sexta-feira, 29 de abril de 2016

Filme – Nise - O Coração da Loucura – Primeira Parte – considerações sobre a doutora; chegada ao Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro; tratamentos de choque e desprezo aos internos

“Nise – O Coração da Loucura” é filme de Roberto Berliner.
Seu enredo revela-nos um pouco sobre o maravilhoso trabalho da doutora Nise da Silveira, médica psiquiátrica que nasceu em Maceió (1905).
A obra não entra em detalhes, mas sabemos que ela estivera encarcerada após denúncia de envolvimento na Revolução de 1935 conduzida pelo pessoal da ANL, que tinha em Luís Carlos Prestes sua principal liderança (a “Intentona Comunista”).
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O filme começa com a chegada de Nise (vivida por Glória Pires) ao Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II em 1944. O local era um verdadeiro depósito de pessoas tidas como “mentalmente alienadas”.
O manicômio localizava-se em Engenho de Dentro, área afastada do centro da capital do país... Talvez para destacar a ideia de isolamento a que os doentes estavam submetidos naquele lugar, o cineasta “enche a tela” com uma grande parede de metal...
Nise chegou e teve de bater com insistência à porta (também revestida de metal) para que pudesse entrar... Ela seguiu imediatamente à sala onde ocorria uma conferência em que médicos faziam depoimentos e apresentavam slides sobre os avanços da medicina no tratamento de pacientes com distúrbios mentais.
Os profissionais eram todos homens... Quando Nise foi apresentada, não demonstraram receptividade. Eles estavam atentos às palavras sobre a importância de submeterem os doentes agressivos à lobotomia...
Na sequência outro médico falou sobre as vantagens da intervenção a partir dos choques elétricos... Fez isso demonstrando a aplicação num paciente que os enfermeiros conduziram até a sala. O interno estava muito agitado também porque o haviam amarrado à maca.
A cena é das mais chocantes... Conforme aumentaram a intensidade dos choques, o doente se agitou tentando se desvencilhar da maca... Aos poucos foi prostrando enquanto espumava pela boca.
Evidentemente Nise não se sentiu bem ao ver aquilo... E apesar de ter notado sua frágil condição num ambiente repleto de doutores machistas, não escondeu sua indignação... Quis saber sobre até que ponto os médicos conheciam aquele procedimento e sobre a intensidade de energia que devia ser aplicada... A resposta que ouviu deixou-a convencida de que o tratamento não passava de tortura física. 
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Depois desse primeiro contato, Nise não teve dúvida ao admitir à chefia imediata que não teria condições de submeter pacientes àqueles procedimentos... Simplesmente não concordava com eles e recusava-se a aplicá-los. Como alternativa propôs trabalhar no setor de terapia ocupacional, onde a verba destinada era bem pequena. Nenhum médico dava importância a essa parte do hospital.
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Nise não podia saber onde estava se “intrometendo”...
As cenas realizadas para exibir a conversa com o marido a respeito da sua iniciativa nos mostram o “modo de ser” de Nise... Muita simplicidade... Muito amor aos animais, notadamente aos gatos... Muita dedicação aos estudos.
Naquela mesma noite, funcionários do hospital se divertiam com os pacientes de modo repulsivo... Era comum juntarem vários deles num salão onde eram colocados para lutar... Apostas eram feitas...
Lúcio (interpretado por Roney Villela), um dos doentes de comportamento mais agressivo, era molestado com provocações que o levavam ao estado de extrema irritação... Faziam isso para vê-lo trocar socos, pontapés, mordidas e outras violências com outro doente qualquer.
O resultado era sempre o mesmo... O que mais apanhava ficava desfigurado e ensanguentado... No dia seguinte arranjavam uma desculpa qualquer para explicar os hematomas e inchaços espalhados por todo corpo... Ninguém questionava porque os doentes não podiam se explicar e, além do mais, todos sabiam que eram dados a todo tipo de extravagância.
Lúcio era trancafiado... Passava os dias como uma perigosa fera que podia avançar sobre inocentes.
Indicação (12 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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