O policial Fix alcançou Passepartout em sua andança por Suez... Aproximou-se com expressão de surpresa pelo encontro e quis saber se o patrão estava satisfeito com a questão do visto...
Passepartout respondeu que tudo se resolvera... Disse isso e perguntou sobre o ambiente à sua volta... Quer dizer que estavam mesmo em Suez, Egito, África? O inspetor garantiu que sim. Então o francês pôs-se a falar que, para ele, tudo parecia um sonho... Nem podia acreditar que estivera por tão pouco tempo em sua Paris, de onde tinha certeza que não passariam. A viagem planejada pelo patrão era projeto dos mais espantosos, no entanto tudo indicava que nada o impediria de conclui-la.
Fix observou a pressa de Passepartout e comentou a respeito... O rapaz era falante e explicou sem meias palavras que seu patrão era o apressado, saíram sem malas e por isso precisava adquirir com urgência meias e camisas. Tinha de cumprir o que lhe fora solicitado antes da partida do navio.
O outro observou que ainda era meio-dia, então havia tempo suficiente para fazer as compras... O francês se espantou, consultou o seu velho relógio de família e objetou a hora informada. Os ponteiros de seu confiável relógio marcavam 9:52.
Certamente Fix deve ter achado graça... Esclareceu que aquela diferença se explicava pelo fato de o rapaz manter o horário de Londres. Ele devia ajustar o relógio, pois a metrópole tem atraso de aproximadamente duas horas em relação a Suez.
Aquela sugestão soava ultrajante... Passepartout não admitiu alterar a posição dos ponteiros de sua relíquia. Por ano o mecanismo atrasava no máximo cinco minutos!
Um capricho tolo... No entanto Fix lembrou que o rapaz jamais teria o relógio “de acordo com o sol”... Passepartout respondeu que o azar era do sol e guardou seu “precioso cronômetro” no bolso.
(...)
Fix voltou a falar sobre o que conversavam anteriormente... Perguntou se
tinham mesmo deixado Londres às pressas. Passepartout confirmou... E disse
mais. Entrou em detalhes sobre a repentina mudança de hábitos do patrão, que
até então era conhecido por sua rigidez em relação à rotina cotidiana. Sim, foi
de repente! E estava viajando sempre em frente! Daria a volta ao mundo em
oitenta dias! Tratava-se de uma aposta.
O ingênuo rapaz acrescentou que ele mesmo não acreditava naquele
projeto... Aposta? Volta ao mundo em oitenta dias? Certamente havia outra
intenção não revelada!
Os olhos do policial se arregalaram... Evidentemente tudo o que ouvia
contribuía para encaixar as peças do quebra-cabeças e solidificar suas
suspeitas. Perguntou se o cavalheiro era excêntrico e rico... Passepartout só
podia acha-lo excêntrico... E sobre se tratar de um homem rico, não tinha a
menor dúvida. Sustentou sua afirmação ao contar que o patrão havia oferecido
uma fortuna como recompensa ao maquinista caso ele levasse o Mongólia ao seu
destino, Bombaim, em tempo recorde.
(...)
Fix ficou sabendo que
aquele rapaz simplório estava trabalhando para o seu suspeito há pouco tempo,
já que fora contratado no mesmo dia em que começara sua fuga de Londres.
As informações davam conta,
então, de que o bandido não desembarcaria em Suez. Fix havia raciocinado
anteriormente que talvez o tipo pudesse, a partir dali, seguir para possessões
francesas ou holandesas. Pelo visto teria de persegui-lo até Bombaim.
Passepartout
perguntou onde se localiza Bombaim... Fix explicou-lhe que até a Índia teriam
uns dez dias de viagem.
O francês fez cara de preocupado e deixou escapar que estava chateado
com o bico... Sem perder tempo, o policial perguntou que “bico” era aquele...
Então Passepartout explicou que havia esquecido de apagar o bico de gás de seu
aposento e que teria de pagar do próprio bolso dois shillings a cada dia de
desperdício, totalizando mais do que recebia de salário.
(...)
Fix não deu importância
àquela história do bico de gás... Chegaram a um bazar e ele resolveu deixar o
outro com sua tarefa e encaminhou-se ao escritório do representante consular
britânico.
Ao cônsul, explicou que o bandido se fazia passar por
excêntrico viajante numa volta ao mundo em oitenta dias... O diplomata
respondeu que o tipo então era muito esperto, já que retornaria para Londres
depois de despistar os policiais de todo o mundo.
Mas não haveria um erro na interpretação? O cônsul quis saber, já que
ainda estranhava a insistência do ladrão em obter o visto em seu passaporte.
Por que faria isso?
Fix não se importava com
este detalhe. Passou a narrar as várias informações que obtivera junto ao
empregado do outro.
Na sequência enviou o telegrama ao diretor de
polícia de Londres (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/01/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_26.html).
Embarcaria no Mongólia... Esperava que o mandado fosse encaminhado para
Bombaim, onde efetuaria a prisão.
*
Postagens
dessa sequência são parceria de Mariana & Gilberto
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/01/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_27.html
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção
“Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto