A aposta estava feita... O tempo que separava Phileas Fogg de seu trem era suficiente para mais algumas partidas de uíste.
Às 19:50, depois de ganhar uns “trocados” dos companheiros de jogo, ele retornou para casa.
(...)
Passepartout se espantou
com a chegada antecipada do patrão. Este, sem maiores explicações, seguiu para
o seu quarto e chamou o criado.
Passepartout não conseguia entender como em seu
primeiro dia de trabalho a tão solidificada rotina de seu senhor havia sido
quebrada.... De tanto que pensava nisso deixou de dar atenção ao chamamento....
Foi preciso que Fogg o chamasse novamente.
Seguiu-se a reprimenda pela demora. O criado explicou que a chegada
antecipada do patrão contrariava os registros deixados por ele mesmo no quadro
de horários.
Rapidamente Fogg revelou que tinha planos de viajar e
que precisava pegar o trem para Dover. Certamente o francês não esperava tal
novidade e ficou como que alarmado.... Quis saber para onde Phileas Fogg
desejava partir.
Sem rodeios Phileas Fogg respondeu que ambos dariam a volta ao mundo.
Isso deixou Passepartout ainda mais atônito... Ele demorou um instante para que
percebesse que também fazia parte do plano de viagem. Perguntou a respeito das
roupas que deveria separar para a bagagem.
Phileas Fogg esclareceu que não levariam muito... Precisavam apenas de
um “bolsa de viagem”... Poucas vestimentas seriam necessárias.
Enquanto Passepartout se virava para atender ao requisitado, seu patrão
lembrou-lhe que não podia se esquecer da capa de chuva.
(...)
Não é difícil pensarmos no quanto Passepartout se apavorou com as
novidades trazidas por Phileas Fogg. Não foi por acaso que antes de organizar a
bolsa, matutou ainda por um breve tempo... Enquanto ajeitava os poucos itens da
bagagem pensava consigo mesmo que o patrão não passaria de Paris.
A mudança brusca era mesmo
de se estranhar. Como explicar que o aristocrata dado a uma rígida disciplina
marcadamente caseira, de repente saísse com aquela ideia de viagem pelo mundo?
Passepartout desceu ao
encontro de Phileas Fogg.... Este o esperava com um guia debaixo do braço.
Pegou a bolsa que o criado carregava e colocou nela um punhado de libras,
aceitas no mundo inteiro.
Mais uma vez vemos o
gentleman satisfeito com o domínio inglês e o quanto isso era benéfico a homens
como ele.
Não havia muito a se conferir... Fogg verificou rapidamente a bagagem e
solicitou cuidado ao seu criado pois ele havia colocado vinte mil libras na
bolsa. É claro que mais essa revelação contribuiu para aumentar o espanto de
Passepartout.
(...)
Saíram de casa e rumaram
para um ponto onde era possível alugar uma carruagem.... Às 20:20 chegaram à
estação e, enquanto Passepartout acertava o aluguel com o cocheiro pôde notar
que seu patrão entregava os vinte guinéus que havia ganhado nas partidas de
uíste a uma pobre senhora que conduzia o pequeno filho pela rua enlameada.
Logo que entraram na estação avistaram os membros do
Reform Club. Fogg foi dizendo que em paradas específicas de sua viagem
solicitaria o visto em seu passaporte.... Isso comprovaria o itinerário
percorrido.
Gauthier Ralph observou que todos confiavam em sua “honra de cavalheiro”...
Despediram-se, pois o trem estava prestes a partir. Neste momento, Fogg deixou
claro que estava ciente da aposta e que retornaria “dentro de oitenta dias; no
sábado; 21 de dezembro de 1872, às oito e quarenta e cinco da noite”.
(...)
Depois de algum tempo em
que já se encontravam em seus lugares no trem, Passepartout demonstrou nova apreensão.
Fogg perguntou-lhe o que estava acontecendo dessa vez. O francês explicou que,
na pressa, havia esquecido de apagar o bico de gás em seu aposento.
Sem se sobressaltar, Fogg disse apenas que
quando voltassem a conta seria paga pelo próprio Passepartout.
*
Postagens
dessa sequência são parceria de Mariana & Gilberto
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/01/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_26.html
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção
“Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto