quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

“A Guerra de Independência da Argélia” – considerações sobre o tema a partir de “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166 – fundação do GPRA; ultrarradicalismo militar e atuação da OAS; difíceis discussões em Évian, referendos e acordos de emancipação; Ben Bella, socialismo, política externa e acordos com a França

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/01/a-guerra-de-independencia-da-argelia_12.html antes de ler esta postagem:

Este texto e os das postagens anteriores têm como finalidade contribuir para uma melhor compreensão das exposições de Kapuscinski a respeito do panorama argelino em 1965.
Convém ressaltar que a leitura do capítulo referente à Argélia (in “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166; organizado pelo Comitê Científico Internacional da UNESCO) é de fundamental importância para a obtenção de um embasamento mais crítico a respeito dos temas neles evidenciados.


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A população não se empolgou com as promessas anunciadas pelo “plano de Constantine”... Os rebeldes da FNL entendiam que as reformas propostas por De Gaulle eram irrisórias frente às demandas argelinas...
As lutas prosseguiram com intensidade... Lideranças instaladas no Cairo fundaram o GPRA (Governo Provisório da República Argelina), que foi reconhecido por países socialistas e árabes.
O GPRA tinha sede em Túnis e era chefiado por Ferhat Abbas... Em 1961 ele tornou-se primeiro presidente do GPRA. Nessa ocasião o revolucionário Benyoucef Benkhedda passou a fazer parte do staff, tendo sido eleito segundo presidente (Mais a respeito desses dois líderes em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/01/a-guerra-de-independencia-da-argelia.html).
Abbas e Benkhedda se esforçaram para obter negociação junto aos franceses... Ao mesmo tempo De Gaulle notou que nem o plano para arrefecer os ânimos dos rebeldes nem as ações militares produziam resultados satisfatórios... Convenceu-se de que a ideia de uma “Argélia francesa” não se sustentava mais. 
(...)
Não bastasse a dificuldade de reconhecer a legitimidade e autoridade da FNL e do GPRA como interlocutores, os franceses ainda tiveram de enfrentar pressões iniciadas por oficiais em atuação na Argélia... Eles não admitiam as negociações que podiam resultar em autonomia e poder aos rebeldes... Muitos colonos apoiavam os militares que ficaram conhecidos como “ultrarradicais”.
Determinado a resolver a “questão argelina”, De Gaulle ordenou a prisão dos insurgentes e pediu para que as tropas se mantivessem leais a ele... Em janeiro de 1961 seu governo realizou um referendo junto à população francesa no país e na própria colônia... Os números indicaram que 75% aprovavam um acordo que resultasse em independência para a Argélia.
Em abril do mesmo ano ocorreu uma tentativa de golpe (“o putsch dos generais”) que apesar de fracassado deu origem a uma série de outros atentados terroristas organizados pelo grupamento clandestino criado por eles, a OAS (Organização Armada Secreta).
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Apesar da oposição dos golpistas, as negociações ocorreram em Évian...
Elas levavam em conta a permanência de considerável comunidade europeia na Argélia independente... Mas, na contramão de todos os esforços empreendidos pelos negociadores, as ações terroristas da OAS provocavam o êxodo em massa de milhares de colonos.
Houve muita discussão a respeito da demarcação do país que viria a surgir... Os franceses passaram a insistir que a Argélia fosse apartada de áreas do Saara onde haviam sido descobertos campos de petróleo e gás... Evidentemente a França tinha projetos para a exploração. Mas os delegados representantes do GPRA não abriram mão da integridade territorial do país.
O dia 18 de março de 1962 foi marcado pelos acordos que firmaram o fim da guerra... No primeiro dia de julho os argelinos participaram de referendo em que se declararam plenamente favoráveis à emancipação...
Ferhat Abbas (GPRA) chefiou um governo interino e a Assembleia Constituinte que referendou o nome de Ahmed Ben Bella para presidir o país...
(...)
Ben Bella concentrava o apoio de uma ampla maioria, inclusive dos comandantes do Exército de Libertação Nacional e da deliberação do congresso da FNL (que se realizara na Líbia).
O presidente concentrou muito poder ao assumir diversos cargos... Definiu uma política externa de engajamento na defesa das nações que viviam processos revolucionários... Promoveu o Socialismo ao iniciar a Reforma Agrária e uma série de nacionalizações...  Além disso, priorizou a FNL, estabelecendo o regime de partido único.
Em relação à França, seu governo deu prosseguimento a uma série de acordos econômicos e culturais... E não se pode dizer que tenha prejudicado os antigos colonos franceses e seus latifúndios...
É certo que boa parte da população aprovava sua administração, inclusive o orçamento que destinava à educação...
Mas além de todas as dificuldades elencadas em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/01/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_4.html e  http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/search?updated-max=2016-01-11T17:57:00-02:00&max-results=3, cabe ressaltar que Ben Bella teve de enfrentar sérios problemas de ordem política...
Ele desagradava a muitas personalidades reconhecidas por sua participação nas lutas de independência...
Tanto é que permaneceu na presidência apenas até 19 de junho de 1965, quando sofreu o golpe chefiado por Boumédiène...
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Leia: História Geral da África. MEC Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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