sexta-feira, 3 de junho de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – em Santa Teresa, soldados exaustos, notícias sobre os esforços de acertos diplomáticos para a guerra e sobre o sucesso do lançamento do Apolo11; um jipe para Tegucigalpa, telegrama para a PAP, notícias publicadas; Enrique Amado e o sufoco que passou nas mãos de milicianos a serviço de latifundiários salvadorenhos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/06/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_3.html antes de ler esta postagem:

Kapuscinski e seu “escudeiro” chegaram ao vilarejo de Santa Teresa.
Pobres choupanas de barro e cobertas com palhas abrigavam um grupo de soldados que havia acabado de deixar a área de combate... Os homens estavam visivelmente cansados e andavam desnorteados de um lado para outro.
O comandante viu o documento que ele trazia... Garantiu-lhe um jipe para levá-lo até Tegucigalpa... Todavia orientou retardar a viagem, pois a noite tornava alguns trechos intransitáveis, além disso, havia os riscos de emboscadas.
(...)
A partir do noticiário que o comandante ouvia pelo rádio, Kapuscinski ficou sabendo que vários países se mobilizavam para colocar fim à guerra entre Honduras e El Salvador.
O locutor dizia que esse esforço era considerável não apenas entre os países da América Latina. Europa e Ásia debatiam a respeito do impasse e, ao que tudo indicava, países da Oceania e da África também se pronunciariam a respeito. Era de se estranhar o “silêncio dos chineses” e também do Canadá.
Para o polonês, o governo de Otawa temia uma declaração que pudesse comprometer a segurança do correspondente do país, Charles Meadows.
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Na sequência o locutor noticiou o sucesso do lançamento do Apollo 11 em direção à Lua. Armstrong, Aldrin e Collins entravam para a “História da conquista espacial” e “Houston recebia congratulações de todos os quadrantes do mundo”.

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O dia mal amanheceu e Kapuscinski despertou o exausto soldado que o acompanhara no dia anterior em sua retirada da zona de conflito no meio da mata... Também o motorista responsável pela condição do jipe parecia muito cansado.
Porém nada de grave ocorreu durante a viagem, que foi bem sucedida. Em Tegucigalpa, ele conseguiu uma máquina de escrever e redigiu o telegrama com as informações que havia coletado... O operador José Málaga enviou seu telegrama antes dos textos dos demais jornalistas... A matéria sequer passou pelos militares que faziam a censura sobre o noticiário de guerra (e isso nem teria sentido, pois nenhum deles entendia polonês).
Logo os textos de Kapuscinski foram publicados nos jornais de seu país.
(...)
Os demais companheiros jornalistas também retornaram da mal sucedida empreitada ao campo de batalha.
O repórter Enrique Amado (da Rádio Mundo) contou que fora capturado por uma patrulha salvadorenha. O mais correto seria dizer que se tratava de três tipos que serviam aos grandes fazendeiros; eram milicianos conhecidos por seus atos de banditismo a serviço de latifundiários.
Amado explicou que o colocaram diante de um paredão, onde seria fuzilado... Ele mesmo explicou que não lhe restou outra coisa a fazer senão permanecer em oração... Os tipos retardavam a execução pelo prazer da tortura... Num determinado momento, Amado ”pediu permissão para fazer necessidade”.
Os bandidos autorizaram muito mais pela diversão que curtiam... Mas aconteceu que quando o recolocaram no muro foram surpreendidos por um ataque de soldados hondurenhos.
Um deles foi atingido fatalmente... Os outros dois foram feitos prisioneiros.
Os colegas se impressionaram com a narrativa de Amado e não poucos entre eles entendiam que “um milagre o salvara”.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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