A exumação de dona Leopoldina confirmou o estado
de pobreza que ela, ainda que fosse a imperatriz do Brasil, suportou em seus
últimos dias ao lado de Pedro I. Joias falsas a ornamentam no caixão... Isso é
consequência da penúria econômica do país ao tempo do Primeiro
Reinado. Sabemos que com o fim do Período Joanino (d. João VI retornou a
Portugal em 1821), as finanças do Brasil beiraram o colapso, já que com a
família real que partiu para a Europa seguiu o carregamento de todo o ouro do
Banco do Brasil. Essa situação serviu de justificativa para que Pedro I
controlasse todas as despesas da esposa, que abriu mão do direito (estabelecido
por contrato) de gerir dinheiro... O texto de Laurentino Gomes dedicado à
Leopoldina (em 1822) relata seus esforços
em obter empréstimos com agiotas para garantir a assistência que prestava aos
mais necessitados.
(...)
Os restos mortais de Pedro
I confirmam a constituição física de um tipo ativo, que se dedicava a longas
cavalgadas... Aliás, as costelas quebradas (confirmadas nos exames) são
resultado de conhecidas passagens de sua biografia: queda de cavalo em 1823 e
acidente, também envolvendo cavalos, em 1829.
Lustosa afirma que, para os conhecedores da biografia de Pedro I, não se
deve estranhar o fato de não haver junto ao seu corpo insígnias brasileiras,
apenas portuguesas...

D. Pedro permaneceu em
Paris até o início de 1832. Seus últimos anos foram de engajamento no conflito
contra o próprio irmão, d. Miguel, para restituir o trono à filha Maria da
Glória. Lustosa cita a frase que, de joelhos, proferiu para a jovem: “Minha
senhora, aqui está um general português que vai defender seus direitos e
restituir-lhe a coroa”.
D. Pedro faleceu em
1834 depois de ter cumprido a promessa que fizera à filha... Não são poucas as
contradições... Para muitos não é fácil assimilar que aquele que enaltecem como
“herói” da independência do Brasil, comandante que não media esforços para
estar entre os soldados em campo de batalha, e “defensor da Constituição e do
Liberalismo”, seja conhecido também por suas atitudes autoritárias, lascivas e
de agressor da própria mulher.
(...)

Após a morte de d. Pedro em
1834, dona Amélia permaneceu em Portugal... Aos poucos a sua presença foi se
“apagando”, principalmente porque ao que parece não efetivou vínculos com os
círculos de poder em torno da enteada, dona Maria II. A filha que tivera com
Pedro I no Brasil, Amélia Eugênia, morreu aos 21 anos de tuberculose na ilha da
Madeira. Essa perda causou-lhe profunda angústia, atestada em carta que
escreveu (preservada em arquivo pessoal do arquiteto Luciano Cavalcanti de
Albuquerque, descendente da condessa de Belmonte).
Ao
final de seu texto, Lustosa afirma que a “exumação dos corpos imperiais” não
revelou nenhum fato novo... Apesar disso, devemos considerar a importância dos recursos
científicos modernos, cada vez mais inseridos nas pesquisas que os
historiadores realizam... Enquanto documentos, os corpos são tão valiosos como os
papéis que estão em pastas de arquivos... Eles também contribuem para “jogar
luz sobre uma época, os costumes dessa época e as pessoas que nela viveram, soberanos
ou escravos”.
Um abraço,
Prof.Gilberto