Kapuscinski e seu “escudeiro” chegaram ao vilarejo de Santa Teresa.
Pobres choupanas de barro e cobertas com palhas abrigavam um grupo de soldados que havia acabado de deixar a área de combate... Os homens estavam visivelmente cansados e andavam desnorteados de um lado para outro.
O comandante viu o documento que ele trazia... Garantiu-lhe um jipe para levá-lo até Tegucigalpa... Todavia orientou retardar a viagem, pois a noite tornava alguns trechos intransitáveis, além disso, havia os riscos de emboscadas.
(...)
A partir do noticiário que o comandante ouvia pelo
rádio, Kapuscinski ficou sabendo que vários países se mobilizavam para colocar fim
à guerra entre Honduras e El Salvador.
O locutor dizia que esse
esforço era considerável não apenas entre os países da América Latina. Europa e
Ásia debatiam a respeito do impasse e, ao que tudo indicava, países da Oceania
e da África também se pronunciariam a respeito. Era de se estranhar o “silêncio
dos chineses” e também do Canadá.
Para o polonês, o governo de Otawa temia uma declaração que pudesse
comprometer a segurança do correspondente do país, Charles Meadows.
(...)
Na sequência o locutor noticiou o sucesso do
lançamento do Apollo 11 em direção à
Lua. Armstrong, Aldrin e Collins entravam para a “História da conquista
espacial” e “Houston recebia congratulações de todos os quadrantes do mundo”.
(...)
O dia mal amanheceu e Kapuscinski despertou o exausto soldado que o
acompanhara no dia anterior em sua retirada da zona de conflito no meio da
mata... Também o motorista responsável pela condição do jipe parecia muito
cansado.
Porém nada de grave ocorreu durante a viagem, que foi bem sucedida.
Em Tegucigalpa, ele conseguiu uma máquina de escrever e redigiu o telegrama com
as informações que havia coletado... O operador José Málaga enviou seu
telegrama antes dos textos dos demais jornalistas... A matéria sequer passou
pelos militares que faziam a censura sobre o noticiário de guerra (e isso nem teria
sentido, pois nenhum deles entendia polonês).
Logo os textos de Kapuscinski foram publicados nos jornais de seu país.
(...)
Os demais companheiros jornalistas também retornaram da mal sucedida
empreitada ao campo de batalha.
O repórter Enrique Amado
(da Rádio Mundo) contou que fora capturado por uma patrulha salvadorenha. O
mais correto seria dizer que se tratava de três tipos que serviam aos grandes
fazendeiros; eram milicianos conhecidos por seus atos de banditismo a serviço
de latifundiários.
Amado explicou que o
colocaram diante de um paredão, onde seria fuzilado... Ele mesmo explicou que
não lhe restou outra coisa a fazer senão permanecer em oração... Os tipos
retardavam a execução pelo prazer da tortura... Num determinado momento, Amado ”pediu
permissão para fazer necessidade”.
Os bandidos
autorizaram muito mais pela diversão que curtiam... Mas aconteceu que quando o
recolocaram no muro foram surpreendidos por um ataque de soldados hondurenhos.
Um deles foi atingido fatalmente... Os outros dois foram feitos
prisioneiros.
Os colegas se impressionaram com a narrativa de
Amado e não poucos entre eles entendiam que “um milagre o salvara”.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto