Awolowo alimentava o desejo de se tornar o dirigente de todo o país. Essa situação se tornava ainda mais complexa na medida em que a Constituição Nigeriana daquele tempo (outorgada pelos ingleses) definia o “direito” do Norte dominar o Sul... Em outras palavras, os hausas, que habitavam a região menos desenvolvida, teriam o direito de governar a parte do país que tinha “economia mais dinâmica”...
Nos dizeres de Kapuscinski, tratava-se do domínio do “norte feudal” sobre o “sul burguês”.
(...)
O Action Group se apresentou como alternativa no “arranjo possível”
definido pelos ingleses. De fato, tratava-se de um partido dinâmico que recebia
grandes somas de dinheiro do próprio Awalowo.
Em
1959, às vésperas da independência do país (que Awalowo e demais membros do
Action Group ajudaram a conquistar), ocorreram eleições regionais. E também
para definir o Primeiro ministro da Nigéria... Awolowo renunciou ao cargo que
exercia no Leste para concorrer ao cargo maior.
Se vencesse,
concretizaria o seu sonho político...
Mas
ficou claro que nem hausas nem ibos votariam num ioruba.
(...)
Derrotado no pleito,
Awolowo não podia reassumir o posto que ocupara anteriormente, já que o seu
substituto, o chefe Samuel Ladoke Akintola não admitiu deixar o posto... Restou
ao líder ioruba liderar a oposição ao governo sem nunca admitir um governo comandado
por Akintola. Sabe-se também que ele abandonou uma postura inicialmente
pró-ocidente para defender a condição de “neutralidade” da Nigéria.
Akintola e seus
seguidores obtiveram o apoio do governo federal comandado por Balewa Tafawa,
que declarou “estado de emergência” na região ioruba... Em 1962 ocorreu a
prisão de Awolowo e de partidários (acusados de traição e desordem por
conspiração com os ganenses comandados por Kwame Nkrumah, que os auxiliariam a conquistar
o poder também nas terras vizinhas).
Os hausas parecem ter
aproveitado a crise para submeter os adversários iorubas... Conseguiram
condenar Awolowo a 15 anos de cárcere... A sentença foi reduzida para 10 anos e
o condenado foi removido para a prisão de Calabar, na região de fronteira com
Camarões.
(...)
Por tudo o que já foi
registrado, podemos concluir que a prisão de Awolowo resultou em trauma dos
grandes para a gente ioruba... Houve ruptura entre lideranças (sobre essa
questão da divisão política ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_23.html)... Akintola não abriu mão do poder... Balewa era o dirigente federal
que entendia que os partidários de Awolowo, por suas tendências separatistas, embora
tendo se saído vencedores das eleições, não podiam assumir o governo.
Essa divisão tornou-se ainda mais acirrada por conta da guerra civil...
No cenário externo os iorubas tornaram-se enfraquecidos e sem a menor
possibilidade de enfrentar politicamente os hausas e os ibos...
(...)
A prisão só fez aumentar o carisma de Awolowo...
Para seus seguidores, a prisão a que estava
submetido equivalia a um atentado para destruí-lo moralmente...
Aos poucos, a ideia
de que “queriam impedir que os iorubas se unissem em torno do espírito de
Oduduwa” ganhou força.
Pode-se dizer que a prisão “aumentou o prestígio político” de Awolowo...
E quanto mais se aprofundava a crise no país, mais se falava sobre ele.
Não foi por acaso que muitos textos em honra à divindade de Awolowo
foram produzidos (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_29.html)...
Os pensamentos dos iorubas “voltaram-se para o chefe”... Imaginá-lo
encarcerado e passando por tortura enchia o coração das pessoas de amargura.
Não
foram poucos os que, como Aintunde Lalude, escreveram a esse respeito...
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto