segunda-feira, 2 de julho de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – o comando discute a ideia do Comissário de devolver o dinheiro ao mecânico; o comandante e suas reflexões sobre a ansiedade dos mais jovens e a prudência dos velhos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/07/mayombe-de-pepetela-mais-uma-vez.html antes de ler esta postagem:

O Comissário estava preocupado com a repercussão negativa que o roubo do dinheiro do mecânico podia provocar entre os civis. Então sugeriu ao comandante que precisavam arranjar uma maneira de devolver o que havia sido expropriado. Ele mesmo iria à aldeia com outros dois camaradas para resolver a situação. Como que improvisando uma solução, disse que deixariam o dinheiro num papel e quem o encontrasse devolveria ao dono.
O Chefe de Operações manifestou que qualquer um que encontrasse se apropriaria do dinheiro. Assim, correriam um grande risco por nada de concreto. O Comissário percebeu que o outro não deixava de ter razão, então disse que poderiam ficar no caminho que sai da “sanzala”... Bem cedo o mecânico passaria por ele para trabalhar. Então seria o momento de abordá-lo para devolver-lhe o que era seu por direito. Pediriam desculpas e tudo se resolveria.
O Comandante não se mostrou convencido, pois adiantou que os caminhos próximos à aldeia deviam estar bem vigiados por tropas tugas. O Comissário deu a entender que os três podiam passar sem serem notados, mas o Comandante salientou que o mecânico poderia comunicar os soldados, e esses se organizariam pelos caminhos que dão para o Lombe.
O Comissário quis saber se Sem Medo tinha uma ideia melhor. Este respondeu que o melhor que tinham a fazer era “deixar cair” aquela preocupação, pois o risco que correriam era muito alto para pouca causa.
O Comissário simplesmente não podia aceitar aquela sentença... Então o Chefe de Operações se intrometeu explicando que o mais correto era ouvir o Comandante... O plano era muito arriscado! Além do mais, o que conseguiriam no final das contas?
Mas o Comissário manteve-se irredutível. Respondeu que os dois é que não entendiam o quanto aquela ação era importante. A impressão que o povo tinha a respeito da guerrilha era o que mais importava!
(...)
O Comandante estava fumando o seu primeiro cigarro do dia... Ouvia as palavras do Comissário e só pensava que lhe restava mais um cigarro que pretendia fumar no dia seguinte. Depois considerou para si mesmo que estava ficando velho, já que em outros tempos teria fumado sem se preocupar em manter reservas. Os velhos, e apenas eles, se preocupam em “repartir o prazer”.
Havia mais sinais de que estava ficando velho... Aos trinta e cinco anos!
Lembrou de ter ralhado com Muatiânvua pela ousadia de ter ficado para trás...
Será que era por estar ficando velho demais que não aprovava a iniciativa generosa do Comissário?
Aqueles riscos (tanto o de Muatiânvua quanto o do Comissário) eram prazeres de jovens que não querem “repartir do prazer”.
(...)
Sem Medo perguntou ao Comissário quem seriam os dois voluntários... Este respondeu que um teria de ser Lutamos, pois era o que melhor conhecia a mata.
Restava saber se os demais permaneceriam onde estavam para aguardar o seu retorno. O oficial garantiu que o Comandante e os demais podiam retornar à Base.
Novamente o Chefe de Operações manifestou sua oposição à operação. Para ele, havia muito perigo porque certamente os soldados inimigos deviam estar preparados para o contra-ataque. Além do mais, os camaradas podiam deixar rastros que indicariam a posição guerrilheira aos tugas. A gente do próprio povo podia fazer o mesmo!
De repente Sem Medo mudou sua opinião... Disse que seria interessante enviar seis homens... Três ficariam nas proximidades do trator destruído e os demais seguiriam para a aldeia. Para ele, os inimigos deviam estar bem ocupados com o sepultamento de seus mortos... Mas no caso de ocorrer um entrevero, os da retaguarda deixariam o ponto onde estavam e partiriam em socorro.
O Chefe de Operações mais uma vez posicionou-se contra a operação e lembrou que as provisões estavam no fim. O Comissário concordou e emendou que o melhor seria que partissem para a Base deixando o que sobrasse da comida para ele e os dois voluntários... Depois de dois dias se juntariam a eles.
Sem Medo respondeu que sua decisão era a definitiva... Ele e mais dois se posicionariam perto da aldeia para dar cobertura ao Comissário e os voluntários. Os demais seguiriam para a Base com o Chefe de Operações. Este quis se manifestar, mas foi impedido pelo próprio Comandante...
Também o Comissário questionou por que o Comandante tinha de se envolver na operação... Em resposta, Sem Medo devolveu-lhe a mesma pergunta querendo saber por que o Comissário tinha de tomar a frente na tarefa.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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