terça-feira, 12 de janeiro de 2016

“A Guerra de Independência da Argélia” – considerações sobre o tema a partir de “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166 – sequestro e prisão de Ben Bella; estratégia de sufocamento da resistência argelina; confinamento, campo de concentração; exigências militares e fim da IV República francesa; o “Plano Constantine”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/01/a-guerra-de-independencia-da-argelia_11.html antes de ler esta postagem:

O texto anterior, este e o da próxima postagem têm como finalidade contribuir para uma melhor compreensão das exposições de Kapuscinski a respeito do panorama argelino em 1965.
Convém ressaltar que a leitura do capítulo referente à Argélia (in “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166; organizado pelo Comitê Científico Internacional da UNESCO) é de fundamental importância para a obtenção de um embasamento mais crítico a respeito dos temas neles evidenciados.


(...)

Não foi por acaso que também em 1956 a França se viu em confronto direto com o presidente do Egito... Além da Nacionalização do Canal de Suez, Gamal Abdel Nasser (como consequência de seu posicionamento desde a Conferência de Bandung) desagradava por apoiar a revolução que ocorria na Argélia.
Pouco tempo depois do Congresso da FNL, Ben Bella e outras lideranças revolucionárias foram sequestrados por agentes franceses quando viajavam para a Tunísia em avião marroquino... Seu destino seria Roma, onde discutiriam uma saída pacífica com Guy Mollet (então primeiro-ministro da França), mas a aeronave foi desviada para a França... Esse episódio resultou em prisão que o governo francês só revogou ao final dos conflitos.
Uma parte dos franceses estava de acordo com as ações de seu governo em relação à Argélia... Porém havia os que discordavam abertamente, e esse era o caso do filósofo Jean Paul Sartre.
(...)
A estratégia de “fechar o cerco” aos apoiadores da FNL levou os comandantes das tropas francesas a determinarem o “reagrupamento de cidades”... Na verdade isso consistia em isolá-las, vigiá-las e controlá-las permanentemente... De tal modo seus habitantes foram oprimidos que logo passaram a viver em condições sub-humanas... Mais tropas francesas, inclusive de paraquedistas, foram transferidas para a Argélia e os que criticavam os métodos utilizados pela França garantiam que eles podiam ser comparados aos dos nazistas nos campos de concentração.
Ao mesmo tempo, as fronteiras foram bloqueadas* com cercas elétricas que impediam a transposição de tropas argelinas que se encontravam na Tunísia...

                              não é possível detectar os motivos de as tropas
            argelinas permanecerem fora do país durante a maior
            parte do processo revolucionário e, por isso mesmo, serem
            chamadas de “emigrantes” pelos “combatentes”.

Enquanto o pessoal da ANL era capturado e violentamente torturado, entre os argelinos crescia o sentimento de repulsa aos franceses... Os episódios de 1957 que tiveram como palco a capital argelina, e ficaram conhecidos como “Batalha de Argel”, tornaram-se tema do filme La Battaglia di Algerie (1966; dirigido por Gillo Pontecorvo).
(...)
O ano seguinte foi marcado por reivindicações dos oficiais militares franceses em ação na Argélia... Eles insistiam que De Gaulle devia ser reconduzido ao poder (havia sido primeiro-ministro do país entre 1944 e 1946) como única saída para que a guerra resultasse em positiva para a França. Esse também era o entendimento da maioria dos colonos europeus em solo argelino...
Na França, os gabinetes ministeriais se sucediam em tempo recorde*... A Argélia tornou-se um sério problema porque os paraquedistas ameaçavam bombardear Paris caso não tivessem suas exigências atendidas...

            * Isso ocorreu durante os mandatos presidenciais da
            Chamada IV República: Vincent Auriol (1947-1954) e
            René Coty (1954-1959).

Com a renúncia de Pierre Pfimlin em maio, De Gaulle reassumiu o governo... Este fez uma série de exigências, que incluíam a aprovação de nova Constituição que legitimasse uma presidência fortalecida... A Quinta República Francesa teve início logo após a entrada em vigor da nova Lei (outubro de 1958)... Ainda em 1958 ele havia anunciado o “plano de Constantine” com a promessa de industrializar a Argélia e de impulsionar sua produção agrícola reativando campos improdutivos. Com isso pretendia esfriar as tensões na Argélia e enfraquecer o movimento emancipacionista.
Porém estava claro que o plano não trazia mudanças significativas... Principalmente porque ele mantinha quase três milhões de terras (as melhores) nas mãos dos colonos... 
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Leia: História Geral da África. MEC Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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