Havia sido criada uma poderosa arma: o Guerreiro Sintético da Liberdade. Androides aptos ao combate substituiriam eficazmente os soldados humanos nos campos de batalha... Mas aconteceu que com a catastrófica guerra terminus eles ficaram sem qualquer utilidade, então foram modificados para atender à necessidade do povoamento das colônias espaciais...
Por volta de 1990 havia tantos subtipos de humanoides que os que se habilitavam à emigração teriam imensas dificuldades para entender seus mecanismos e até de diferenciá-los em relação aos humanos...
A ONU estabeleceu que cada colonizador teria direito de escolher o tipo de robô humanoide que melhor se encaixasse em seu projeto no “novo mundo” ou que auxiliasse nas tarefas mais desgastantes...
Não há dúvida de que o incentivo impulsionou milhares de pessoas a optarem por deixar o planeta o quanto antes... Por outro lado, a Grande Poeira parecia cuidar de espantar a todos com suas precipitações radioativas. Permanecer na Terra era arriscadíssimo... De uma hora para outra o tipo podia deixar de ser ”normal” e tornar-se um “especial”.
(...)
Os que perambulavam pelo planeta corriam sério risco de contaminação...
A rigor, um tipo identificado como inaceitável biologicamente representava
séria ameaça ao futuro da raça humana... Sendo assim, além de não ter a menor
possibilidade de procriar, era classificado como “especial”...
É verdade que havia os que topavam a esterilização
para prosseguir o resto de seus dias exercendo alguma atividade... Mas era
certo que nada do que se desenvolvesse no cotidiano dos que potencialmente
(ainda) pudessem emigrar dizia-lhes respeito.
Apesar da evidente temeridade que a vida na Terra representava, muitos
“normais” decidiram permanecer... Vimos que esse era o caso de Rick Deckard e
da esposa Iran... O mais razoável teria sido a mudança, mas havia os que se
apegavam ao local que conheciam desde sempre... Não eram poucos os que
alimentavam a esperança de que a poeira definharia até o ponto de não mais
incomodar...
Os remanescentes acabavam se concentrando em logradouros onde havia
alguma possibilidade de encontrar semelhantes... Mas isso não era fácil, pois
condomínios residenciais e prédios inteiros se tornaram esvaziados...
Predominava o silêncio, a escuridão e o acumulado de “bagulhos”, objetos
abandonados pelos que migraram ou morreram, além de fragmentos que aos poucos
se desprendiam de paredes e móveis antigos.
(...)
É preciso ressaltar que as pessoas viviam andando de um lado para outro
em busca de alguma paragem onde pudessem se instalar... Todos fugiam das
precipitações tóxicas... São Francisco foi uma das primeiras localidades a
apresentar alguma condição para a acomodação... Então não foi por acaso que
muita gente afluiu para lá.
Esse foi o caso de John R. Isidore, um “especial” que decidiu permanecer
em São Francisco mesmo quando a poeira chegou vitimando ou expulsando a uns e
outros.
Teremos de tratar um pouco a respeito desse personagem.
(...)
Vemos Isidore iniciando o
seu dia (o único no qual a história se passa)... Ele faz a barba enquanto ouve
o anúncio da televisão a respeito do robô humanoide, que podia ser utilizado
como secretário pessoal ou “trabalhador rural incansável”... É claro que se
tratava de uma mensagem de incentivo aos “normais”, para que se decidissem
partir para as colônias de uma vez por todas... Isidore está no banheiro, mas
ouve nitidamente que o robô estava sendo apresentado como “companheiro leal e
descomplicado”...
J.R. Isidore não dá
atenção... De fato ele é bem limitado, mas devemos considerar que o que se
passa na tela não lhe diz respeito... Sua preocupação se limita a arrumar-se o
quanto antes para não chegar atrasado ao trabalho... É que ele não possui um
relógio que funcione, a televisão só lhe tem serventia na medida em que
informava a hora certa...
O aparelho prosseguiu tratando do aniversário da
Nova América, uma colônia norte-americana fundada em Marte.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_25.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto