São as recordações do João Bosco adulto que permitem resgatar alguns dramas que os meninos do internato Padre Cunha enfrentaram nos anos 1970...
(...)
Havia um funcionário que era como que um monitor
dos garotos... O nome dele era Roberto, um tipo que abusava da bebida e,
normalmente por causa dela, também dos maus tratos aos internos.Aquele que fazia xixi na cama sempre sofria humilhações e tinha de ficar
a noite inteira sob o chuveiro frio... O algoz gostava de torturar suas vítimas
dizendo que cortaria o pênis dos que continuassem a “molhar a cama”...João Bosco não gostava desse Roberto e cansou-se de
suas maquinações. A maldade do funcionário não tinha limites e, para termos uma
ideia, ele gostava de enfileirar os meninos de mãos dadas e provocar um choque
coletivo para que estatelassem no chão.
Certa vez João Bosco protestou e o monitor acabou ferindo o seu rosto com
uma vara... O menino não teve dúvida e dirigiu-se imediatamente às madres, que
estavam na capela... O tipo seguiu atrás dele, mas a irmã Dita quis ouvir o que
João tinha a dizer.
Depois de conhecer as reclamações de João, a madre ficou mais atenta até
confirmar que o funcionário representava mesmo perigo às crianças. Roberto foi
demitido e para o seu lugar foi contratado um tipo simpático, que conquistou a
confiança das religiosas.
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O novo monitor se chamava Rodrigues, era filho de
italianos e tinha acabado de sair do exército... O que os meninos não aprovavam
em sua conduta era o contato muito próximo, que ele parecia gostar de manter...
De fato, os internos começaram a se afastar dele. Vários meninos reclamaram do
assédio que sofriam do tipo durante as noites... Um deles teve a ideia de
dormir com um cutelo para se defender no caso de ser atacado pelo malfeitor...
João Bosco chegou a articular um plano com outros dois companheiros. Sua
ideia consistia em derrubar uma parede sobre o monitor... Fariam isso durante a
noite com um trator de esteiras que estava a serviço do asfaltamento da estrada
que chegava ao internato... Aprenderam a conduzir a máquina, mas ao se
aproximarem de seu intento desistiram da ideia... Apesar disso, a ação dos
meninos chamou a atenção das religiosas...
Rodrigues acabou demitido e denunciado, porém se
livrou de qualquer complicação com a justiça... Holocausto Brasileiro destaca que aqueles eram tempos em que crimes
contra as crianças eram acobertados.
Quando completou 13 anos, João Bosco (com outros sete internos do Padre
Cunha) teve de se mudar para o município de Antônio Carlos, onde viveria na
Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). Haviam se passado 14 anos
desde que o separaram de sua mãe.
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Um ano depois de ter sido expulsa do Colônia, Geralda casou-se e teve
mais três filhos (Décio, Dirceu e Elaine). Naturalmente sua angústia em
relação à falta de notícias sobre João era uma constante em sua vida... É bem
verdade que numa oportunidade chegou a visitar o patronato... Mas ela não se
sentia segura em relação às freiras que a afastaram do próprio filho e, sem
dinheiro, não tinha como visita-lo outras vezes. Seus pensamentos se tornaram
mais pesarosos quando ouviu que João Bosco havia sido transferido para a Febem...
Muitas dúvidas a torturaram e a pior de todas era a sua incerteza sobre a sobrevivência
do filho no novo internato. Pensava mesmo que ele poderia morrer na Febem.
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O marido de Geraldo faleceu... Então, ela teve de
dar conta de sustentar as três crianças sozinha. Tornou-se ainda mais
debilitada e trabalhou em casas de família. Não foram poucas as vezes em que conseguiu
matar a fome dos filhos com as sobras de comida que as patroas davam a ela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_25.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto