sexta-feira, 27 de maio de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – o fim da longa noite de desorientação, tempestade, frio; de fato havia uma guerra; muros pichados; dos temores dos “cidadãos mistos” e os de “nacionalidades suspeitas”; repórteres estrangeiros se encaminham para o palácio do governo hondurenho

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/05/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_54.html antes de ler esta postagem:

No meio da madrugada dois policiais encontraram Kapuscinski perdido em sua tentativa de se proteger da tempestade e do frio... Seu estado era lastimável... Os fardados pretendiam encaminhá-lo à delegacia, mas ele apresentou os documentos e conseguiu explicar a sua história... Então ficou sabendo que a guerra se desenvolveu a pleno vapor durante toda a noite.
Mas o front era longe da capital, e ali não se ouviam os disparos.
(...)
Os habitantes de Tegucigalpa se organizavam como podiam... Esperavam um ataque para qualquer momento... Então cavavam valas e organizavam barricadas. Armazenavam provisões e protegiam vidraças, portas e paredes.
As pessoas corriam de um lado para outro sem motivos aparentes... Jovens estudantes pichavam os muros com palavras de ordem. Kapuscinski destaca algumas das frases que avistou por aqueles dias:

* “Que não sonhem cabeças duras
    Conquistar o nosso Honduras”
            * “Compatriotas! Sem temor,
               Degolar o agressor”
* “Vinguemos o 3x0”
            * “Infâmia a Porfírio Ramos
                Que vive com uma salvadorenha!”
* “Quem avistar Raimundo Grandos
    Deve informar a polícia –
    Trata-se de um espião de El Salvador!”

O polonês tece comentário crítico à situação que certamente era comum aos dois países... Os nervos estavam à flor da pele e as pessoas comuns enxergavam espiões em cada esquina... Também os comunistas estavam sendo atacados... Muitos inimigos do socialismo aproveitavam a onda para incriminá-los.
(...)
Então o próprio Kapuscinski tinha motivos para alimentar temores, já que se tratava do único correspondente vindo de país socialista... Ele podia, por exemplo, ser expulso a qualquer momento.
Decidiu se aproximar do operador de telex da agência de correio, Jose Málaga... Enquanto tomavam cerveja o tipo confessou-lhe que também andava assustado, já que sua mãe era salvadorenha... Ele se enquadrava entre os tipos que consideravam suspeitos...
Não era por acaso que Jose telefonava a quase todo instante à mãe para informar-lhe a respeito de sua condição, e também para saber se estava tudo bem com ela... O polonês entendeu que sua condição era semelhante à do outro.
E havia motivos reais para se preocupar porque a polícia estava prendendo as pessoas de “nacionalidade mista” (como era o caso do funcionário do correio) e os salvadorenhos. A quantidade de presos por causa da guerra crescera tanto que as autoridades organizaram “campos provisórios” para acomodá-los... Em vários casos, estádios de futebol cumpriam satisfatoriamente essa função.
Kapuscinski destaca a observação a respeito da dupla função dos estádios: em tempos de paz acomodam fanáticos torcedores para as partidas de futebol; “em tempos de crise são transformados em campos de concentração”.
(...)
Quarenta correspondentes mexicanos chegaram a Tegucigalpa no meio do dia... Eles viajaram de avião até a Guatemala e, de lá para a capital de Honduras, seguiram de ônibus, já que o aeroporto estava fechado.
Kapuscinski juntou-se a eles, pois pretendiam seguir para o front. Para o bom encaminhamento da missão pretendiam coletar informações do governo local e obter autorização dos homens de guerra para seguir adiante... É por isso que todos se encaminharam para o palácio presidencial, no centro da capital.
Outros estrangeiros juntaram-se à delegação.
(...)
O local respirava atmosfera bélica...
O autor descreve o prédio destacando sua cor azul brilhante e a construção de “traços feios”.
A sede do governo estava cercada por tropas muito bem armadas. Além dos sacos de areia que protegiam as metralhadoras, canhões antiaéreos estavam instalados no pátio.
O capitão que fazia as vezes de intermediário entre o exército e a imprensa apareceu para conversar com os jornalistas estrangeiros.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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