terça-feira, 2 de junho de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – leitura e conclusões sobre o ensaio de Dubreuilh; lamentações e desejo de reatar a amizade; encontro com Lulu Belhomme revela que mãe e filha sofriam ameaças do passado de colaboracionistas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_31.html antes de ler esta postagem:

A maior parte do ensaio de Dubreuilh já era conhecida... Henri concentrou-se no final do volume, que devia ter sido elaborado após o desmantelamento do SRL.
As conclusões eram amargas... Para Robert, “um intelectual francês nada podia”... E não era difícil comungar daquelas ideias... É claro que seus artigos na Vigilance “causavam rumor”, mas não exerciam influência na vida das pessoas.
E o que dizer a respeito de seus críticos? Alguns o acusavam de comunista (um “criptocomunista”), outros o atacavam como se fosse o mais fiel agente dos capitalistas... Seu caso só podia provocar uma profunda amargura.
(...)
A situação de Henri não era diferente. Todavia ele “se virava”, ia vivendo... Dubreuilh não podia fazer o mesmo.
Mas o homem havia radicalizado... Diferentemente de Henri, sequer dedicava tempo à literatura... Condenou a literatura e a própria existência. Seu humanismo, que se encaixava numa situação passada, nada tinha a ver com o daqueles tempos, de mais realismo e pessimismo... Justiça, verdade ou liberdade pareciam ideias do passado.
Como se adaptar ao humanismo do pós-guerra em seu país? Seria preciso abdicar de toda estrutura que fazia parte de seu ser... Seguramente ele não tinha “capacidade para isso”.
(...)
Para Henri, Robert Dubreuilh se considerava morto...
Isso lhe pesava... Ele se considerava culpado pela condição de frustração do desafeto... Talvez o SRL não ruísse se Henri permanecesse ao seu lado.
Era triste perceber que Robert se sentia isolado, decepcionado em relação à sua produção intelectual, e duvidando do futuro.
Henri achou que deveria escrever uma carta a ele... O máximo que poderia ocorrer era ficar sem uma resposta...
E quanto a Lambert? Também era necessário ter uma conversa franca com o rapaz...
Essas coisas podiam ficar para o dia seguinte...
Mas Lucie Belhomme precisava falar-lhe ainda pela manhã. Isso também o incomodava.
(...)
No salão repleto de tapetes e peles, Henri aguardou a mãe de Josette...
Lembrou-se que dessa vez não estava ali para experimentar os encantos da jovem...
A própria atmosfera anunciava que o que Lulu Belhomme tinha a dizer-lhe relacionava-se a algo pouco agradável.
Ela apareceu trajando vestido que combinava com sua seriedade. Henri observou-lhe o penteado, notou falta de cabelos e que o aspecto dela era um tanto cansado e envelhecido.
Sentaram-se e ela agradeceu a sua presença. Disse que precisava de um favor e queria que ele soubesse que o assunto que tinha a tratar também dizia respeito à Josette. Henri imaginou que a mulher talvez esperasse que se casassem o mais breve possível... Mas ele não entendeu porque ela permanecia apertando nervosamente um lenço de renda nas mãos...
Estava claro que o nervosismo era desproporcional... No momento em que ela perguntou “até onde ele estava disposto a ir” para ajudar Josette, percebeu que a conversa não se limitaria à relação entre os dois.
(...)
Lulu “abriu o jogo” e disse que ele devia saber que elas não atuaram como “membros da Resistência” durante a ocupação alemã... Henri respondeu que haviam lhe falado “qualquer coisa” a respeito.
ela deixou claro que a sua Casa Amaryllis, sua reputação e referência no mundo da moda se deviam à submissão aos alemães. Ela emendou que se não tivesse se sujeitado a eles nos tempos da ocupação não teria como salvar Josette.
Não era sem uma ponta de lamento que dizia essas coisas... Uma mártir que após a Libertação sofreu muitos aborrecimentos... A tudo esquecera, pois pretendia dar prosseguimento à vida.
Mas havia empecilhos que se avolumavam como se fossem engendrados por fantasmas.
Era sobre eles que Lucie queria tratar com Henri.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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