sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Segunda novela do segundo dia – contada por Filóstrato – Segunda Parte – Rinaldo d’Asti foi mesmo assaltado; seus algozes o deixaram praticamente nu na glacial noite; o Castel Guglielmo e suas muralhas; a formosa viúva e seus encontros amorosos com o marquês Azzo; o mercador é ouvido e pede socorro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda.html antes de ler esta postagem:

O dia seguiu o seu curso, mas demorou até que os bandidos vissem a oportunidade que desejavam... À tarde, depois de passarem por Castel Guglielmo e atravessarem um rio, decidiram que o local “solitário e ermo” onde haviam chegado era propício... Então assaltaram o pobre Rinaldo, deixando-o apenas “em camisa” e sem cavalo... Seu criado, percebendo que a situação se complicava, tratou de sair em disparada seguindo para o castelo, onde conseguiu se instalar.
Os salafrários partiram dizendo que o mercador devia seguir o seu rumo e buscar a boa estalagem que são Juliano “sempre lhe garantiu”, se é que conseguiria algum repouso... Troçavam, afirmando que o “santo” deles proporcionar-lhes-ia uma boa noite. Rinaldo permaneceu ali, abandonado, em camisa e descalço... Sofreu com o frio, pois a neve caía com intensidade.
A escuridão da noite já se fazia presente e o bom homem em vão procurava algum abrigo onde pudesse repousar sem que a morte o alcançasse. O problema é que a região onde se encontrava havia sofrido com uma recente guerra, e as residências de outrora estavam destruídas e incendiadas... Foi o desespero que o levou a correr para Castel Guglielmo. Seu pensamento era um só: atravessar a muralha da grande construção e, se isso ocorresse, entenderia que Deus ainda olhava por ele... O nosso personagem sequer desconfiava do paradeiro de seu serviçal... O frio e a escuridão da noite tornavam a distância (mais ou menos uma milha) um tremendo desafio.
Só muito tarde da noite, Rinaldo conseguiu chegar ao seu objetivo, mas as portas já estavam trancadas e as pontes levadiças estavam erguidas. Desolado, triste (em prantos mesmo) procurou um cantinho onde pudesse se recolher sem que a neve o cobrisse... Mesmo naquele breu, avistou uma casa fincada junto à muralha do castelo... Seu teto “projetava-se para fora”. Então considerou que poderia se abrigar embaixo daquela construção até o amanhecer. Notou uma porta e, junto a ela, se acomodou todo encolhido. Cobriu-se com um velho colchão que encontrou na proximidade... Esgotado, não poucas vezes recordou-se de são Juliano e lamentou... Tinha certeza de que sua fé não era merecedora de tamanho castigo.
Acontece que ali onde Rinaldo se acomodou era o fundo da casa onde vivia uma formosa viúva (Filóstrato destaca que se tratava de “mulher tão linda de corpo como as que mais lindas o fossem”). Ela era constantemente visitada pelo marquês Azzo, que a amava tanto quanto a própria vida... Como podemos deduzir, o nobre homem mantinha encontros prazerosos secretos naquela casa...
Naquela fatídica noite para Rinaldo, o amante recomendou à adorada viúva que lhe preparasse um banho e “magnífica ceia”... Mais uma vez passariam a noite juntos... A certa altura, porém, em vez do marquês, bateu à porta o seu criado mensageiro para comunicar que devido a graves imprevistos o seu senhor tivera de partir às pressas do castelo... Assim sendo, a bela viúva não deveria esperar pelo seu amante para aquela noite. A solitária mulher ficou deveras chateada, mesmo assim não estava disposta a desperdiçar nem o banho nem a magnífica ceia que havia preparado para o marquês... Decidiu tomar banho imaginando que sua noite seria solitária.
Mas enquanto banhava-se ouviu gemidos e lamúrias que vinham do lado de fora do castelo... Sabemos que se tratava do pobre Rinaldo, que estava encolhido exatamente próximo ao banheiro onde a bela viúva se banhava. A mulher pediu que a sua criada fosse até a parte alta da casa onde pudesse observar o outro lado da muralha para saber quem estava agonizando ali próximo à porta. A mulher fez o que lhe havia sido solicitado e conseguiu notar Rinaldo em seu lastimável estado, descalço, em camisa, encolhido e a padecer de tanta friagem. Ela perguntou quem era e o que fazia ali em tão adversa condição.
Tremendo muito e economizando nas palavras, o mercador explicou o que havia se sucedido com ele. Ao fim de seus esclarecimentos implorou à outra que não permitisse “que ele morresse de frio ao relento daquela noite”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda_2684.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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