Passepartout também começava a perceber que o patrão não pretendia ficar por muito tempo em Bombaim... As compras que tinha de fazer e a ordem de chegar à estação antes das 20:00 eram indícios de que a aposta de volta ao mundo em oitenta dias parecia ser séria... Não podia sustentar que retornariam para Londres depois de chegarem a Calcutá. Pelo visto, ele que pretendia se estabelecer num emprego estável, teria de prosseguir na aventura.
(...)
Suas andanças por Bombaim depois de ter adquirido camisas e outras peças
indispensáveis o colocou diante de uma variedade tremenda de transeuntes... Armênios,
parses...
Sobre esses últimos, o
texto destaca que estavam em dias de festividades religiosas... Eram “descendentes
diretos dos seguidores de Zoroastro” e se destacavam por sua iniciativa em
relação aos negócios. Ainda de acordo com o texto, os parses deviam ser
entendidos como os mais rigorosos e inteligentes hindus. Por isso estavam entre
os mais ricos de Bombaim.
Em relação às festividades, pode-se dizer que a
comunidade celebrava “uma espécie de carnaval religioso”... Havia diversão em
meio às pessoas... Bailarinas ricamente adornadas acompanhavam uma procissão
pelas ruas... O som dos instrumentos era maravilhoso e as moças evoluíam uma
linda coreografia. Não foi por acaso que os olhos e ouvidos de Passepartout
tornaram-se mais atentos.
A curiosidade levou-o a acompanhar mais de perto o desfile. É claro que
o rapaz se esqueceu do tempo enquanto esteve entretido com o visual e os sons festivos.
(...)
No caminho para a estação, o francês admirou-se com o
pagode (templo) de Malebar-Hill e decidiu que precisava conferir o seu
interior.
Ele não tinha ideia de que nem todos os acessos religiosos hindus eram permitidos
aos ocidentais... Além disso, a entrada nesses espaços sempre foram marcadas
pelo mais profundo respeito... O ingressante tem o dever de descalçar-se tão logo
chegue à porta. Mas Passepartout não tinha conhecimento da cultura religiosa local.
O texto salienta que o governo inglês não pretendia alimentar
desentendimentos com os locais por motivos religiosos... Costumes perfeitamente
toleráveis não deviam gerar desconfortos que atrapalhassem os investimentos colonialistas,
o que de fato interessava.
É por isso que o governo punia exemplarmente os que desrespeitassem as
práticas religiosas em terras indianas.
(...)
Aconteceu que o criado de Phileas Fogg foi entrando no templo como
qualquer turista acessa
museus e ricas exposições exóticas... De fato, as
paredes possuíam decorações deslumbrantes, muitas delas em ouro. O francês não
escondia sua admiração.
Passepartout não entendeu
quando chegaram por trás e o derrubaram... Do chão, enquanto levava nervosos pontapés,
observou três sacerdotes brâmanes. Eles estavam furiosos, gritavam e batiam nele
enquanto arrancavam-lhe os sapatos e meias.
Passepartout levantou-se
como pôde... Defendeu-se desferindo socos contra dois dos homens que também se
atrapalhavam devido às longas túnicas que vestiam... Na sequência correu em
direção à saída, sendo acompanhado a certa distância pelo terceiro religioso.
Alcançou o lado
externo e correu o mais que pôde. Assim conseguiu livrar-se de seu perseguidor
e de outros hindus que atendiam ao seu apelo para capturar o fugitivo.
(...)
Pouco antes do horário da partida do trem, Passepartout chegou à
estação... Estava sem chapéu e sapatos, além disso perdera o pacote com as
compras.
Ao se aproximar do patrão, contou-lhe
sobre os episódios no pagode de Malebar-Hill... A certa distância estava o
inspetor Fix que a tudo ouviu com atenção.
(...)
Em relação a Fix, é bom que se saiba que ele passara o
tempo a perseguir o senhor Fogg... Percebeu que ele prosseguiria de trem até
Calcutá, então decidiu fazer o mesmo... Iria até onde fosse necessário para
prendê-lo.
(...)
Phileas Fogg chamou a atenção de seu empregado. Manifestou que esperava
que o rapaz não se metesse novamente em encrencas como aquela.
Passepartout, que não tinha argumentos para se
defender, abaixou a cabeça e seguiu o patrão.
Fix começou a subir no vagão
onde estava reservado o seu lugar... Todavia, no último instante, decidiu ficar
em Bombaim porque mudou os planos... Concluiu que tinha condições de prender o
seu suspeito se trabalhasse com a tese de “delito cometido em território hindu”
(a confusão que o francês arrumou no templo brâmane).
O trem deixou a estação e partiu no rumo da
escuridão.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de.html
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção
“Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto