sexta-feira, 5 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – o fim do primeiro dia; Pampineia escolhe a nova rainha; a tímida Filomena propõe a continuidade dos procedimentos aprovados por todos; ideia de um “tema gerador” para as próximas narrativas; Dioneio e seu pedido; cânticos e danças no encerramento

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-decima.html antes de ler esta postagem:

Quando Pampineia finalizou a sua narrativa, o sol já “se inclinava para o Vésper”... O dia estava terminando, o calor já não era intenso... Foram dez novelas narradas por sete moças e três rapazes... O “reinado de Pampineia” chegaria ao fim com o “tombar da noite”, mas àquela altura nada havia que pudesse ser ordenado por ela... Então disse que indicaria uma “nova rainha”, e destacou que as jornadas seguintes deviam ser iniciadas no mesmo momento em que ela dava por finalizada a sua liderança... Então, naquele instante, passou a grinalda de louro para Filomena, que reverenciou como “moça discreta” e “rainha da próxima jornada”, ou seja, do segundo dia.
Todas as demais, e também os rapazes, reverenciaram Filomena... E se mostraram prontos para se submeterem às ordens que ela viesse a definir... A nova rainha, de fato tímida, encheu-se de energia para demonstrar que tinha o vigor necessário para comandar. Assim, esclareceu as providências que tomaria em seu reinado... Todos a ouviram atentamente dos lugares onde estavam desde o fim da narrativa de Pampineia.
Ela se pronunciou com modéstia, e deixou claro que o grupo seguiria um programa que seria o resultado da junção entre o seu critério e o de todos os participantes da jornada... Na sequência, disse que os procedimentos adotados por sua antecessora foram dignos dos elogios de todos e, sendo assim, não tinha a menor intenção de mudá-los... Ressaltou que uma mudança se justificaria apenas em caso de a rotina tornar-se cansativa... Depois disso, ordenou que se pusessem de pé para que pudessem se divertir um pouco... Emendou que, depois disso, “quando o sol quase desaparecer”, jantariam ao ar livre, cantariam canções e fariam outros divertimentos até o momento adequado para dormir...
Explicou que no dia seguinte levantariam cedo e que se entreteriam em algum lugar agradável, onde cada um poderia fazer o que bem quisesse... A exemplo do que fizeram no primeiro dia, a refeição ocorreria após os primeiros divertimentos... Deixou claro que planejava os momentos para a dança e a sesta... Na sequência viriam as novelas... E Filomena fez questão de destacar que nas narrativas concentravam-se “prazer e utilidade”.
A rainha ainda fez uma observação restringindo a temática das novelas que seriam narradas durante a jornada por ela chefiada... Ela propôs um “tema gerador”: desde que o mundo é mundo, a criatura tem sido levada a diferentes situações pela Sorte; igualmente o será no futuro, até a consumação dos séculos... Todos deveriam falar de pessoa que, instada por vários acontecimentos, além de o ser igualmente pela esperança, tenha atingido um fim agradável.
Todos demonstraram aprovação e deram a entender que prestariam obediência a essa orientação... Assim que silenciaram, Dioneio manifestou que aprovava e elogiava a ordem transmitida... No entanto, pediu licença para solicitar maior liberdade em sua narrativa... Gostaria de não ser obrigado a tratar do tema proposto... E fez a solicitação manifestando que desejava que assim se sucedesse enquanto permanecessem juntos... Destacou que poderia não estar disposto ou inteiramente afinado ao tema... Concluiu dizendo que o seu pedido não significava que não tivesse narrativas que pudessem ser desenvolvidas a contento... Desejou, enfim, que pudesse ser o último relacionado a narrar a novela.
Filomena, entendendo que Dioneio era tipo alegre que gostava de entreter aos demais, esclareceu que ele poderia, com sua novela cômica, aliviar o grupo de eventual cansaço em relação às demais narrativas... Depois de consultar a opinião de todos, a rainha fez concessão ao seu pedido.
(...)
Depois desses esclarecimentos e resoluções, o grupo seguiu para uma corredeira de águas límpidas que escorriam por pedras e ervas rasteiras... Num vale repleto de árvores que proporcionavam confortáveis sombras, puseram-se a andar e a brincar com a água... Mantiveram-se folgadamente descalços e de braços nus... Depois seguiram para o palácio, onde jantaram e tocaram instrumentos musicais... Filomena ordenou que Laurinha comandasse a dança e que Dioneio tocasse alaúde... Emília cantou versos de conteúdo humanista...

Amo tanto a minha beleza
que jamais preocupações vou ter
com outro amor; nem penso sequer
que outro amor exista, com certeza.

O mundo estava envolto em desesperança e na crença de que só a remissão dos pecados proporcionaria a salvação, já que o “amargo fim” era uma certeza próxima... Mas não para aquele grupo, que prosseguia buscando momentos de alegria e prazer... Todos dançaram e refletiram sobre o que a canção dizia... “Outras modinhas foram cantadas e dançadas”...
Mais tarde a rainha encerrou a jornada... As tochas foram acesas e todos se retiraram, cada um para o seu dormitório.
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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