O grupo de jornalistas iniciou a caminhada...
No começo tudo parecia correr bem, já que as explosões e o que imaginavam ser tiros eram ouvidos muito ao longe.
Os tipos trataram de conversar como se estivessem a passeio numa trilha... Algumas piadas seguidas de risos escondia o nervosismo.
Mais ou menos depois de um quilômetro os passos começaram a vacilar... Alguns suavam, e isso era um indicador de que o medo rondava os caminhantes. Talvez pensassem que a qualquer momento pudessem ser atingidos por tiros disparados de qualquer parte.
Mesmo assim ninguém admitia que estivesse fraquejando. Um deles sugeriu que seria importante pararem para recompor as forças. Fizeram isso e ao retomarem a caminhada, notaram que dois deles foram ficando para trás, dando a impressão de que precisavam conversar mais detidamente sobre um assunto qualquer...
Mais à frente outro decidiu permanecer para avaliar certa árvore... Depois foi a vez de dois descobrirem que haviam esquecido os filtros das câmeras e, por isso, precisariam retornar...
(...)
Kapuscinski percebeu que as paradas para descanso
estavam se prolongando. O caminho em direção a El Salvador começou a parecer
interminável. Os jornalistas pareciam viver um impasse... Queriam prosseguir, mas
a cada instante notavam que certas iniciativas dos companheiros representavam
retrocessos... Algo teria de ocorrer para justificar interrupção... Talvez
pudessem retomar a empreitada noutra ocasião com maior segurança.
Todavia o ar era puro... Só
mesmo o medo da jornada justificaria a sua suspensão.
(...)
Aconteceu que o sol começou a se pôr... A falta de luz natural
comprometeria o trabalho dos que lidavam com câmeras de filmagem... Os
fotômetros indicavam que não teriam condições de filmar nada... Impossível
acionar zoom ou capturar elementos em movimento... Nem mesmo os objetos
estáticos ficariam bem definidos!
Concluíram que chegariam ao front na mais completa escuridão... Então decidiram
retornar ao ponto em que os pequenos canhões posicionados debaixo da árvore disparavam
incessantemente.
(...)
Ao chegaram ao ponto de onde haviam partido encontraram os pequenos canhões
ainda em atividade... No local estavam os que tinham decidido permanecer por
motivos diversos (inclusive por problemas cardíacos), os que ficaram para
redigir breves comentários sobre o confronto, os que haviam ficado para trás
devido à conversa reservada, e também os que retornaram em busca dos filtros de
lentes.
O mesmo major, que os aconselhara a não prosseguir pela estrada,
conseguiu um caminhão para transportá-los até à pequena cidade de Nacaome.
Antes de dormir, o grupo discutiu
e votou algumas deliberações... Entre elas, encarregaram os jornalistas
norte-americanos de entrarem em contato com o presidente de Honduras
solicitando transporte dos profissionais até o front.
(...)
A chuvosa madrugada não havia
chegado ao fim quando uma precária aeronave pousou na localidade.
O DC-3 estava coberto
de fuligem. Realmente o aparelho não atendia aos requisitos mínimos de
segurança... Algumas tábuas substituíam parte de sua fuselagem avariada.
Ao verem a máquina voadora, aqueles que alegavam algum tipo de problema
de saúde (evidentemente esse era o caso dos cardíacos) decidiram aguardar em
Nacaome o transporte que os levaria de volta a Tegucigalpa.
Os que resolveram encarar o
voo pousariam apenas em Santa Rosa de Copan...
Isso se nada de trágico ocorresse no percurso.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto