Vimos que o sintetizador de ânimo penfield era um aparelho muito importante para os que permaneceram no planeta... Ele podia ser ajustado pelo proprietário que, dessa forma, assumia o “estado de espírito” compatível com o seu interesse...
Enquanto Rick Deckard dedicava-se ao seu cotidiano trabalho de serviços prestados ao Departamento de Polícia de São Francisco como “caçador de recompensas” (eliminando androides inconvenientes – a esse respeito trataremos oportunamente), e assim garantindo o sustento e a esperança de juntar dinheiro para adquirir uma ovelha de verdade, sua esposa vivia num aparente marasmo ao passar os dias na solidão e se entretendo com o programa televisivo “Buster Gente Fina e Seus Amigos Gente Boa”.
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Vemos Decker preocupado com
a Iran... Ele entende que o “sintetizador de ânimos” pode ajudá-la, mas ela
mesma não pretende escolher nada que a estimule. O marido prosseguiu sugerindo
canais animadores (888, 3,...), porém o desejo de Iran se resumia a permanecer
sentada na cama olhando para o chão.
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“Ausência de afeto adequado”...
Iran descobrira no sintetizador penfield a possibilidade de manter-se
desiludida por algum tempo... Isso era algo que só podia fazer muito mal aos
remanescentes do planeta após a Guerra Mundial Terminus...
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Deckard aumentou o volume da televisão e a voz de Buster Gente Fina
preencheu o apartamento... Ele falava sobre a previsão do tempo anunciando uma “precipitação
radioativa” por volta do meio-dia... Iran aproximou-se, desligou o aparelho e
disse que escolheria alguma sintonia no penfield para que o marido a deixasse
em paz... Definidamente não queria ver TV... Disse que aceitaria até “um
orgasmo”...
Deckard posicionou o sintonizador de Iran em 594; ela
escolheu “criatividade e vigor no trabalho” para ele... É claro que o marido não
precisava desse “estímulo mental artificial”, pois dedicava-se com afinco
natural ao trabalho...
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Após o café, Deckard seguiu para o terraço coberto para observar a sua
ovelha elétrica... Ninguém poderia suspeitar sinceramente que o seu animal não fosse
natural... O bicho pastava e mascava a grama de tal modo que passava mesmo por
uma ovelha de verdade. Tinha até um circuito farejador de aveia!
Também era certo que ninguém se dispunha a bisbilhotar... Isso era algo
a que ele também não se sujeitava... Com a quase extinção dos animais, as
famílias apelavam para réplicas cada vez mais próximas da perfeição. De fato,
perguntar a respeito do animal de estimação do outro não era nada delicado.
(...)
A atmosfera do planeta era das piores que poderíamos imaginar... O sol
permanecia encoberto pela poeira e o ar era carregado de contaminação...
Deckard também possuía o seu protetor genital de chumbo (modelo Ajax da
marca “Mountibank”) e não era por acaso que não saía de casa sem ele... Mas nem
mesmo esse cuidado podia garantir proteção em meio à contaminada poeira... É
claro que ela já não era tão forte quanto fora à época que determinou o fim da
Guerra Mundial Terminus, ocasião em que eliminou os mais frágeis viventes...
Mas ela permanecia enlouquecendo pessoas e alterando suas genéticas... Os
riscos de contaminação eram imensos...
É por isso que todos deviam
se submeter aos exames regulares promovidos pelo departamento de polícia de São
Francisco... O diagnóstico era necessário para conferir se ainda permaneciam “normais”...
Isso era uma exigência da lei, que autorizava apenas os de quadro satisfatório
a se reproduzirem. Apesar de todo rigor, grande número de nascimento de “seres
especiais”, filhos de “pais normais”, ocorria.
“Emigre ou degenere!
A escolha é sua!”... Essa era a campanha do governo...
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Deckard pensava sobre essas coisas enquanto se
dirigia à ovelha e concluía que, apesar de todos os riscos, não podia deixar o
planeta por causa de seu trabalho... Ao chegar ao cercado, notou o vizinho
Barbour a pajear a sua égua Judy, de porte Percheron.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_21.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto