sexta-feira, 13 de julho de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – concluindo o contato com o mecânico e o velho manco; o exército infiltrou um agente do PIDE na aldeia; reação de Sem Medo ao saber da doação do dinheiro; o retorno à Base

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/07/mayombe-de-pepetela-os-guerrilheiros.html?zx=75b3c60b1832926b antes de ler esta postagem:

O mecânico ofereceu o dinheiro que os guerrilheiros haviam trazido... Ele estava bem agitado, pois não deixava de olhar para o caminho receando serem vistos por soldados.
Apesar de terem se afastado, sabiam que não podiam conversar normalmente. Murmurando, o Comissário agradeceu a doação... Na sequência perguntou se os trabalhadores tinham ouvido falar a respeito da emboscada armada aos tugas. O mais velho respondeu afirmativamente. Deixou escapar um sorriso e emendou que muitos haviam morrido na ação, inclusive um jovem de uma aldeia vizinha.
O Comissário disse em tom de lamentação que sempre pediam aos angolanos que abandonassem as tropas imperialistas, pois o combate sempre podia resultar em mortes para qualquer lado.
O tipo mais velho explicou que outro nativo que vivia mais ao sul também morreu... Todavia fez questão de garantir que as maiores baixas foram entre os soldados brancos, e destacou que um deles era capitão.
As informações davam conta de que se tratava de certo capitão Lima e de que o exército ordenara à população a denunciar possíveis rastros dos guerrilheiros. O velho deu a entender que a comunidade não estava colaborando com os imperialistas.
O Comissário quis saber se eles, que haviam sido sequestrados na mata, tiveram de fazer algo por exigência dos tugas... O mecânico respondeu que foram interrogados e que em síntese as perguntas se referiam à quantidade de guerrilheiros, se identificaram o líder, sobre o que falaram e para onde se dirigiram...
O trabalhador disse também que lhes foram apresentadas várias fotografias para que identificassem os rebeldes. Como não reconheceram nenhum, os soldados se irritaram muito com eles.
(...)
O mecânico contou ainda que o exército havia infiltrado um homem da “PIDE” (que reunia agentes recrutados entre os nativos para o trabalho de investigação e perseguição de suspeitos de colaborarem com os rebeldes). Ele emendou que sabiam quem era o agente e que a área estava bem perigosa para os guerrilheiros.
Lutamos disse que já haviam cumprido sua tarefa e que estavam para se retirar. Na sequência, ouviram-se vozes de pessoas que passavam pela estrada... Logo que elas se afastaram, os guerrilheiros se despediram dos trabalhadores. Esses se retiraram com toda cautela da mata e também tiveram o cuidado de observar o caminho antes de retomarem seu trajeto.
Os três guerrilheiros seguiram os homens para se certificarem de que não voltariam à aldeia... Aguardaram por um tempo para conferir de que não os trairiam, e só depois disso é que retornaram à posição onde se encontrava o comandante Sem Medo.
(...)
O Comandante quis saber sobre como tinha sido o encontro e o Comissário explicou que tudo correra bem. Assim que informou que o mecânico ofertara o dinheiro ao MPLA, Sem Medo soltou uma perigosa gargalhada. Ele não pôde deixar de observar que haviam se arriscado muito para retornarem à Base “com o dinheiro no bolso”.
O Comissário respondeu que fizeram o que deviam fazer... O Comandante não discordou, mas salientou que havia sido cômico.
Na sequência, os guerrilheiros penetraram a densa floresta, afastando-se da área perigosa demais para eles. Por dez minutos almoçaram uns restos de sardinha... caminharam durante todo o dia e não pararam nem mesmo durante a noite.
O percurso era enlameado e isso provocava várias quedas. Valeram-se do sentido de orientação de Lutamos e, de fato, graças a ele, não se perderam. Depois de dezesseis horas de marcha, às dez da noite, chegaram à Base.
Sem Medo sequer dirigiu a palavra aos camaradas e tratou de acender um cigarro. Permaneceu encostado a uma árvore, a ouvir as narrativas do Comissários aos demais e a dar suas pitadas até queimar os dedos. Depois esquentou água, preparou um café e acendeu outro cigarro...
Uma vez na Base, teria tempo para comer algo mais tarde.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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