segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – uma introdução para o registro de 10 de maio de 1894; visita de seu Juca Parrudo à horta de seu Alexandre; salsas para o “trato das urinas”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_25.html antes de ler esta postagem:

Segue uma introdução para mais esta postagem sobre o diário de Helena Morley:

No primeiro mês deste ano passei por maus momentos devido a umas dores renais... Os médicos diagnosticaram cálculos (bem pequenos, mas doloridos demais).
Tive de tomar remédios que provocaram efeitos colaterais, pois tive desconfortos estomacais e intestinais... Recebi muitas informações sobre os perigos do mal funcionamento dos rins e a respeito da urgência dos tratamentos. Algumas mensagens que enviaram eram bem catastróficas e assustam a qualquer um.
Também mandaram propostas alternativas de tratamento e prevenção... Uma delas sobre a “milenar medicina chinesa” que sugere a ingestão de “chás de salsinha”, muito bons para a limpeza do aparelho renal.


(...)

Como se pode observar, os registros de Morley em seu diário de menina nos possibilitam esboçar um panorama do cotidiano provinciano na região de Diamantina de fim de século XIX...
Quem lê o texto completo acaba se identificando mais com certos relatos do que com outros e elege alguns deles como imperdíveis...
Até o momento destacamos recortes sobre as origens da família de Helena, um pouco sobre os avós católicos, um pouco sobre o avô inglês... Também há a postagem (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_24.html) sobre as festividades religiosas daqueles tempos e a mobilização dos negros durante a “Festa do Rosário”.
Prosseguiremos com outros recortes sem a intenção de tratar da totalidade do livro... Já deu para perceber que a seleção que organizei não leva em consideração a ordem cronológica... Alguns temas não podem “passar em branco”: as superstições; as passagens da escravidão para a “vida livre”; a “educação formal” das normalistas e o cotidiano nas escolas; as discussões sobre política; o comércio e hábitos alimentares; trabalho e lazer de jovens e adultos... E muito mais.
Vamos ver até onde iremos com as narrativas...
(...)
Para esta postagem reservei informações do registro feito a 10 de maio de 1894.
Na manhã daquela quinta-feira, Helena estava passando roupas a ferro quando bateram à porta de sua casa. Certo Juca Parrudo pretendia falar com seu Alexandre.
Helena levou-o à horta, onde o pai organizava os canteiros. Assim que os dois iniciaram a conversa, a garota abandonou sua tarefa doméstica... Ela mesma afirma que não perdia “conversa de gente grande”. Ela tinha uma curiosidade a respeito da filha de criação de seu Juca, Maria da Conceição, e não podia perder a oportunidade de ouvir o que tinham a dizer.
(...)
O homem ficou contente por encontrar seu Alexandre e foi dizendo que gostaria que este lhe “arranjasse umas salsas”... E por quê? Porque lhe ensinaram que elas eram muito “boas para as urinas”.
Seu Juca explicou que um conhecido, Sebastião Coruja, dissera que só mesmo com o seu Alexandre é que ele poderia conseguir as salsas e que se não encontrasse “na horta do Alexandre, não encontraria mais em parte nenhuma”, pois “só lá é que ele não passa sem essas coisas”.
Seu Juca comentou que, de fato, Sebastião Coruja tinha razão porque a horta estava muito bonita... Acrescentou que aquilo só podia ser porque seu Alexandre era “de outra raça”... Haveria outra explicação? Todos na Diamantina possuíam hortas, mas ninguém as tratava como ele. E emendou que ainda seguiria o exemplo.

(...)

Achei interessantíssimo...
Enviaram-me mensagens quando estive mal dos rins... Citaram a “milenar medicina chinesa” no tratamento e limpeza dos órgãos.
O fragmento escolhido nos dá conta de que, também no Brasil, há muito tempo já se conhecia os benefícios da salsa “para as urinas”.
Evidentemente não foi este o conteúdo da conversa que interessou à menina Helena. O que ela esperava ouvir de seu Juca dizia respeito à sua filha de criação.
Mas isso fica para a próxima postagem.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_48.html
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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