sábado, 21 de maio de 2016

Filme – Nise - O Coração da Loucura – o fim – de clientes e pacientes; grande festa junina e despedida de Emygdio de Barros; cuidando dos animais e contrariando os demais setores; um pouco sobre Lúcio Noeman; o fim

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/05/filme-nise-o-coracao-da-loucura.html antes de ler esta postagem:

Nise permitiu o contato dos clientes* com cães que adotavam como animais de estimação... Cada um passou a cuidar de um animal, e a doutora garantia que o afeto que dedicavam aumentava sua autoestima na medida em que passavam a se sentir responsáveis pelo bem-estar do bicho que alimentavam e protegiam.

                *Nise fazia questão de ressaltar que os internos eram clientes, e que
                médicos e enfermeiros deviam ser pacientes com os que recebiam
                tratamento.

Mais uma vez Nise sofreu reprimenda, pois os demais médicos do hospital insistiram que os jardins e outras dependências do hospital não eram locais apropriados aos animais que, além de espalhar sujeiras, representavam perigo aos funcionários e demais internos.
A cena em que o médico dirige-lhe ameaças e exige que o portão que separa os setores ficasse permanentemente fechado também é emblemática... O tipo retirou-se nervosamente fechando bruscamente a passagem... Nise voltou a abri-la.
(...)
Havia um litígio aberto...
A situação não era apenas “territorial”... Nise e os demais médicos do Pedro II não comungavam as mesmas opiniões a respeito dos procedimentos a serem adotados com os internos.
Enquanto Nise buscava tratar os internos com humanidade, os experientes doutores preferiam as metodologias repressivas.
O tratamento que ministravam em nada podia ser comparado à metodologia adotada por ela no Setor de Terapia Ocupacional... A própria Nise sentenciou para um deles que ela lidava com a arte que revela o inconsciente de cada um, seu instrumento era o pincel, ao passo que os que se colocavam contra o seu trabalho adotavam o “picador de gelo” como ferramenta de trabalho.
(...)
Ocorreu uma grande festa junina...
Os internos e os familiares convidados se divertiram a valer.
É bem provável que tenha sido numa ocasião dessas que todos ficaram sabendo da partida de Emygdio de Barros para junto da família (o irmão e a cunhada)... Seu engajamento no grupo de artistas contribuiu significativamente para o tratamento e ninguém duvidava de sua capacidade artística.
Era certo que apostavam que ele teria totais condições de obter a subsistência graças à sua arte.
(...)
Sabemos que Carlos Pertius tinha a companhia de seu cão, e que os demais também adotaram animais aos quais dispensavam cuidados... Por experiência própria, Nise (ela possuía vários gatos) aprovava o contato com os bichos de estimação*.

                        * Nise escreveu “Gatos, a emoção de lidar”.

Durante certa noite, numa clara afronta ao trabalho que estava sendo desenvolvido pela doutora no Setor de Terapia Ocupacional, decidiram matar os cães.
Evidentemente os membros do grupo ficaram chocados ao encontrarem os animais mortos... Aos gritos, todos extravasavam sua indignação. Vemos Lúcio Noeman extremamente agressivo e atacando fisicamente pessoas, principalmente o Lima. Ele não podia entender por que haviam matado os cães... Enquanto externava a sua fúria dizia que, se era para matar, não deviam entregar-lhes os animais pelos quais dedicaram afeto.
(...)
A obra de Lúcio era impressionante.
Antes de ingressar no grupo chefiado por Nise, era considerado um tipo extremamente perigoso, e por isso mantinham-no atrás de grades.
Nota-se que ao lidar com a argila, Lúcio ficava totalmente focado em sua produção. É fato que, na vida real, algumas de suas peças foram apresentadas em eventos de grande repercussão, como ocorreu em outubro de 1949 no Museu de Arte Moderna de São Paulo. A arte contribuiu para que o seu comportamento melhorasse muito... Todavia, o médico diretamente responsável pelo seu tratamento conseguiu que a família de Lúcio o autorizasse a submetê-lo à lobotomia.
Evidentemente Nise da Silveira posicionou-se totalmente contra a intervenção cirúrgica, e sentenciou que os médicos “decapitariam um artista”...
Foi “voz vencida”.
(...)
Sabe-se que a produção artística de Lúcio não foi mais a mesma.
Nise entendeu que não adiantava manter os resultados de seu trabalho limitados às paredes do hospital...
Na última cena do filme assistimos a uma grande exposição em que o crítico Mário Pedrosa faz um discurso em reconhecimento a ela e aos seus artistas. Há uma reprodução fiel de palavras que, de fato, resumiam a sua opinião.
Aos elegantes convidados disse:
“As imagens do inconsciente são apenas uma linguagem simbólica que o psiquiatra tem por dever decifrar. Mas ninguém impede que essas imagens sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou belas, constituindo em si verdadeiras obras de arte”.
(...)
Roberto Berliner teve a sensibilidade de “colar” um trecho em que a Nise real concede uma entrevista cheia de vida já nos últimos dias de sua existência.
Sensacional.
Emocionante.
Indicação (12 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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