sábado, 2 de abril de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – o prestígio político de Awolowo permaneceu grande entre os iorubas; informações adicionais sobre os episódios nigerianos marcados por golpes e discussões em torno da Constituição; o fim do governo Gowon; fim da jornada de Awolowo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/04/a-guerra-do-futebol-de-ryszard.html antes de ler esta postagem:

Conforme ficou evidenciado em postagens anteriores, em pouco tempo, Awolowo se transformou no mito enaltecido pela maioria dos iorubas.
Não demorou e aquele povo passou a crer que também seria preenchido pelas qualidades mais elevadas de seu chefe.
O sentimento que passou a tomar conta do movimento era o de que ele precisava ser libertado... Depois de tantos anos, certamente ele traria soluções para os problemas mais profundos de sua gente.
Os iorubas o aguardavam na esperança de logo terem acesso ao seu “programa”, que seria seguido como a um Evangelho.
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Kapuscinski encerra suas considerações sobre a Nigéria assim...
Ele deixou o país envolvido na empolgação provocada pela libertação de Awolowo... Em terras iorubanas ninguém podia circular sem a fotografia do grande líder, pois corria o risco de ser linchado ou levar uma facada.
O jornalista teve oportunidade de presenciar eventos marcados pela aparição de Awolowo... Comparou a sua fisionomia ao do rosto exposto nas fotografias e sentenciou que se tratava mesmo de um tipo tranquilo, semelhante a um professor com seus óculos de grossas lentes...
Um tipo que falava pouco... Mas que pensava muito.

(...)

É bom que se saiba que Samuel Ladoke Akintola era o vice-líder do Action Group quando Awolowo se retirou do posto de primeiro-ministro da região oeste da Nigéria (iorubana). O desentendimento entre os dois provocou a retirada de Akintola e seus liderados do Action Group.
É desse rompimento que surge o NNDP (Nigerian National Democratic Party), que permaneceu no governo até 1966... O governo federal (Balewa) anulou a Constituição regional para legitimar a posse de Akintola (derrotado nas pelos partidários de Awolowo).
Enquanto esteve detido, Awolowo escreveu a respeito da situação política do país, tendo defendido o federalismo em seu “Reflexões sobre a Constituição da Nigéria”. Em janeiro de 1966, oficiais ibos derrubaram o governo Balewa (o premier e Akintola foram assassinados; por ocasião desse golpe também ocorreram perseguições e assassinatos de oficiais de outras etnias)... Esse acontecimento provocou a suspensão da Constituição do país.
Em julho do mesmo ano ocorreu outro golpe militar (este levou o tenente-coronel Yakubu Gowon ao poder e é tratado por Kapuscinski em seu “A Guerra do Futebol”)...
Gowon concedeu a liberdade para Awolowo e, mais que isso, convidou-o para compor o governo militar na condição de vice-presidente do Conselho Executivo Federal.
Em “A República Popular” (1968), Awolowo defendeu que a Constituição desse formato socialista ao país. Isso seria condição essencial para o desenvolvimento e bem estar da sociedade. Para ele, defensor de um regime civil, o governo militar tinha muito a contribuir naquele momento... No entanto, deixou claro que a divisão política (12 estados) não levava em consideração que, por causa da “demarcação”, etnias beligerantes teriam de conviver. Novas crises políticas deviam ser aguardadas.
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O tenente-coronel Odumegwu Ojukwu (oficial ibo) havia sido indicado para governar a região leste do país por ocasião do governo que se estabeleceu durante o primeiro semestre de 1966... No começo do ano seguinte ele proclamou a emancipação do Estado de Biafra...
Durante a “guerra Nigéria-Biafra” (1967-1970; sabe-se que Inglaterra e União Soviética forneceram armas ao governo Gowon; enquanto a França as fornecia aos rebeldes) Awolowo prosseguiu no governo também como comissário de finanças...
Depois do sanguinolento conflito, fez severas críticas aos gastos direcionados aos militares em vez de incentivarem o desenvolvimento do país.
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Embora não sejam elucidadas por Kapuscinski, as "contribuições sociais" de Awolowo foram muitas enquanto permaneceu no governo...
Em 1971 ele rompeu com o regime.
Em julho de 1975, um golpe (mais um) impôs o fim do governo Gowon (transferiu-se para o Reino Unido), acusado de “não combater a corrupção”. Anos mais tarde, prosseguiu sua vida política devotada a servir o continente.
Pouco mais de meio ano depois (fevereiro de 1976), novas agitações depuseram Murtala Muhammed (assassinado).
Awolowo concorreu às eleições presidenciais (1979; 1983) e foi derrotado por Shehu Shagari, que também sofreu golpe militar (o general Muhammad Buhari foi levado ao poder) no último dia de 1983.
Vale conferir esses golpes e outros que a Nigéria sofreu...
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Awolowo morreu no dia 9 de maio de 1987 em Ikenne, o mesmo lugarejo onde nasceu em 1909.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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