As mudanças ocorridas na Casa Amarela eram notórias... Vizinhos e médicos especialistas comentavam... Era comum manifestarem sua curiosidade e seu espanto a respeito do cotidiano do lugar, então pretendiam que a religiosa explicasse que tipo de procedimento havia adotado... Mas exatamente para não “ferir o orgulho dos médicos e seus diagnósticos complicados”, ela apenas sorria.
Os agregados de Mercês passaram a usar até roupas e sapatos! A madre viu que eles não se sentiam bem permanecendo nus. O acesso à vestimenta e aos calçados deixou-os maravilhados. No começo ofereciam resistência ao terem de tirar sapatos e sandálias antes de se deitarem ou tomar banho, mas aos poucos isso também foi sendo resolvido.
Além dessas significativas alterações, a religiosa decidiu que não haveria mais cabelos raspados... Dessa forma cada um poderia mostrar mais de sua personalidade.
Se os resultados estavam se revelando satisfatórios e atraindo profissionais mais comprometidos e afinados com a proposta da irmã Mercês, a reação da comunidade do entorno da Casa Amarela persistia preconceituosa... Dessa forma, as pessoas evitavam passar em frente ao local e atravessavam para o outro lado da rua quando tinham de prosseguir trajeto que passava pelo endereço.
Mercês convidava os moradores vizinhos para conhecerem o ambiente... Não eram poucos os que apenas a contragosto a atendiam... Mas paulatinamente, em vez do desprezo, notou-se que a comunidade passou a demonstrar aceitação e simpatia... Alguns passaram a levar presentes ao grupo de irmã Mercês, outros decidiram colaborar com o melhor que podiam oferecer (os préstimos de seu ofício)...
(...)
Então aconteceu que os moradores da Casa Amarela se
tornaram conhecidos, cada qual pelo próprio nome... Passaram a receber visitas
e, dessa forma, a barreira do preconceito foi se rompendo... Surpreendia o fato
de todos ali serem deficientes e totalmente dependentes, mas notava-se que viviam
alegres.
A Casa Amarela transmitia felicidade.
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A convivência foi um grande aprendizado e a madre insiste que a Fundação
Hospitalar de Minas Gerais tem uma dívida com eles... Enquanto viverem, devem
permanecer juntos... A casa deve ser deles, que se relacionam como irmãos.
Recentemente a irmã Mercês assumiu oficialmente, “no papel passado”, a
curatela dos que vivem no “Lar Abrigado”... O seu nome passou a constar no
documento de cada um deles... É como Arbex ressalta: “simbolicamente, (Mercês)
passou a ser a mãe dos meninos de Barbacena”.
(...)
O capítulo de Holocausto
Brasileiro que faz referências a todas essas últimas informações tratadas
por aqui é intitulado “A mãe dos meninos de Barbacena”... Essa parte do livro é
finalizada com as notícias a respeito de Antônio Martins Ramos (o Tonho).
Mercês o capacitou a andar sozinho... Ele até faz uso de ônibus para se
locomover por Belo Horizonte... Tonho ingressou em cursos de artesanato e
dança... Tornou-se popular e muito querido pelos vizinhos.
Em 2012 Tonho completou 50
anos. A irmã Mercês teve a ideia de proporcionar uma grande festa. E foi isso
mesmo o que ocorreu... O evento aconteceu no dia 30 de maio e contou com a
participação da comunidade, que acorreu ao “Pronto Atendimento do Centro
Psiquiátrico da Adolescência e Infância”.
O ambiente normalmente
carrancudo foi decorado com “motivos circenses” e o resultado foi perfeito... O
aniversariante e seus irmãos de Casa Amarela se comportaram exemplarmente. O
pároco local e nove professores de dança compareceram... Como se pode concluir,
a festa foi das mais animadas. A música era convidativa para a dança, e o que
se viu foi um congraçamento geral. “Não havia mais doentes, nem considerados
sãos. Havia apenas gente que se mostrou capaz de gostar de gente.”
Tonho teve um momento mais significativo de “centro das atenções”... Ele
tomou posse de um pandeiro e dançou por vários minutos. Todos aplaudiram e o
rosto do tímido aniversariante se iluminou... Recebeu presentes e muitos
abraços. Sua felicidade era contagiante.
“Ele sorria. Mercês chorava.”
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_17.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto