segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

“A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne – da “Coleção eu Leio”* – ilações a respeito da perseguição ao criminoso; discussão sobre as possibilidades de se viajar ao redor do mundo em menos de noventa dias em tempos de domínio imperial aliado às conquistas industriais; a aposta

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/01/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_16.html antes de ler esta postagem:

Nos intervalos entre as partidas de uíste, os aristocratas companheiros de Phileas Fogg falaram a respeito do roubo ao Bank of England. Os comentários giravam em torno das iniciativas para capturar o criminoso e recuperar as cinquenta e cinco mil libras... Policiais e detetives haviam sido espalhados pelos domínios ingleses. Para alguns, aquela era uma indicação de que tudo se resolveria em breve.
Sem dúvida, a estrutura imperial e a competência das autoridades policiais inglesas estavam à altura do caso... Mas o ladrão só podia ser dos mais engenhosos, e alguns arriscavam que o mesmo podia obter sucesso em sua empreitada... Dizia-se que o “tamanho do mundo” podia favorecê-lo...
(...)
A tudo Phileas Fogg ouviu com atenção até sentenciar que o mundo não era mais “tão grande assim”.
Os demais admitiram que as tecnologias da época possibilitavam percorrer o mundo dez vezes mais rapidamente do que um século antes... Andrew Stuart insistiu neste tema e depois de raciocinar afirmou que seria possível percorrer o mundo em noventa dias. Ele mal concluiu seu pensamento, pois Fogg discordou e o corrigiu em relação ao tempo de viagem.... Para o protagonista seriam necessários oitenta dias para circundar o mundo.
Sullivan citou cálculos do “Morning Chronicle” para afirmar que “desde a abertura o trecho da Great Indian Peninsular Railway que une Rothal a Allahabad”, de fato, a referida viagem podia ser concluída em oitenta dias.
Em sua argumentação citou dados a respeito dos trechos concluídos de navio ou atravessados por ferrovias... Stuart observou que o cálculo divulgado pelo periódico não levava em consideração imprevistos que eventualmente ocorrem como naufrágios, descarrilamentos... Fogg interveio em defesa da tese dos oitenta dias... Stuart redarguiu que muitos outros episódios tinham de ser ponderados e citou saques a trens, ataques de índios a trilhos, e assim por diante.
O trecho em questão não esconde a visão preconceituosa do aristocrata Stuart também em relação aos hindus, “capazes de praticar atrocidades contra os britânicos”.
A empolgante conversa prosseguiu durante a partida. Fogg não se conteve e respondeu que tudo que fora dito não impossibilitaria o sucesso de uma viagem ao redor do mundo em oitenta dias. É claro que Fogg baseava-se essencialmente em sua crença na eficiência do projeto de desenvolvimento de seu país.
Os demais jogadores não se contiveram e passaram a manifestar seu ponto de vista contrário ao pensamento de Fogg.... Diziam que na teoria o cálculo podia ser perfeito, mas na prática não daria certo.
Não seria de se estranhar que estivessem considerando Fogg arrogante demais ao manter o seu modo de pensar.... Duvidaram que ele estivesse dizendo a verdade.
(...)
Então chegamos a este ponto em que Fogg sustenta que a viagem ao redor do mundo em oitenta dias era possível.... Por outro lado, notadamente Stuart, dizia-se que aquilo não correspondia à realidade.
Como Fogg não refutava a própria opinião, Stuart proferiu que desejava vê-lo realizar a façanha. Fogg respondeu que podiam encarar juntos o desafio.
Stuart rejeitou participar de uma viagem tão prolongada e arriscada, mas admitiu que apostaria quatro mil libras em seu fracasso. No mesmo instante Fogg concordou e sustentou que colocaria em jogo vinte mil libras que podiam ser repartidas entre os cavalheiros que se juntassem ao Stuart.
Num primeiro momento os demais não levaram a sério aquelas palavras e apenas por diversão “compraram a aposta”... Diziam que Stuart e Fogg só podiam estar brincando.
Todavia Fogg respondeu que a aposta era muito séria.... Jamais brincaria com algo tão próprio do modo de ser dos genuínos ingleses. Emendou que sua jornada começava naquela mesma noite, quando pegaria o trem para Dover (no capítulo III da edição de 2015 da citada coleção, a cidade sulista aparece como “Doves”), que sairia às 20:45.
Finalizou seus propósitos ao garantir que estaria de volta ao mesmo clube no dia 21 de dezembro às 20:45.
Os companheiros de carteado o aconselharam a iniciar imediatamente os preparos para a sua viagem... Phileas Fogg respondeu que estava devidamente pronto e, como se mais nada tivesse para arranjar, lembrou que era a vez de Stuart jogar.

                                                                  * Postagens dessa sequência são parceria de Mariana & Gilberto
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas