sexta-feira, 22 de abril de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a feira indígena de Quetzaltepec; o amigo Luis Soares e suas previsões certeiras sobre eventos políticos da América Latina dos anos 1960

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/04/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_20.html antes de ler esta postagem:

Kapuscinski ainda descreveu suas impressões sobre a feira indígena de Quetzaltepec, norte de Oaxaca (México)...
As famílias da tribo mixe habitam as áreas montanhosas da vizinhança... Logo de manhã chegam com suas mercadorias em cestos e em fardos. Tudo é acomodado no chão de terra, junto às acácias onde a atmosfera é mais fresca.
Os negociantes se posicionam silenciosamente e assim permanecem até o final do “expediente”... O autor expõe uma espécie de “tabela de preços” praticada por eles...
Pelo menos na segunda metade da década de 1960, cem laranjas eram negociadas a 2 pesos; o quilo do milho era vendido a 1,25; o de feijão custava 1,75; cem abacates custavam 3 pesos...
Despertava a curiosidade o fato de os vendedores não demonstrarem muito empenho para conseguir vender suas mercadorias... Também os frequentadores da feira pareciam não insistir em comprar ou pechinchar...
Conforme o dia avança e chega à metade o calor se torna insuportável... A feira termina... Os indígenas feirantes se encaminham para os “puestos de mezcal”, bares instalados ao redor da praça, para ingerir o destilado a partir do agave (bebida tão forte que a larva de borboleta colocada nas garrafas não se desmancha).
A garrafa de um litro era negociada a 4 pesos.
Homens, mulheres e crianças entregavam-se à celebração... A bebedeira se tornava geral... Ao final, maltrapilhos e cambaleantes, retornavam para as suas vilas sem qualquer féria nos bolsos.
(...)
De certa forma os fragmentos que Kapuscinski redigiu desde a sua chegada ao Chile dão a entender que ele conseguiu uma “síntese” a respeito da condição das “gentes latino-americanas”.
De certa forma, ao ter detectado “dramas e derrotas, humores, honra, traição e solidão do povo”, obteve sustentação às suas reportagens de análise sobre a política do continente no âmbito da Guerra Fria.
Instalado no México, conviveu com Luis Suarez, jornalista especialista em América Latina. Este lhe deu aulas sobre a realidade do continente, sobre o que era e como devia ser entendido...
(...)
Na sequência, o autor dedicou-se a descrever a “Guerra do Futebol”, reportagem que dá título à coletânea.
Ele mesmo destaca a intenção de (além disso) evidenciar “o destino do destacamento Chato Peredo” e “a morte de Victoriano Gomez”.
As últimas postagens a respeito deste livro de Kapuscinski estão bem próximas...

(...)

Sobre Luis Suarez, Kapuscinski diz que o jornalista havia acertado várias previsões políticas... Ele previra a queda de Goulart (Brasil), de Bosch (República Dominicana) e de Jimenez (Venezuela)...
Acertou! E acertou também quando disse que Perón ainda retornaria à presidência na Argentina, ou a respeito da morte de François Duvalier (Haiti).
O que despertou o interesse de Kapuscinski sobre Honduras e El Salvador foi a previsão do amigo a respeito de uma iminente guerra entre os dois países...
(...)
Corria o ano de 1969...
Por mais incrível que possa parecer, Suarez chegou àquela conclusão após ler uma reportagem sobre os confrontos realizados entre as seleções dos dois países (primeira quinzena de março) pelas eliminatórias da Copa de Futebol que ocorreria no México no ano seguinte.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas