Alencar trata de acontecimentos anteriores nas cercanias do Paquequer... No final da “Lua das águas”, uma tribo de aimoré chegou à localidade para coletar frutos que serviriam para a preparação de vinhos, outras bebidas e alimentos que garantiriam sua provisão... Uma importante família dessa tribo foi atraída por animais que podiam ser caçados, foi assim que atingiram as margens do rio Paraíba. Eram quatro aimoré (“o selvagem, sua mulher, um filho e uma filha”), o índio em questão não era “um qualquer”, já que tratava-se do chefe da tribo... Sua filha era a mais bela índia daquele povo, e era disputada por todos os guerreiros aimoré.
(...)
Devemos lembrar que a difícil perseguição empreendida por Peri se dava
naquele domingo de tão agitados acontecimentos... Dois dias antes, porém, quando
ele estava empenhado na caçada à onça, percorria feliz pela floresta por estar
mais uma vez se dedicando aos caprichos que alegravam sua senhora... Seguia
entretido a imitar o canto do Saixê, que ele fazia produzir o nome de Ceci. De
repente, num pequeno regato, viu que um cãozinho saía agitado do mato... Depois
dele apareceu uma índia. Ela deu dois passos e caiu mortalmente ferida.
Obviamente isso chamou a atenção de Peri, que quis saber de onde a menina vinha
e por que estava abatida. Então ele conseguiu distinguir d. Diogo de Mariz e
dois aventureiros que o acompanhavam.
Peri ficou sabendo que o
rapaz estava caçando e acabou atingindo fatalmente a indiazinha... D. Diogo
lamentou-se, pois não se conformava em ter matado a infeliz... Enquanto isso o
cãozinho lambia a índia como que tentando reanimá-la... Ao mesmo tempo ele
esfregava seu pelo nos ferimentos dela... Os dois aventureiros se divertiam
muito com o resultado da caçada do “patrãozinho”.
Peri viu que o cãozinho farejou o ar e seguiu
velozmente por uma determinada direção da floresta... Então aconselhou o irmão
de Cecília a retornar para a casa do Paquequer. Aquele episódio o fez refletir
com amargura, pois se recordou do seu povo abandonado por ele há muito tempo...
Lembrou-se que todos viviam muito bem e felizes antes da chegada dos
aventureiros portugueses... Também eles, naquele mesmo momento, poderiam estar
sendo mortos por homens como d. Diogo.
Na sequência, Peri caminhou por meia légua e avistou os familiares da
indiazinha morta. Seu pai era “gigantesco” e comia a carne da capivara caçada
enquanto afiava a sua lança numa pedra... Seu filho recolhia sementes pretas e
vermelhas num fruto oco ornamentado com penas... A índia “cardava uma porção de
algodão”. Junto ao fogo havia um vaso do qual a índia fazia sair espessa
fumaça, que era aspirada pelos outros dois... O fumo tanto ardia que extraía lágrimas
dos dois guerreiros. Eles não deixavam suas tarefas de lado.
Peri viu o cãozinho chegar até a família da indiazinha morta. Saltando,
mordeu as penas que o irmão dela carregava junto ao corpo... Queria que o
seguissem, mas o garoto empurrou-o. O cãozinho voltou-se para a mãe da
indiazinha, e também foi rechaçado... Então ele atirou-se sobre o algodão e, assim,
recebeu a atenção que desejava.
A índia viu que ele estava manchado de sangue, mas não notou nenhum
ferimento aparente... Naturalmente ela tirou conclusões dramáticas a respeito
do sangue colado em seu pelo... A mulher passou a gritar desesperadamente e
dessa forma atraiu a atenção dos outros dois. Ela mostrou-lhes o sangue no
animal e proferiu palavras que Peri não conseguia entender.
A família aimoré seguiu o cãozinho, que voltava em disparada pelo
caminho de onde viera... Peri calculou que d. Diogo já devia estar fora de
perigo no casarão... O episódio do ataque a Cecília em seu momento de banho (no
agitado domingo) esclarecia que o atentado era uma vingança... Então, a partir
da leitura deste trecho, ficamos sabendo que Peri havia assassinado o pai
(líder aimoré) e o irmão daquela que foi morta pelo filho de d. Mariz.
A índia que Peri seguia pela floresta era a mãe
da indiazinha assassinada por d. Diogo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-os-aimore.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto