Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda.html
antes de ler esta postagem:
O dia seguiu o seu
curso, mas demorou até que os bandidos vissem a oportunidade que desejavam... À
tarde, depois de passarem por Castel Guglielmo e atravessarem um rio, decidiram
que o local “solitário e ermo” onde haviam chegado era propício... Então
assaltaram o pobre Rinaldo, deixando-o apenas “em camisa” e sem cavalo... Seu
criado, percebendo que a situação se complicava, tratou de sair em disparada
seguindo para o castelo, onde conseguiu se instalar.
Os salafrários partiram dizendo que o mercador devia seguir o seu rumo e
buscar a boa estalagem que são Juliano “sempre lhe garantiu”, se é que
conseguiria algum repouso... Troçavam, afirmando que o “santo” deles
proporcionar-lhes-ia uma boa noite. Rinaldo permaneceu ali, abandonado, em
camisa e descalço... Sofreu com o frio, pois a neve caía com intensidade.
A escuridão da noite já se
fazia presente e o bom homem em vão procurava algum abrigo onde pudesse
repousar sem que a morte o alcançasse. O problema é que a região onde se
encontrava havia sofrido com uma recente guerra, e as residências de outrora
estavam destruídas e incendiadas... Foi o desespero que o levou a correr para
Castel Guglielmo. Seu pensamento era um só: atravessar a muralha da grande
construção e, se isso ocorresse, entenderia que Deus ainda olhava por ele... O
nosso personagem sequer desconfiava do paradeiro de seu serviçal... O frio e a
escuridão da noite tornavam a distância (mais ou menos uma milha) um tremendo
desafio.
Só muito tarde da noite, Rinaldo conseguiu chegar ao
seu objetivo, mas as portas já estavam trancadas e as pontes levadiças estavam
erguidas. Desolado, triste (em prantos mesmo) procurou um cantinho onde pudesse
se recolher sem que a neve o cobrisse... Mesmo naquele breu, avistou uma casa
fincada junto à muralha do castelo... Seu teto “projetava-se para fora”. Então
considerou que poderia se abrigar embaixo daquela construção até o amanhecer.
Notou uma porta e, junto a ela, se acomodou todo encolhido. Cobriu-se com um
velho colchão que encontrou na proximidade... Esgotado, não poucas vezes
recordou-se de são Juliano e lamentou... Tinha certeza de que sua fé não era
merecedora de tamanho castigo.
Acontece que ali onde Rinaldo se acomodou era o fundo da casa onde vivia
uma formosa viúva (Filóstrato destaca que se tratava de “mulher tão linda de
corpo como as que mais lindas o fossem”). Ela era constantemente visitada pelo
marquês Azzo, que a amava tanto quanto a própria vida... Como podemos deduzir,
o nobre homem mantinha encontros prazerosos secretos naquela casa...
Naquela fatídica noite para Rinaldo, o amante recomendou à adorada viúva
que lhe preparasse um banho e “magnífica ceia”... Mais uma vez passariam a
noite juntos... A certa altura, porém, em vez do marquês, bateu à porta o seu
criado mensageiro para comunicar que devido a graves imprevistos o seu senhor
tivera de partir às pressas do castelo... Assim sendo, a bela viúva não deveria
esperar pelo seu amante para aquela noite. A solitária mulher ficou deveras
chateada, mesmo assim não estava disposta a desperdiçar nem o banho nem a magnífica
ceia que havia preparado para o marquês... Decidiu tomar banho imaginando que
sua noite seria solitária.
Mas enquanto banhava-se ouviu gemidos e lamúrias que vinham do lado de
fora do castelo... Sabemos que se tratava do pobre Rinaldo, que estava
encolhido exatamente próximo ao banheiro onde a bela viúva se banhava. A mulher
pediu que a sua criada fosse até a parte alta da casa onde pudesse observar o
outro lado da muralha para saber quem estava agonizando ali próximo à porta. A
mulher fez o que lhe havia sido solicitado e conseguiu notar Rinaldo em seu
lastimável estado, descalço, em camisa, encolhido e a padecer de tanta friagem.
Ela perguntou quem era e o que fazia ali em tão adversa condição.
Tremendo muito e economizando nas palavras, o
mercador explicou o que havia se sucedido com ele. Ao fim de seus
esclarecimentos implorou à outra que não permitisse “que ele morresse de frio
ao relento daquela noite”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda_2684.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto