O texto anterior, este e o da próxima postagem têm como finalidade contribuir para uma melhor compreensão das exposições de Kapuscinski a respeito do panorama argelino em 1965.
Convém ressaltar que a leitura do capítulo referente à Argélia (in “História Geral da África”, vol. VIII/págs. 157–166; organizado pelo Comitê Científico Internacional da UNESCO) é de fundamental importância para a obtenção de um embasamento mais crítico a respeito dos temas neles evidenciados.
(...)
Não foi por acaso que
também em 1956 a França se viu em confronto direto com o presidente do Egito...
Além da Nacionalização do Canal de Suez, Gamal Abdel Nasser (como consequência de seu
posicionamento desde a Conferência de Bandung) desagradava por
apoiar a revolução que ocorria na Argélia.
Pouco tempo depois do Congresso da FNL, Ben Bella e outras
lideranças revolucionárias foram sequestrados por agentes franceses quando
viajavam para a Tunísia em avião marroquino... Seu destino seria Roma, onde
discutiriam uma saída pacífica com Guy Mollet (então primeiro-ministro da
França), mas a aeronave foi desviada para a França... Esse episódio resultou em
prisão que o governo francês só revogou ao final dos conflitos.
Uma parte dos franceses estava de acordo com as ações de seu governo em
relação à Argélia... Porém havia os que discordavam abertamente, e esse era o
caso do filósofo Jean Paul Sartre.
(...)
A estratégia de “fechar o cerco” aos apoiadores da FNL
levou os comandantes das tropas francesas a determinarem o “reagrupamento de
cidades”... Na verdade isso consistia em isolá-las, vigiá-las e controlá-las permanentemente...
De tal modo seus habitantes foram oprimidos que logo passaram a viver em
condições sub-humanas... Mais tropas francesas, inclusive de paraquedistas,
foram transferidas para a Argélia e os que criticavam os métodos utilizados
pela França garantiam que eles podiam ser comparados aos dos nazistas nos
campos de concentração.
Ao mesmo tempo, as fronteiras foram bloqueadas* com cercas elétricas que
impediam a transposição de tropas argelinas que se encontravam na Tunísia...
não é possível detectar os
motivos de as tropas
argelinas permanecerem fora do país durante a maior
parte do processo revolucionário e, por isso mesmo, serem
chamadas de “emigrantes” pelos “combatentes”.
Enquanto o pessoal da ANL
era capturado e violentamente torturado, entre os argelinos crescia o
sentimento de repulsa aos franceses... Os episódios de 1957 que tiveram como
palco a capital argelina, e ficaram conhecidos como “Batalha de Argel”,
tornaram-se tema do filme La Battaglia di
Algerie (1966; dirigido por Gillo
Pontecorvo).
(...)
O ano seguinte foi marcado por reivindicações dos oficiais militares
franceses em ação na Argélia... Eles insistiam que De Gaulle devia ser
reconduzido ao poder (havia sido primeiro-ministro do país entre 1944 e 1946) como
única saída para que a guerra resultasse em positiva para a França. Esse também
era o entendimento da maioria dos colonos europeus em solo argelino...
Na França, os gabinetes ministeriais se sucediam em tempo recorde*... A
Argélia tornou-se um sério problema porque os paraquedistas ameaçavam
bombardear Paris caso não tivessem suas exigências atendidas...
* Isso ocorreu durante os mandatos presidenciais da
Chamada IV República: Vincent
Auriol (1947-1954) e
René Coty (1954-1959).
Com a renúncia de Pierre Pfimlin
em maio, De Gaulle reassumiu o governo... Este fez uma série de exigências, que
incluíam a aprovação de nova Constituição que legitimasse uma presidência
fortalecida... A Quinta República Francesa teve início logo após a entrada em
vigor da nova Lei (outubro de 1958)... Ainda em 1958 ele havia anunciado o
“plano de Constantine” com a promessa de industrializar a Argélia e de
impulsionar sua produção agrícola reativando campos improdutivos. Com isso
pretendia esfriar as tensões na Argélia e enfraquecer o movimento
emancipacionista.
Porém estava claro que o plano não trazia
mudanças significativas... Principalmente porque ele mantinha quase três
milhões de terras (as melhores) nas mãos dos colonos...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/01/a-guerra-de-independencia-da-argelia_14.html
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Leia: História
Geral da África. MEC Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto