O capitão do exército hondurenho explicou que Honduras estava vencendo a guerra... Havia mais de uma frente de batalha e os resultados eram muito positivos. Era provável que El Salvador não resistisse por muito tempo, pois suas baixas eram bem significativas.
Um jornalista norte-americano, certo Green que pertencia à AP, agradeceu e em nome dos demais explicou que pretendiam “ver” o que acabavam de registrar a partir dos esclarecimentos oficiais.
Kapuscinski dá a entender que naquela parte do mundo a “área de influência” era dos norte-americanos e, assim sendo, os demais jornalistas deixavam que os profissionais ianques tomassem a frente... De fato, o solícito militar garantiu que no dia seguinte conduziriam os jornalistas ao front para que pudessem trazer “duas fotografias cada”.
(...)
Ao deixarem Tegucigalpa,
rumaram para a estrada que acessa o país inimigo.
Mais oito quilômetros à frente e chegariam à fronteira,
marcada por seus pântanos e florestas fechadas.
O militar responsável pelo trecho, um major “suado e com barba por fazer”,
anunciou que os repórteres não poderiam seguir em frente. Talvez esperasse que
eles se dessem por satisfeitos por chegarem próximos a dois pequenos canhões
que disparavam...
Os conflitos que estavam ocorrendo não permitiam
garantir nenhuma segurança àqueles gringos... A região repleta de arbustos
confundia os dois exércitos, que usavam armas e uniformes idênticos... Além do
mais falavam a mesma língua. Tudo isso dificultava o reconhecimento das tropas.
As lamentáveis confusões seriam inevitáveis.
Os jornalistas deviam retornar a Tegucigalpa porque no front podiam ser
mortos por qualquer um dos dois exércitos... Kapuscinski registra em seu livro que
dispensava esse zelo, já que para os fatalmente atingidos pouco importa a
procedência do tiro.
(...)
Os operadores de câmeras de televisões insistiram e argumentaram que
precisavam ”fazer imagens” dos soldados em ação, “disparando e morrendo”... Aos
poucos manifestaram suas demandas: Gregor Straub (NBC) precisava de um “close”
de soldado suando; Rodolf Carrillo (CBS) esperava focalizar um comandante em
prantos por ter perdido todo o pelotão; um cameraman
francês estava ali para registrar os combates dos exércitos em tomada de “quadro
aberto”.
Os locutores das rádios aproveitaram para engrossar os pedidos de avanço
para o front... São citados: Enrique Amado (Rádio Mundo), que pretendia entrevistar
um soldado ferido nos últimos suspiros de sua existência; Charles Meadows
(Rádio Canadá), que ambicionava gravar um soldado amaldiçoando o conflito em
meio aos canhoneios; Naotake Mochida (Rádio Japan) esperava captar os gritos de
um oficial numa comunicação através de um moderno aparelho feito no Japão.
(...)
Havia os jornalistas que não insistiram para prosseguir... Por diferentes
motivos, ficariam ali mesmo onde estavam e fariam breves registros com “comentários
gerais” antes de retornarem para a capital...
Mas entre os demais se
notava uma “quase competição”... Os profissionais das agências de notícias não
queriam “ficar para trás” em relação aos de televisão... Já que os
norte-americanos estavam dispostos a encarar os perigos, os enviados de Reuters
e AFP também iriam... O repórter da BBC não podia deixar que o da NBC partisse “sem
concorrência”.
Kapuscinski estava ali
exatamente para “seguir em frente” e realizar as reportagens que encaminharia à
PAP... Não concorria com os demais...
Juntou-se a eles.
(...)
Iniciaram a marcha... Uma loucura!
Principalmente
porque passariam por um elevado debaixo de calor extenuante...
Pior que isso era o fato de serem facilmente
avistados pelos dois exércitos que estavam escondidos na mata.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto