De fato, a existência de Romulo Peredo foi marcada por polêmicas com autoridades, relacionamentos com muitas mulheres, aventuras, tragédias e desventuras.
Seus seis filhos tiveram as vidas encerradas de modo violento. O mais velho, que também se chamava Romulo, morreu num tiroteio iniciado por uma discussão de bêbados numa bodega de Trinidad. O rapaz tinha trinta e seis anos... Esteban tinha vinte e três anos e trabalhava como vaqueiro quando morreu após discussão com companheiros de ofício... Pedro contava vinte e cinco anos quando perdeu a vida num entrevero com bandidos.
Romulo Peredo teve seus três últimos filhos com sua oitava esposa...
Coco ingressou na guerrilha do Che e morreu com vinte e oito anos... Inti também participou da mesma guerrilha e, após o massacre dos combatentes, ainda sobreviveu por um ano como “guerrilheiro solitário” perambulando pela Bolívia. A “polícia de La Paz o fuzilou enquanto dormia”.
Como vimos, o mais jovem dos filhos de Romulo, Chato Peredo, frequentava o El Canto e liderava uma série de discussões entre os jovens estudantes... Sabe-se que pretendia vingar a morte dos irmãos... Seus companheiros estavam animados pelos ideais revolucionários, pelo exemplo do Che, e queriam derrubar o regime ditador...
Não demorou e se tornaram um grupo de jovens guerrilheiros dispostos a adentrar a floresta.
(...)
Na sequência Kapuscinski transcreveu o que ouviu da
fita magnética produzida por Guillermo Veliz, um daqueles revolucionários.
O grupo liderado por Chato contava setenta e cinco jovens estudantes...
Eles estavam inscritos num programa governamental de “combate ao
analfabetismo”. No dia 18 de julho de 1970 encontraram-se diante do Palácio
Presidencial, em La Paz. O ministro da Educação, Mariano Gumucio, fez um
discurso oficial destacando a importância de se combater o analfabetismo. A
autoridade agradeceu o despojamento dos jovens estudantes...
Foi uma pequena cerimônia de despedida dos rapazes.
Veliz destaca que os dois caminhões que os levariam para o interior
estavam repletos de mantimentos e de armas... Mas ninguém desconfiou que eles
pudessem estar tramando algo tão radical.
(...)
Na tarde daquele mesmo dia chegaram à mina de ouro South American
Placers, que era explorada por uma empresa da Califórnia... Os rapazes a
tomaram de assalto e explodiram o elevador... Dois técnicos da RFN foram feitos
reféns... Alejandro, que era o subcomandante da guerrilha telefonou para o
Palácio Presidencial para apresentar as exigências do grupo sublevado.
Os técnicos norte-americanos seriam libertados assim que o governo
soltasse dez companheiros que haviam colaborado com o Che. Eles estavam presos
e sofrendo tortura. Os rapazes sabiam que Loyola, a jovem que servira de elo
junto a Guevara, era quem mais sofria... Por esses motivos insistiam em sua
libertação.
Pelo visto o exército
aceitou as exigências e aproveitou para obter trezentos mil dólares da
embaixada americana... Os militares disseram que aquilo era uma exigência dos
rebeldes... Algo que Veliz garantia ser “uma mentira deslavada”.
(...)
De madrugada o grupo já
estava há trezentos quilômetros de La Paz... Haviam chegado a Teoponte, mas
evitaram a pequena cidade, pois a mesma encontrava-se ocupada por grande
contingente militar.
Os jovens
guerrilheiros abandonaram os caminhões na estrada e penetraram a floresta.
Logo perceberam que sua jornada seria das mais
arriscadas... Era a primeira vez que a maioria deles deixava a cidade!
Evidentemente as forças de repressão tinham ideia definida sobre sua
posição, e é por isso que o exército sempre os acompanhou de bem perto...
(...)
Os dias se passaram...
Aviões voavam sobre eles constantemente, de dia e também à noite...
Não tiveram nenhuma trégua...
E para complicar ainda
mais, os militares haviam tomado estradas e ocupado até os pequenos povoados.
Não restava alternativa
senão a de se esconderem na selva e nas montanhas...
Adotaram a estratégia de
mudar de esconderijo várias vezes para não se tornarem alvos fixos dos
inimigos.
Então tiveram de manter marcha constante em terreno
que desconheciam totalmente.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto