sábado, 7 de janeiro de 2017

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – considerações finais – Primeira Parte – sobre a obra; leitura interdisciplinar; a respeito de Beauvoir e polêmicas; um pouco a respeito do Existencialismo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_59.html antes de ler esta postagem:

Feliz 2017 a todos.

O primeiro post deste ano é sobre “Os Mandarins”.
Evidentemente não se trata de tecer novos relatos de continuação do romance de Simone de Beauvoir... Como se sabe, a ”longa síntese” (que começa em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/09/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html) está finalizada.
O objetivo aqui é apresentar algumas considerações a respeito da obra e sobre a sua relevância para a compreensão dos eventos que marcaram o pós-segunda guerra.
Beauvoir recebeu o Prêmio Goncourt de 1954 por “Os Mandarins”. Sem dúvida uma grande honra. Mas não é por esse motivo que decidimos expor a obra.
(...)
A partir do momento em que valorizamos a perspectiva de trabalho interdisciplinar com estudantes do Ensino Médio, buscamos diversos gêneros textuais (jornalísticos, literários, filosóficos...) que podem ser relacionados aos chamados recortes de documentos de tradicionais.
O jovem leitor é tomado por expectativas que só podem ser sistematizadas se o conteúdo literário for contextualizado pela História e pela Filosofia.
Como se pôde notar, embora fictícia, “Os Mandarins” faz referências a vários episódios históricos. Além disso, a produção textual nos leva a conhecer um pouco do modo de ser e pensar dos principais existencialistas do século passado.
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Beauvoir nasceu em 1908 e faleceu em 1986.
Sua biografia está inserida na história do movimento feminista e nas discussões sobre os papéis socialmente definidos a homens e mulheres.
Um dos aspectos mais lembrados de sua vida é o relacionamento com Jean-Paul Sartre... Ainda em 1929, mesmo ano de sua apresentação sobre Leibniz na Sorbonne, eles estabeleceram a união sem um casamento formal... Sem dúvida algo escandaloso para os padrões da época. Principalmente se levarmos em conta suas origens e formação em institutos católicos.
A polêmica foi mesmo uma constante na vida da escritora... Nos anos 1930/1940 muitos sabiam de suas relações com amantes do sexo feminino. O próprio Sartre tinha conhecimento e também se envolvia sexualmente com as conquistas de Beauvoir. Ela assediou algumas de suas alunas e foi processada pelos pais de uma delas (Natalie Sorokine). A acusação resultou em suspensão definitiva de qualquer atividade docente na França.
Durante a década de 1970 engajou-se na campanha pela legalização do aborto em seu país (isso se efetivou a partir de 1974) e defendeu, com outros intelectuais, que as relações entre adultos e menores de 15 anos fossem descriminalizadas. Argumentavam que a própria sociedade reconhecia que desde os treze anos os adolescentes já eram “plenamente responsáveis por seus atos”.
(...)
O que foi anteriormente exposto também deve ser entendido a partir de uma análise existencialista. Para os filósofos existencialistas “a existência precede a essência”.
É claro que o período entre as duas guerras mundiais foi marcado pela crise que muitos jovens enfrentaram em relação à falta de perspectiva. Haviam saído de um conflito sangrento em 1918 e entendiam que estavam condenados a um novo massacre (o que se iniciaria em 1939). Como se não bastasse este dado trágico, a religião e o conservadorismo das sociedades impediam a plena realização do indivíduo.
Qual seria a saída? Para os existencialistas, cada um deve assumir a própria liberdade. Do contrário, permaneceremos presos às convenções sociais burguesas e aos dogmas religiosos.
Naturalmente esta “condição fundamental do ser humano” demanda comprometimentos éticos...
Mas isso é outra conversa.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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