quinta-feira, 25 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Segunda novela do segundo dia – contada por Filóstrato – Primeira Parte – considerações sobre são Juliano, o protetor dos viajantes; Rinaldo d’Asti, um mercador; em sua viagem cavalgou, sem saber, com três perigosos bandidos; os marginais trocaram ideias com ele enquanto aguardaram o momento propício para assaltá-lo; o mercador fala sobre suas orações habituais

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio_17.html antes de ler esta postagem:

A história de Martelino contada por Neífile rendeu boas risadas de suas companheiras... Filóstrato, que era o rapaz mais próximo à narradora, e que entre os moços era o que mais achou graça das confusões nas quais Martelino havia se envolvido, teve a incumbência de contar a segunda novela do dia.
(...)
Dirigindo-se às mulheres do grupo, o rapaz disse que contaria uma história que envolveria temas católicos, “desventuras e amor”... Ressaltou que o conteúdo traria advertências aos que costumam mergulhar a fundo nas paixões... E fez referências aos perigos que o desmedidamente apaixonado corre, sobretudo se não se precaver rezando o “padre-nosso de são Juliano” (que a nota esclarece ter sido um desventurado que, sem reconhecer pai e mãe, matou-os... Por esse pesar tornou-se penitente, deixando o convívio social e o dinheiro para viver numa casa bem simples que construiu às margens de um rio. Desde então hospedou a todos os que o visitavam e transportou os que necessitavam de travessia para o outro lado do rio... Durante a idade Média era considerado o santo protetor dos viajantes).
Filóstrato situa a sua história no tempo do marquês Azzo (de Ferrara)... Contou que o mercador Rinaldo d’Asti precisou deslocar-se até Bolonha devido aos seus negócios... Já em seu retorno, no caminho para Verona, encontrou três tipos que também seguiam estrada... O bom Rinaldo, que contava com apenas um serviçal, não sabia que se tratavam de ladrões que viviam de surripiar homens como ele, que cavalgavam por longos percursos. Aqueles bandidos tinham mesmo má conduta e péssimos antecedentes... Mas, também para se entreter, nosso ingênuo personagem prosseguiu na companhia do trio de malfeitores... Os tipos logo perceberam que ele era um mercador e decidiram que o roubariam.
Enquanto não chegava o momento propício, eles prosseguiram conversando com o bom homem... Rinaldo não desconfiava de nada porque os assuntos eram sobre “coisas decentes”... Além disso, os marginais se esforçavam por se apresentarem como pessoas de bom caráter e de boa condição... Eles conseguiam aparentar bondade e humildade, então Rinaldo considerava-se um privilegiado por prosseguir o caminho naquela companhia... Falavam sobre os mais diversos assuntos até que chegaram ao tema das “orações que os homens fazem a Deus”...
Um dos malfeitores quis saber qual era a oração que Rinaldo fazia enquanto seguia em suas viagens... O mercador respondeu com sinceridade que se tratava de um leigo naqueles assuntos e que em sua vida aprendera poucas orações... Arrematou que quando deixava a hospedaria era comum rezar um padre-nosso e uma Ave Maria em memória dos pais de são Juliano... Disse que pedia a Deus e ao santo a proteção e a graça de poder se hospedar numa boa estalagem ao final do dia de viagem... Revelou que já havia passado por vários perigos em suas andanças e que se livrara de todos eles, conseguindo passar boas noites em bons ambientes... Por si só, isso justificava a sua fé em são Juliano.
O bandido ouviu atentamente o relato do inocente mercador e quis saber se na manhã daquele dia ele havia feito as suas orações... Rinaldo evidenciou que sim. O bandido disse para si mesmo que a sua potencial vítima teria, de fato, necessidade daquela oração, pois se o mercador não estava totalmente sem dinheiro, passaria mal na próxima noite... Fazendo crer que se tratava de atencioso interlocutor, emendou dizendo que também era muito viajado e que, embora ouvisse muita gente recomendar aquelas orações, ele jamais orara para são Juliano ou a seus pais... Revelou que eventualmente pronunciava o Dirupiste, ou a Intemerata, ou o De Profundis recomendados por uma de suas avós... Garantiu que sempre acabava se instalando muito bem, e finalizou lançando a Rinaldo uma reflexão sobre qual dos dois finalizaria melhor o dia, se o mercador devotado, ou ele que não dedicava nenhum pensamento a são Juliano.
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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