terça-feira, 2 de junho de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – para a decepção de Henri, Josette havia se apaixonado por um capitão alemão; suas fotografias e cartas faziam parte de um dossiê incriminador; Mercier, agente da Gestapo e chantagista; Lucie pretende que Henri dê falso testemunho para defendê-las

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Já fazia um ano desde que Josette falara a Henri a respeito de seu passado à época da ocupação... Havia o dossiê carregado de fotografias sobre as quais Vincent o alertara (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-ao.html)... Era certo que mais cedo ou mais tarde ele acabaria confrontando as informações. Embora manifestasse o contrário, ele tinha interesse em saber a verdade.
(...)
Belhomme pareceu aliviada depois que Henri disse que “haviam lhe falado qualquer coisa a respeito”... Talvez suas palavras não causassem tanta perplexidade.
Henri quis saber da participação de Josette nos agrados dispensados aos alemães... Lulu explicou que a filha havia sido inútil, já que acabou se apaixonando por um capitão, um tipo sentimental que lhe mandou cartas enamoradas até ser morto em combate.
Josette colecionou cartas e fotografias que acabaram displicentemente espalhadas pelo castelo da Normandia...
(...)
Por um instante Henri deixou de ouvi-la... Parou diante da janela e contemplou a paisagem. Em sua consciência surgiu a fisionomia de Josette garantindo que nunca havia se apaixonado... No entanto agora ele sabia que a moça vivera um grande amor com um militar alemão.
(...)
Acontece que Mercier, um tipo que atuava como uma espécie de contador de Lucie e da Amaryllis, recolheu a farta documentação e “vários mexericos”... Ele parecia saber que um dia tudo aquilo lhe seria útil.
Henri perguntou se Belhomme temia que o tipo provocasse algum tipo de chantagem. Ela lhe sorriu e afirmou que não o havia chamado para pedir dinheiro. Esclareceu que já fazia três anos que repassava considerável quantia para Mercier... Estava disposta a continuar pagando-lhe pelo silêncio... Até ofereceu-lhe grande valor em troca da documentação.
Mas então, qual era o problema?
Mercier trabalhara para a Gestapo... Agora estava preso e exigia que Belhomme o libertasse. O dossiê era a sua “moeda de troca”. Se não se livrasse da cadeia, entregaria as duas para a Justiça.
(...)
Era tudo muito decepcionante para Henri. Josette estivera “do outro lado” (inclusive na cama) com tipos que lhe inspiraram ódio... No entanto, ele era envolvido com ela até o pescoço.
Lucie prosseguiu dizendo que se o caso estourasse a filha não suportaria... Josette se suicidaria...
Henri quis saber em quê ele poderia ajudar... Não havia advogado que pudesse libertar um delator da Gestapo! Não seria melhor fugirem para a Suíça?
Belhomme lamentou... Garantiu que seria o fim para a bela filha... E justo no momento em que todos reconheciam o seu talento para os filmes... Josette não suportaria e colocaria termo à vida.
Ela pediu para Henri se sentar, pois tinha um plano.
(...)
Lucie Belhomme explicou que tinha um advogado que lhe devia certos favores... O tipo se chamava Truffaut... O estudo que ele fez do caso levou-o a concluir que havia uma saída...
Truffaut garantia que Mercier devia confessar que havia sido um “agente bilateral”... Mas para isso dar certo teria de ocorrer o depoimento de um “resistente idôneo” sustentando a confissão.
Henri entendeu o que ela esperava de sua parte... Então disse imediatamente que todos os companheiros de Resistência sabiam que Mercier nunca havia trabalhado com ele.
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As palavras de Henri tiveram efeito catastrófico... Parecia que a mulher iria desabar em lágrimas... Interiormente, ele sentia certo prazer ao punir Josette, em quem tinha acreditado quando lhe disse que nunca havia se apaixonado... E Lulu Belhomme? Estava claro que ela não se importava com a filha... Evidentemente tampouco se importava com ele... Agora tudo se encaixava... Ela não se opôs à aproximação dos dois porque sabia que ele seria um aliado de muita utilidade.
(...)
Belhomme fez algumas suposições e considerações... Mercier podia, por exemplo, ter sido um “agente clandestino”... Henri anulou a possibilidade garantindo que entre os companheiros todos se conheciam.
Ela questionou se o juiz não aceitaria a palavra de Henri como “prova cabal”... Ele explicou que “falso testemunho” é coisa muito grave... Sendo assim, não correria o risco.
Na sequência, Belhomme explicou que a principal acusação contra o contador era a de ter entregado duas jovens aos nazi no dia 23 de fevereiro de 1944, na ponte de Alma... Elas tinham codinomes Lisa e Yvonne e foram encaminhadas para Dachau...
Henri não conhecia aqueles nomes... Isso era péssimo para os planos de Lucie... Mas ela não se deu por vencida e sugeriu que ele declarasse que na ocasião Mercier estava em sua companhia numa missão secreta... Isso poderia intimidar as vítimas... Ninguém ousaria contradizê-lo!
(...)
Aquele blefe não era má ideia... Henri pensou e recordou-se que em 1944, Luc estava em Bordeaux... Chancel, Galtier e Varieux já estavam mortos... Talvez Lambert, Dubreuilh e Sézenac se sentiriam incomodados pelo depoimento, mas não fariam alarde ou levantariam dúvidas.
Mas Henri daria um falso testemunho para proteger aquela corrupta?
Depois de um instante, disse que ela devia tratar de fugir para Suíça... Ou então para o Brasil ou Argentina... O mundo é grande, e imaginar que só se pode viver na França é um grande preconceito!
Belhomme voltou a dizer que Josette não suportaria... Seria o seu fim.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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