Tratava-se de um menino que, ao que tudo indica, permanecera por muitas horas abandonado depois de morto junto à cama. Ele estava enrijecido e a cena a desnorteou... Suas colegas de trabalho aconselharam a se acostumar porque aquele tipo de ocorrência se repetia com frequência.
O modo como as crianças eram tratadas chocou Maria Auxiliadora de tal forma que ela desistiu do emprego estável em apenas sete meses. Entre outros horrores, conta que presenciou a cirurgia de lobotomia em um menino de 12 anos. Essa operação consiste em retirar parte do cérebro (seccionam-se as vias que ligam os lobos centrais ao tálamo)... No caso do menino “lobotomizado”, a cirurgia foi indicada para conter os eventos de epilepsia.
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Normalmente era assim... Realizavam a cirurgia para “conter a agressividade e fazer os surtos cessarem”... Invariavelmente, o resultado para muitos era o mais completo estado vegetativo... Esse foi o caso de João Adão, “o último lobotomizado do Colônia, em 1979”.
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Maria Auxiliadora era conhecida das crianças como “a Enfermeirinha”.
Entre as amargas recordações de seu tempo na instituição hospitalar de Barbacena, não lhe sai da cabeça a ocasião em que um menino apavorado, de uns 14 anos, recorreu a ela e a puxou implorando para que impedisse que lhe aplicassem o eletrochoque... Impotente, Auxiliadora pôde apenas se retirar e, ao longe, sofrer com o suplício imposto ao menino, que se contorcia e sangrava pela boca.
Entre as várias incoerências do dia-a-dia das crianças internadas no Colônia, havia a do leite que chegava em grandes baldes e devia ser oferecido pelas enfermeiras em abundância aos pequenos... Era tanta a quantidade ingerida que acabavam vomitando... Como não podia haver sobras, o alimento era jogado pelo ralo.
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A própria Maria Auxiliadora relata que havia funcionários abnegados e dedicados às crianças. Ela lembra que Marlene Laureano foi como que uma “mãe para aqueles meninos”.
Neste ponto da narrativa, Holocausto Brasileiro cita algumas crianças que passaram do “Oliveira” para o Colônia, suportaram décadas de maus tratos e abandono de suas famílias, e acabaram sobrevivendo...
Além de Elza Maria do Carmo, cujo drama foi relatado na última postagem, o texto cita Silvio Savat, Maria Cláudia Geijo e José Machado.
Sobre Savat, destaca-se que seus pais eram ciganos. Ele passou muitos anos na ala feminina do hospital. Uma famosa fotografia feita por Napoleão Xavier (1979) revela o garoto trajando um vestido e coberto por moscas... A imagem é comovente, pois temos a impressão de que se trata do cadáver de uma menina abandonada.
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Dos remanescentes do Colônia, Elza Maria do Carmo e Maria Cláudia Geijo, vivem atualmente em “módulos residenciais” do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. Elas e os outros quatro (do grupo de 33 transferido em 1976 do “Oliveira”) carregam as marcas do passado de sofrimento... Mas sua condição atual é bem diversa.
Felizmente nota-se que o tratamento a eles dispensado é diferenciado. Pelo menos o final de suas existências deve ser marcado por dignidade.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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