segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

“A Guerra de Independência da Argélia” – considerações sobre o tema a partir de “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166 – Ferhat Abbas e Benyoucef Benkhedda; assimilação ou resistência aos colonizadores, FME e PPA; a tão sonhada emancipação não ocorreu após o final da Segunda Guerra; agitações e Estatuto para a Argélia aprovado (imposto) pela Assembleia Nacional Francesa; o MTLD e as dificuldades de se chegar ao poder; Ben Bella e a “ação direta” como alternativa radical

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/01/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_5.html antes de ler esta postagem:

Este texto e os que seguem nas próximas postagens têm como finalidade contribuir para uma melhor compreensão das exposições de Kapuscinski a respeito do panorama argelino em 1965.
Convém ressaltar que a leitura do capítulo referente à Argélia (in “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166; organizado pelo Comitê Científico Internacional da UNESCO) é de fundamental importância para a obtenção de um embasamento mais crítico a respeito dos temas neles evidenciados.


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Não são poucos os que consideram que a independência da Argélia é processo que deve ser entendido a partir da atuação da FNL (Frente de Libertação Nacional)... A leitura de A Guerra do Futebol pode nos levar a pensar da mesma forma.
Essa organização fundada em meados da década de 1950 foi o resultado de uma longa luta marcada pela perseguição de associações políticas e de revolucionários... É bom que se saiba que já fazia muito tempo que algumas personalidades, especificamente da comunidade árabe, não mediam esforços para alcançar um tratamento menos opressor por parte da França...
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Esse era o caso de Ferhat Abbas e de Benyoucef Benkhedda, que pertenciam a um grupo social que teve acesso à formação superior...
Abbas era dos que se colocavam favoráveis a uma maior integração dos argelinos no contexto político limitado pela metrópole, dessa forma, eles teriam os mesmos direitos dos colonos franceses. Ele não pestanejou ao alistar-se voluntariamente no exército francês durante a Segunda Guerra Mundial... Depreende-se que Abbas e seu grupo político (FME – Federação dos Muçulmanos Eleitos), no início, não defendiam a emancipação da Argélia.
Diferentemente de Abbas, Benkhedda teve um passado marcado por rebeldia em relação às ideias de assimilação... Em 1942 ele se inscreveu no PPA (fundado por Messali Hadj em 1937, este Partido do Povo Argelino foi colocado na ilegalidade em 1939, junto com o PCA - Partido Comunista Argelino)...
Em plena Segunda Guerra Mundial, Benkhedda posicionou-se contrariamente em relação ao recrutamento de argelinos imposto pela França... Por causa disso acabou sendo preso e torturado.
Ferhat Abbas passou a liderar a Associação dos Amigos do Manifesto e da Liberdade... Ele mesmo havia ajudado a redigir o “Manifesto do Povo Argelino”, que problematizava a questão argelina apresentando teses sobre a necessária autonomia e (também) associação do país em relação à França... Apesar das diferenças ressaltadas anteriormente, o PPA associou-se aos defensores do manifesto...
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Não foram poucas as lideranças argelinas que acreditaram que França lhes concederia a tão almejada autonomia... O pós-guerra foi mesmo marcado por esse debate em todas as antigas colônias... Especificamente na Argélia a expectativa era alimentada por reformas sociais promovidas pelo próprio De Gaulle, então primeiro-ministro francês. Mas elas resultaram em frustrantes porque não atendiam às demandas da maioria da população...
Ocorreram muitos protestos que foram sufocados com extrema violência... Isso provocou uma reação exaltada dos argelinos... Colonos franceses foram mortos e o governo reagiu com mais violência ainda. Para tentar conter o movimento, a Assembleia Nacional (Paris) aprovou uma série de medidas que anunciavam certa autonomia política à Argélia... Passava-se a impressão de que os muçulmanos seriam tratados com respeito e em pé de igualdade em relação aos colonos franceses...
Fazia parte do “pacote de concessões” o direito de todo argelino aprender a língua árabe... Além disso, os que quisessem se mudar para a França em busca de trabalho poderiam fazê-lo sem maiores complicações... Inclusive, uma vez instalados na metrópole, poderiam praticar sua religião com total liberdade de culto.
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As eleições que ocorreram em 1948 deviam ser marcadas pelo “espírito das reformas políticas” tão propagadas anteriormente... Mas via-se claramente que na composição do Parlamento Argelino (regulamentada por Estatuto específico elaborado pela Assembleia Nacional francesa em 1947), colonos franceses e argelinos aculturados teriam representatividade bem superior à de árabes e berberes... Além disso, foram tomadas medidas para impedir que os candidatos vistos como “nacionalistas exacerbados” fossem eleitos... Sabe-se que a maioria (dos que pertenciam ao MTLD – Movimento pelo Triunfo das Liberdades Democráticas) acabou detida por forças especiais francesas... E como não se bastasse esse truculento ataque, as regiões onde os nacionalistas recebiam apoio foram prejudicadas de muitas outras formas.
Após esses episódios, em vez de protestos de rua, os franceses tiveram de lidar com “ações diretas” marcadas por ataques e ocupações de prédios públicos... Foi o que ocorreu, por exemplo, em 1950, quando Ahmed Ben Bella liderou uma ação nos Correios em Oran... Como muitos outros rebeldes, ele também era reconhecido pelos franceses por ter combatido ao lado de suas tropas durante a Segunda Guerra.
Para a população revoltada, Ben Bella tornou-se um símbolo da resistência... No ano seguinte ocorreram novas eleições e os mesmos procedimentos autoritários contra os nacionalistas foram adotados. Ficava evidente que a emancipação argelina não ocorreria através da via política ou diplomática...
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Leia: História Geral da África. MEC Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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