sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Segunda novela do segundo dia – contada por Filóstrato – Parte final – o mercador Rinaldo foi recolhido pela bondosa viúva; restabelecido pelo banho e ceia, entende-se com sua anfitriã; o final feliz contém bem mais do que a recuperação de seu cavalo, roupa e dinheiro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda_26.html antes de ler esta postagem:

A criada narrou à sua patroa sobre a deplorável situação do comerciante assaltado... A viúva encheu-se de piedade e decidiu que permitiria a sua entrada na casa. Ela possuía a chave daquela porta que o marquês usava como “passagem secreta” e não titubeou em usá-la... Assim, ela autorizou a criada a abrir a porta para garantir uma restauração digna ao sofrido Rinaldo.
A serviçal ficou satisfeita com a decisão da patroa, que decidiu que o homem poderia se banhar e vestir as roupas de seu falecido marido... No quarto onde foi instalado, Rinaldo passou a agradecer a Deus e a são Juliano por livrá-lo da friagem impiedosa... Então, apesar de todo o sofrimento pelo qual havia passado e de ter lamuriado a má sorte anteriormente, reconhecia que era graças a Deus e a são Juliano que o seu dia, mais uma vez, poderia terminar de modo satisfatório em boa estalagem.
A piedosa viúva esforçou-se para acender a lareira e pediu à criada que trouxesse o seu hóspede para se alimentar... Rinaldo apareceu na sala reverenciando a sua anfitriã e agradecendo-a do mais polido modo. A mulher considerou-o digno de elogios e pediu que se sentasse ao seu lado, próximo ao calor da lareira. Ela quis saber o que havia se sucedido com ele. Pacientemente Rinaldo contou-lhe os detalhes de sua desventura... A mulher demonstrou reconhecer vagamente aquele drama, pois o criado de Rinaldo havia se refugiado no castelo e falava-se sobre os danosos episódios que o levaram até ali... Então ela disse que no dia seguinte, devidamente recomposto, ele poderia reencontrá-lo.
Os dois cearam e a viúva notava que Rinaldo era um tipo apresentável... Meia idade, elevada estatura, bons hábitos e agradável companhia... Sem que este percebesse, ela prestava minuciosa atenção à sua fisionomia e procedimentos. Aos poucos foi se interessando por ele. Seu “apetite concupiscente” estava bem desperto, já que a visita do marquês havia resultado em frustrada.
Depois da refeição, Rinaldo permaneceu próximo à lareira... Enquanto isso, a viúva consultou a opinião de sua criada a respeito de seu “apetite” em relação àquela inesperada visita... Ela quis saber se faria bem em aproveitar a ocasião que a Sorte lhe proporcionara... Essas coisas... A criada bem entendia o desejo de sua senhora e sentenciou que ela podia se satisfazer como bem entendesse, pois não via mal nenhum em sua condição... Então a viúva retornou para perto de Rinaldo e com o olhar repleto de desejo começou a dizer que ele poderia ficar tranquilo por tudo o que lhe havia sucedido. Ela garantia que seu cavalo e vestes seriam recuperados. Disse que ele podia se sentir como se estivesse na própria casa...
A mulher arrematou essa conversa falando que tinha vontade de abraçá-lo e beijá-lo desde que o vira vestido com as roupas do falecido marido... Fez questão de destacar que ele se parecia com o falecido, e que só não o abraçara e beijara até então por temer a sua reprovação.
Como vemos a condição de Rinaldo alterou-se completamente. Obviamente ele só podia estar muito grato à viúva... Colocou-se inteiramente à sua disposição... De sua parte, garantiu que se esforçaria por satisfazê-la em tudo o que ela considerasse necessário. Sim, ela poderia abraça-lo e beijá-lo, pois ele a abraçaria e beijaria com entusiasmo e sinceridade...
E foi assim que o casal teve a sua noite de ardentes desejos satisfeitos... Logo que o novo dia raiou, a viúva explicou que deveriam se recompor de modo que ninguém suspeitasse do encontro que tiveram... Entregou a Rinaldo roupas bem surradas e deu-lhe bastante dinheiro... Explicou que deveria retirar-se para novamente adentrar os muros do castelo e, assim, reencontrar o seu criado. Explicou que a noite de amor que tiveram deveria ser mantida em completo segredo.
Rinaldo fez conforme o que havia sido combinado... Não havia quem não dissesse que ele só entrara no castelo ao amanhecer do novo dia... Reencontrou o criado e malas com roupas... Então se vestiu decentemente e quis montar o cavalo de seu serviçal, mas para a sua surpresa os três bandidos haviam sido presos e levados para o castelo... Ali confessaram o crime que haviam cometido contra o mercador Rinaldo, que pôde recuperar cavalo, roupas e dinheiro...
Rinaldo agradeceu mais uma vez a Deus e a são Juliano... Podia, enfim, seguir viagem... No dia seguinte os três malfeitores foram enforcados.
Fim da (décima) segunda novela.
Continua?
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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